Venda certa
E-commerce no Brasil registra maior crescimento durante a pandemia e abre espaço para a criação de novos canais digitais de vendas em Ribeirão Preto
As compras on-line registraram o maior salto no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus. Não faltam pesquisas de mercado quem constatam essa expansão: a Câmara Brasileira da Economia Digital afirma que o crescimento do faturamento no comércio on-line foi de 122% em 2020; a empresa Neotrust aponta que, no pico da pandemia em 2020, 5,7 milhões de clientes realizaram a primeira aquisição pela internet; e a Mastercard Brasil mostra que 46% dos brasileiros aumentaram o volume de compras nos meios digitais no ano passado.
Apesar de não existir um estudo regional, o avanço desse mercado em Ribeirão Preto fica claro com a criação de novos canais digitais de vendas no município. Em junho de 2020, entrou no ar o app Varejo+, que vinha sendo desenvolvido há três anos pelo Sindicato do Comércio Varejista de Ribeirão Preto (Sincovarp). “Já sabíamos que era preciso oferecer soluções de e-commerce para o comércio varejista, em especial aos micro e pequenos empresários. A pandemia apenas potencializou essa necessidade. Conectamos lojas que precisam vender mais com consumidores que querem pagar menos e, ainda, promovemos a transformação digital no varejo, bem como estimulamos a economia local”, explica o presidente do sindicato, Paulo César Garcia Lopes.
Um aplicativo de descontos foi a primeira fase da plataforma. Agora, na segunda etapa, entra no ar o “marketplace”, oferecendo uma loja virtual gratuita para o lojista, que será treinado para o melhor aproveitamento da ferramenta, sem custo, segundo o Sincovarp. “Tivemos mais de 4 mil downloads do app, 200 lojas cadastradas, mais de mil cupons de descontos disponibilizados. Oferecemos alguns caminhos aos lojistas e um dos nossos principais desafios é incentivar o cliente de Ribeirão Preto e região a comprar das empresas e lojas locais. Por isso, já estão programadas novas fases para a expansão do projeto”, destaca Paulo, que reitera a disponibilidade gratuita do app para usuários de Android e IOS.
Para o empresário Paulo Henrique dos Reis Silva, a venda on-line é um caminho sem volta. Desde 2006, a loja Bike Center faz vendas virtuais, mas a pandemia expandiu significativamente esse nicho, segundo o diretor. Além do próprio site para vendas, a loja também está no Varejo+, do Sincovarp. “Houve um aumento grande nas vendas do e-commerce para dentro de Ribeirão Preto, mesmo. Antes, compravam pelo nosso site mais clientes de fora. A maioria dos clientes também teve de se readaptar na forma de comprar. O acesso ao nosso site teve um aumento grande e percebemos que isso veio para ficar. Agora, mesmo uma pessoa que não tinha costume de comprar ou pesquisar pela internet foi ‘forçada’ a se adaptar ao esse novo modelo”, explica o diretor. Ele ainda completa que as vendas on-line representam 40% do total vendido na Bike Center hoje.
PONTE SEGURA
Também com o objetivo de fazer uma ponte entre quem quer comprar e quem quer vender e promover uma transformação digital nas relações de comércio local, a Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), lançou, em dezembro de 2020, o PromoRibeirão. “Era um projeto em desenvolvimento há dois anos. Por conta da necessidade que veio com a pandemia, fizemos um estudo profundo no segundo semestre de 2020 e colocamos a plataforma no ar com esse objetivo de encurtar distâncias, para que o empresário tenha condições de venda”, pontua Carlos Ferreira, gestor de Comunicação, Marketing e Eventos da Acirp.
Ele conta, também, que a plataforma foi disponibilizada aos consumidores em fevereiro e já são 210 empresas cadastradas, 303 usuários e 108 ofertas. “Esse resultado nos surpreendeu muito. Até porque foi um processo orgânico, ainda não fizemos uma grande campanha para divulgar o serviço”, destaca. A dificuldade de alguns empresários, principalmente os pequenos, em entrar no universo das vendas digitais é uma das razões para o sucesso da ferramenta. “Para muitos empresários, essa entrada no mundo do e-commerce era um problema, e não uma solução de vendas. Muitos micro e pequenos negócios não têm tempo e nem profissionais disponíveis para se dedicar ao desenvolvimento dessas soluções. Por isso o PromoRibeirão é um facilitador para o empresário nessa transformação digital. Para a Acirp, não há benefício comercial, pois não há custo nenhum a quem se inscreve, inclusive quem não é associado da associação”, explica Carlos.
No aplicativo, que pode ser baixado gratuitamente na Apple Store e na Play Store, os lojistas conseguem disponibilizar promoções e ofertas para os clientes. A compra dos produtos não é feita dentro da ferramenta, mas diretamente entre a loja e o consumidor. A meta inicial é chegar a 150 ofertas disponíveis no app nos próximos meses. “A entrada no digital é tendência do mercado, principalmente na atual situação. Quem não entrar será atropelado”, conclui.
Luiz Henrique Brandani Picinato, gerente comercial da SBS, que atua no ramo de peças e acessórios para motos em Ribeirão Preto, conta que as vendas on-line começaram em 2020, mas ganharam destaque durante os meses mais restritivos da pandemia, com avanço de até 40%.
A empresa já tinha seu próprio canal de e-commerce, no portal da SBS, e expandiu a atuação para outros canais, como o aplicativo da Acirp. “Entramos para fortalecer essa área e conquistar novos clientes. A venda pela internet teve um excelente crescimento no ano passado. Não é maior do que as vendas físicas, mas teve uma participação importante, principalmente com o delivery”, conta. O gerente destaca que esse canal de vendas se consolidou, mas que não deve substituir o comércio físico. “É uma tendência, mas o mercado vai seguir com as vendas na loja, isso não vai acabar”, finaliza.
Adaptações
Além de pequenos e médios negócios que precisaram se adaptar para entrar nesse mercado digital, grandes marcas, que já tinham uma presença forte no e-commerce, também passaram por transformações durante a pandemia.
O Boticário, por exemplo, que já possuía até aplicativo para smartphones, lançou soluções digitais para aprimorar os canais virtuais. “Com o fechamento do comércio no início da pandemia e a sensibilização para as pessoas ficarem em casa, houve um reforço da operação do e-commerce, com um blog e iniciativas para que os clientes pudessem comprar de forma virtual os produtos da loja física mais próxima ao seu endereço com segurança. Essa experiência se tornou possível com o lançamento do nosso WhatsApp oficial, unindo a inteligência virtual e o varejo físico”, explica Gustavo Fruges, diretor de comunicação e marca da rede.
Ainda segundo o executivo, a rede ampliou os esforços para atender às demandas do consumidor fora do varejo convencional, com o grande desafio de transferir para o meio digital a experiência das lojas físicas. “Desde o lançamento, em abril de 2020, a plataforma do WhatsApp vem crescendo diariamente e já conta com a adesão de 87% dos franqueados. Nos períodos de maiores restrições no comércio, o total das vendas por WhatsApp chegou a representar quase 30% da receita das lojas”, descreve Gustavo. Ele ainda ressalta que o mercado de Ribeirão Preto seguiu a performance e a tendência do Brasil nas vendas on-line. “A ferramenta que une a inteligência virtual e o varejo físico se tornou um canal relevante para garantir que as lojas continuassem atendendo, mesmo que virtualmente”, conclui.
