Uma tarefa desafiadora

Uma tarefa desafiadora

Por falta de conhecimento das etapas do desenvolvimento infantil e suas respectivas necessidades, muitos pais acabam sentindo medo, ansiedade e culpa em relação à educação dos filhos

Mãe de três filhos, Tuani, Bella e Lucas, a psicopedagoga e diretora escolar Marluce Sacilotto atuou com pedagogia curativa e terapia social durante muitos anos. Há três décadas, desde que a primeira filha nasceu, ela busca conhecimento e atua na prática da Educação de crianças. Em 2015 surgiu a oportunidade de inaugurar a Bela Líria, para atender a necessidade de famílias em busca de um trabalho sustentado na Pedagogia Waldorf e, desde então, vem se dedicando a este projeto. Na entrevista a seguir, Marluce compartilha um pouco de todo conhecimento adquirido nesta trajetória, do aprendizado e da prática na formação de crianças para a vida.
 

Educar e criar os filhos ‘não é uma tarefa fácil’, dizem. Como cometer menos erros nesta tarefa?

Realmente, educar é um desafio constante, pois exige muita dedicação, criatividade e persistência naquilo que a gente acredita como um caminho saudável para nossos filhos É uma tarefa à qual temos que nos dedicar muitos anos, exige abri mão de muitas vontades próprias. É um ato de doação constante e uma das formas de cometer menos erros é buscar conhecimento, fazer leituras sobre as diferentes fases porque a criança passa, fazer trocas de informações com outras famílias, tudo isso ajuda muito a esclarecer se estamos no caminho certo.
 

O que percebe que mudou na Educação ao longo das últimas três décadas?

Noto que, apesar do acesso às informações estar muito mais acessível, disponível de diferentes maneiras, educar os filhos ficou mais difícil, porque estamos nos distanciando do simples, que é ter uma família presente e com tempo de qualidade para a criança. 
 

Quais princípios considera essenciais para uma Escola, independentemente de metodologia?


Toda escola precisa ter um ambiente onde a criança possa ter contato com a natureza, alimentação saudável, em que possa desenvolver a criatividade e ter seres humanos presentes. O espaço físico é essencial, a criança passa grande parte da sua vida dentro da escola, então ela precisa ter a oportunidade desse contato com a natureza e o cuidado com a alimentação é indispensável para o seu desenvolvimento físico Além disso, ter profissionais preparados para auxiliar a criança no seu processo de conhecimento, aptos a conduzi-la neste processo de aprendizagem Sem esse tripé algo vai ficar faltando e as consequências aparecerão. São condições que auxiliam a criança a ter um bom desenvolvimento do pensar, da sua criatividade e da sua vida social que garantirão à ela ter um maior equilíbrio emocional na juventude e na vida adulta.
 

Houve-se muito dizer “escola tradicional” e “escola Waldorf”, o que isso, realmente, significa?

São metodologias diferentes. A pedagogia Waldorf presa por um ensino humanizado e que respeita o processo de desenvolvimento da criança. Ela acredita que cada criança é única e passa por estágios de desenvolvimento específicos, por isso, os educadores precisam se adaptar a esses estágios, atendendo as necessidades individuais de cada um. É uma metodologia que tem um profundo respeito pelo processo de desenvolvimento, tanto em grupo quanto individualmente. E a partir do momento em que é respeitado o tempo de cada criança, isso gera maior segurança para ela ir desenvolvendo naturalmente suas habilidades sociais e emocionas.
 

Em resumo, quais as fases do desenvolvimento infantil e ao que é preciso estar mais atento em cada uma delas?

O primeiro setênio (0 -7) corresponde ao nascer físico, onde a criança vai criando a consciência do Eu, é a fase do “mundo é bom”, onde a relação com a família se destaca. O segundo setênio (7-14) corresponde ao nascer emocional onde acontece a vivência do Eu, é a fase do “mundo é belo” onde a relação com a escola é fortalecida. O terceiro setênio (14-21) corresponde ao nascer da identidade, onde a afirmação do Eu acontece, é a fase do “o mundo é verdadeiro”, onde a relação com os amigos é mais forte. Nestes três primeiros setênios o ser humano vivencia o aprender, a educação receptiva e o amadurecimento biológico. Tudo isso precisa estar muito claro para os pais, é preciso aprofundar nesta compreensão, para auxiliar a criança a atravessar cada fase. 
 

Sobre os papeis da Escola e dos Pais na Educação das crianças, acredita que eles andam misturados na atualidade?


A sinergia é indispensável no processo de aprendizagem, senão a criança fica confusa, por isso, a escola e a família precisam estar de comum acordo sobre a Educação apresentada como modelo. A partir do momento em que a família escolhe uma escola, ela precisa confiar de que isso é o melhor para seu filho e quando isso acontece é nítido o desenvolvimento saudável da criança. 
 

Entre as falhas mais comuns de pais com filhos, tipo permissividade ou desatenção, qual considera mais grave e por quê?


O que mais estamos tendo atualmente são pais permissivos, porque se sentem culpados por não estarem presentes a maior parte do tempo e isso é algo muito grave, pois a criança precisa viver a frustração para saber lidar com ela mais tarde na vida adulta, a criança precisa ouvir nãos. 
 

Muitas vezes, é difícil para os pais perceberem que estão falhando na Educação dos filhos, como podem “se dar conta” disso?

A própria criança sinaliza que os pais estão falhando com ela. Isso pode ser constatado através de birras, sono agitado, alimentação desregulada e, muitas vezes, essa falha chega até o ponto de a criança bater nos pais. Não se pode negligenciar a postura de adulto. A criança precisa perceber que tem um adulto conduzindo sua educação, pois nessa relação o adulto é quem detém do discernimento para as melhores escolhas para a criança. 


Foto: Luan Porto

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