Transformando desafios em oportunidades

Transformando desafios em oportunidades

Foi assim que Rodrigo Camargo superou os obstáculos que encontrou pelo caminho e construiu uma sólida trajetória pessoal e profissional

Aos 38 anos, Rodrigo Camargo ocupa o cargo de diretor comercial e de marketing de uma das principais incorporadoras e construtoras de Ribeirão Preto, a Perplan. Desde que chegou ao grupo, em dezembro de 2016, o executivo vem implementando um novo modelo de trabalho — focado na valorização do potencial da força de venda e na identificação das reais necessidades dos clientes — que contribui para a elaboração de estratégias de negociação mais agressivas e assertivas. Essa perspectiva diferenciada, de reconhecer e enaltecer o fator humano como um elemento essencial em qualquer atividade, foi lapidada a partir das vivências pessoais e profissionais de Rodrigo no decorrer dos anos, que vão muito além do mercado imobiliário.

Ainda na pré-adolescência, ele compreendeu a importância de se tomar decisões, de agir e de assumir as responsabilidades para alcançar objetivos, metas e sonhos. Atuando como atleta, frentista de posto de combustível, segurança, administrador, professor e corretor de imóveis, aprendeu a não esmorecer diante das adversidades e, com planejamento, disciplina, dedicação e o apoio de várias pessoas, conseguiu se capacitar, aguçar a criatividade e transformar os desafios que encontrou em oportunidades de crescimento. Na entrevista a seguir, Rodrigo compartilha alguns capítulos cruciais dessa trajetória, que podem servir para quem, nesse cenário de incertezas gerado pela pandemia, está em busca de motivação.

Você passou por várias funções até conquistar o posto que exerce atualmente, de diretor comercial e de marketing. Conseguiu tirar lições valiosas de cada uma delas?

Cada uma contribuiu, de alguma forma, para me trazer até aqui. A minha jornada como atleta, por exemplo, fez com que eu saísse da casa dos meus pais, em Ourinhos, com 11 anos. Jogava futebol pelo Atlético Ourinhense. Durante uma partida, um olheiro me convidou para fazer testes na Sociedade Esportiva Matsubara, time de Cambará, no Paraná, que tinha tradição em revelar atletas de potencial para o Brasil e o mundo nas décadas de 80 e 90. Depois de duas semanas de treinamento, fui aprovado e informado que, se quisesse integrar o elenco, teria de me mudar para o alojamento deles. Fiquei em choque, assim como a minha mãe. Eu era uma criança. Mesmo com medo, fiz de tudo para convencê-la, tendo meu pai como o meu maior incentivador. Jogar futebol era um sonho, uma paixão. Tudo o que eu tinha era relacionado ao esporte. Permaneci lá até os 15 anos, disputando diversos campeonatos. Estava 100% empenhado no que fazia. Quando entrava em campo, o meu objetivo era sempre ter um desempenho melhor do que o da partida anterior. Aprendi o valor da organização, da disciplina e do comprometimento. Isso fez com que eu me destacasse. Meu empresário me levou para São Paulo. Passei pelas categorias de base do Corinthians, do Palmeiras e do Noroeste, em Bauru. Acredito que, se tivesse persistido, teria encontrado oportunidades, porém, aos 18 anos, tive que tomar outra decisão importante. Com meu pai doente e a minha família em uma situação financeira delicada, acabei me questionando se fazia sentido continuar naquela carreira. Foi uma escolha difícil, mas optei por voltar para casa.

Como foi esse recomeço?

Eu queria ajudar a minha família, só que tinha um problema. Naquela época, sem os recursos tecnológicos que temos hoje, era inviável conciliar os treinos com a escola. Estava com 18 anos, na sétima série do Ensino Fundamental. A ideia de me dedicar aos estudos ganhou mais força quando recebi a notícia de que seria pai. Mesmo muito jovem, saber que teria um filho me trouxe a certeza de que eu precisava dar uma guinada na minha vida. Fiz o supletivo, concluí das disciplinas que faltavam em pouco tempo e, querendo manter meu vínculo com o esporte, prestei vestibular para Fisioterapia em uma Universidade Federal. O resultado foi ruim e, pelo alto custo do curso, deixei essa alternativa de lado. Consegui um emprego com carteira assinada como frentista de um posto de combustível. Não ganhava o suficiente, mas era um primeiro passo. O João nasceu, enchendo nossos corações de alegria. Seis meses depois, enquanto eu ainda desvendava esse novo universo, perdi meu pai. Ele tinha 47 anos. Tudo aconteceu rápido e fiquei extremamente abalado. Juntamente com a minha mãe, ele era um pilar na minha vida. Era amigo, companheiro, aquele que sempre me dava o suporte que eu precisava. O desejo dele era que eu fizesse uma faculdade, então, com o incentivo da minha mãe, prestei vestibular de novo e consegui a vaga para cursar, em Ourinhos mesmo, Administração e Marketing.

Contou com a ajuda de mais alguém nesse processo?

