Um olhar para a acessibilidade
Mercado imobiliário enxerga a importância do fácil acesso nos empreendimentos e já vê novas oportunidades de negócios
A mobilidade é um fator indispensável para a participação do homem na vida em sociedade. Ir e vir quando quer e para onde quer é um direito fundamental. Em cidades como Ribeirão Preto, a mobilidade afeta todas as pessoas independentemente das classes sociais. Alguns sofrem mais para se locomover, como as pessoas com necessidades especiais e idosos. Calçadas esburacadas, desniveladas, transporte coletivo precário, entre outras coisas, atrapalham — e muito — a locomoção dessas pessoas. A acessibilidade é precária não somente em locais públicos, mas também na privacidade de suas casas. Escadas, banheiros apertados e móveis mal colocados, por exemplo, podem atrapalhar o acesso de pessoas cadeirantes.
Hoje existe no Brasil uma preocupação maior com a acessibilidade de pessoas com dificuldade de locomoção. A acessibilidade ainda engatinha no país, enquanto nos países europeus já se discute conceitos mais abrangentes de mobilidade e acessibilidade. Porém, o mercado imobiliário em crescimento está fazendo com que as construtoras ofereçam mais opções de adaptação para imóveis ou projetos que já contemplem o livre acesso às pessoas com mobilidade reduzida.
Segundo o presidente da União das Pessoas com Deficiência de Ribeirão Preto (UNIPED-RP), Eduardo Martins Souza, a maior dificuldade das pessoas com algum tipo de restrição de mobilidade é o acesso ao banheiro e corredores muito estreitos.
O Código de Obras de Ribeirão Preto já obriga que os banheiros tenham portas com 80 centímetros de largura, ao invés dos usuais 60 centímetros. Estes 20 cm a mais são fundamentais para a entrada de uma cadeira de rodas, por exemplo. O arquiteto e urbanista da Secretaria de Planejamento de Ribeirão, José Antônio Lanchoti, prevê que o novo Código de Obras seja implantado no início do ano que vem. “Estamos trabalhando no Plano Diretor, e para não misturar os dois assuntos que são importantes, assim que o Plano for implementado, vamos nos concentrar no novo Código de Obras”.
Lanchoti disse também que o novo código abrirá para espaço para discussões de mudanças mais emblemáticas, como a adaptabilidade dos imóveis. “Queremos facilitar com isso a adaptação do imóvel para as necessidades do morador”, garante. A adaptabilidade é um conceito que já está em pauta nas construtoras. Garante, por exemplo, que o morador possa fazer mudanças no imóvel sem colocar em risco a integridade estrutural.
Segundo o arquiteto, o planejamento dos imóveis no Brasil caminha para o conceito de desenho universal, que é aquele que garante a igualdade e a versatilidade, abrangendo qualquer que seja a necessidade do usuário.
As construtoras já estão se adaptando à nova realidade. Para a diretora de Planejamento da Habiarte, Teresa Cristina de Souza Lima, cada cliente tem um tratamento especial. “Os clientes são encaminhados para o Setor de Personalização, onde é verificada cada necessidade do comprador”. Visão compartilhada com Fernanda Hakim Trad Defendi, gerente Comercial e de Marketing da Stéfani Nogueira Incorporação e Construção. “Durante a abordagem com o cliente, conhecemos o perfil e fazemos o possível para atendê-lo”.
Segundo Fernanda, a construtora vai lançar no segundo semestre um empreendimento que vai oferecer nas próprias plantas opções de facilidades para o público com mobilidade reduzida. Fernando Berto, diretor comercial do Vitta Residencial, da mesma forma anunciou o lançamento de um condomínio de seis torres, sendo uma delas totalmente adaptada para as necessidades das pessoas com mobilidade reduzida. “Esta torre terá elevador e adaptações nos apartamentos, ao contrário das outras torres”, conta.
Essa nova postura das construtoras, tanto oferecendo adaptações nos imóveis na hora da compra, quanto vendendo imóveis já adaptados, aponta uma mudança de posicionamento do mercado em relação à demanda. O que antes era visto como entrave no ganho de escala das construtoras, hoje é visto como um nicho de mercado a ser explorado.
Revide Online
Texto: Brunno Vogah (Colaborador)
Fotos: Carolina Alves e Arquivo Revide