Sem dúvida e sou grato a todos que me ajudaram. Um deles foi um amigo de sala, que me indicou para trabalhar na empresa do pai dele, como segurança. Na faculdade, todos os meses, era uma luta para pagar a mensalidade, as despesas do bebê e os custos com moradia, alimentação e transporte. Com esse emprego, ganhava um pouco mais e tinha flexibilidade de horários para me dedicar ao João e aos estudos. Quando me atrapalhei com as contas e vi que teria que trancar o curso, falei com o coordenador, que também era meu professor. Ele não me deixou sair e disse que buscaria uma alternativa. Poucos dias depois, uma professora me procurou e explicou sobre o trabalho de iniciação científica. Ela me ajudou a elaborar o projeto, que foi aprovado e me deu uma bolsa de 75%, desde que eu mantivesse minhas notas acima de 9. Apesar de ter tido uma base ruim e de ter que gerenciar tantos compromissos, sempre fui esforçado. O meu ponto fraco era a matemática, mas, no condomínio em que eu trabalhava como segurança, tinha um professor que, gentilmente, esclarecia todas as minhas dúvidas. Por causa dele, acabei gostando da área de exatas. Graças a essa habilidade, consegui um estágio em uma usina em Jacarezinho, no setor de estatística, e depois passei a dar aulas sobre desenvolvimento pessoal. As portas se abriram e, em cerca de oito meses, fui promovido para o setor de suprimentos, primeira experiência que tive com vendas. Fui privilegiado por encontrar essas pessoas e soube honrar as oportunidades que elas me deram.

E de que maneira o mercado imobiliário entrou na sua vida?

Essa aproximação aconteceu por causa da minha esposa. Já estava separado da mãe do João fazia um tempo. Conheci a Valéria há 13 anos, em um feriado de Finados, na praia. Começamos a namorar no mesmo dia. O amor, no nosso caso, subiu a serra. Ela em São Paulo e eu, em Ourinhos. De 15 em 15 dias nos encontrávamos. Em determinado momento, a distância se tornou um problema. Ela tinha um cargo importante, como coordenadora de uma construtora da capital. Para estarmos juntos, o melhor era que eu me mudasse. Enviei vários currículos para vagas na minha área de formação, mas nada dava certo. Era difícil sair do meu emprego sem algo em vista. Frequentava com a Valéria alguns eventos de apresentação ou de entrega de empreendimentos e um dia questionei sobre o trabalho dos corretores de imóveis. Diante do meu interesse, ela conversou com a empresa, conseguiu uma entrevista e eu fui aprovado. Logo no início, senti que tinha nascido para isso. Fui crescendo aos poucos, entendendo e me apaixonando pela dinâmica da profissão. Comprei um apartamento, um carro e me casei em 2011. Passei, ainda, por algumas outras empresas que foram determinantes para que eu desenvolvesse o know-how que tenho hoje do mercado.

Por que veio para Ribeirão Preto?

Recebi uma proposta de trabalho da Perplan. Não tinha planos de sair do meu emprego, estava estável e confortável no aspecto financeiro, mas o contato foi tentador porque minha filha caçula, a Carol, era muito pequena. Eu e a Valéria estávamos cansados da correria do dia a dia e queríamos dar uma qualidade de vida melhor para a nossa família. Sabíamos que o interior poderia nos proporcionar isso. Ao ser apresentado ao projeto, fui atraído pela chance de fazer algo diferente e de ter autonomia para implementar uma filosofia na qual eu acredito. Vim para Ribeirão Preto em dezembro de 2016, como gerente comercial e, agora, ocupo o posto de diretor comercial e de marketing. Minha família veio logo em seguida. Há um ano, o João, com quem sempre mantive um relacionamento bem próximo e saudável, também veio morar comigo, porque pretende fazer faculdade por aqui.

Qual é a sua filosofia de trabalho?

Valorizo a força de venda. A Perplan é referência, uma marca consolidada, que conta com um banco de terrenos em localização privilegiada e produtos de qualidade. Só que, além de ser eficiente na parte técnica, ela precisa estabelecer uma comunicação assertiva com o público. É aqui que entra o profissional de vendas. Ele tem que estudar e se capacitar. Tem que ouvir o cliente identificar as suas reais necessidades e, com isso, montar um plano tático para apontar a melhor solução para cada demanda. O cuidado com os detalhes é o que conquista o cliente. A abordagem é fundamental para a concretização ou não do negócio. O processo de venda é um jogo de xadrez. Exige atenção e estratégia. Quando cheguei, a força de vendas da Perplan se restringia a uma imobiliária própria, que tinha sido criada fazia pouco tempo. Existia um clima de desconfiança entre as incorporadoras e o mercado. Minha tarefa foi restabelecer essa relação de credibilidade, de parceria. Lançamos campanhas agressivas de premiação, com motos, carros, viagens e valores em dinheiro. Com esses colaboradores ao nosso lado, podemos alçar voos mais altos. Quando era corretor, uma construtora, para promover seu empreendimento, estabeleceu uma meta de vendas bem ambiciosa. Se o objetivo fosse alcançado no prazo determinado, eles sorteariam um apartamento. Nunca vi tantas pessoas trabalhando com tanto afinco. Conseguimos e, entre 1.500 participantes, eu fui o sorteado. Isso me marcou demais. Essas ações geram a sensação de valor, de pertencimento e, consequentemente, estimulam o engajamento. Tenho replicado esse conceito por aqui, com ótimos resultados.

Essa proximidade foi mantida durante a pandemia?

Não só foi mantida como ficou mais forte. Poderíamos parar e esperar tudo isso passar na nossa zona de conforto, mas escolhemos seguir e acelerar. Estivemos presentes o tempo todo, oferecendo treinamentos, fazendo lives sobre vários temas relevantes, dando o suporte necessário para que a nossa força de vendas tivesse tranquilidade e não se enfraquecesse. Todos os meses batemos nossa meta. Vamos fechar este ano cerca de 30% acima do que tínhamos previsto antes da pandemia. Ao analisar minha trajetória até agora, acredito que o maior aprendizado que tive foi encontrar, em meio das dificuldades, oportunidades.

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