Vestibulandos vencedores

Vestibulandos vencedores

O professor de redação e consultor educacional Fábio Itasiki deu dicas para vestibulandos se prepararem para as provas do segundo semestre, em especial, o Enem

Fábio Itasiki, professor de técnicas de redação e consultor educacional, entende que passar em um vestibular vai muito além de assinalar alternativas e somar pontos. E, além disso, que esses pontos podem resumir toda a trajetória de um estudante. Se preparar para vestibulares, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), exige comprometimento do aluno, tanto com seus momentos de estudo, quanto com os momentos de lazer e descanso. O papel da família no apoio também é indispensável. As provas do Enem em 2023 serão aplicadas nos dias 5 e 12 de novembro. Antenado às novas tecnologias e com um conhecimento profundo desse tipo de prova, Fábio Itasiki deu dicas valiosas para os vestibulandos. Itasiki assina o blog “Vestibulandos Vencedores”, no portal Revide.

 

Quais dicas daria para que o aluno consiga organizar uma rotina produtiva de estudos, mas que ele ainda mantenha a qualidade de vida?

 

A rotina produtiva de estudos varia muito e deve ser personalizada. Por exemplo, alguns alunos sentem-se mais confortáveis prestando atenção às aulas e resolvendo exercícios. Outros, anotando e depois elaborando mapas mentais. A grande realidade é que, independente da metodologia de estudos adotada, o aluno deve manter as bases do processo escolhido e a regularidade, a frequência. Essa forma de estudar deve ser testada através de provas e de simulados, com objetivos e metas pré-estabelecidas. Antes de organizar os estudos, de abrir a agenda, deve-se pensar no que é ‘inegociável’ na vida: é a academia? O almoço na casa dos avós? Aniversário de familiares? Assistir às séries? Descansar nos finais de semana? Esses compromissos devem ser colocados em uma ordem de importância e necessidade, a fim de ser possível agendar a maioria dos compromissos, desde que com ponderação, equilibrando vida estudantil e pessoal.  

Como equilibrar a rotina de estudos para as provas escolares e os vestibulares?

 

Hoje, existe uma linha de pensamento sobre os estudos para as provas do dia a dia e para os exames vestibulares. De modo geral, o estudante que não consegue boa performance nas provas semanais, mensais ou bimestrais, dificilmente consegue desempenhar bem nos vestibulares. No meu blog, no portal da Revide, fiz uma provocação: pedi para o leitor, para o estudante, marcar um amigo que repetiu o terceiro ano do Ensino Médio. Pedi também para marcar um amigo que passou em um vestibular. As quantidades são diferentes, o que pode mostrar um caminho.

 

Nota alguma diferença ou impacto no pós-pandemia na rotina de estudos e ritmo dos vestibulandos?

 

O educador Cícero Apolinário dos Santos tem um pensamento que sintetiza uma resposta ponderada sobre a questão: ‘a pandemia já foi, o estudante não pode usar mais a Covid como uma muleta que o impede de estudar. Se a pessoa tem saúde, ela deve lutar para aprender’. Refletindo sobre a questão e observando as turmas de formandos, acho que poderia analisar sob o seguinte prisma: os alunos que se formaram em 2021 perderam boa parte de Ensino Médio. Hoje, a convivência social, a transmissão do conhecimento e a rotina de estudos estão normalizadas. É desculpa atribuir ou creditar o fraco desempenho escolar somente à pandemia. 

 

Em seu blog no portal Revide, o senhor dá dicas de como aprimorar a redação com uma referência ao seriado Star Trek. Como isso funciona?

 

Essa é uma referência engraçada. O que aconteceu com o texto de abertura do seriado Star Trek, que aqui no Brasil ficou conhecido como Jornada nas Estrelas, foi interessante, pensando em produção textual, tempo e criatividade. O criador da série, Gene Roddenberry, teve que escrever um texto de abertura que seria narrado pelo ator William Shatner, com duração de 15 segundos. E aí começa a troca de ideias, termos específicos e adaptações do texto, conforme narra o portal quadrinheiros.com: ‘estranhos novos mundos’, ‘vida alienígena’ e ‘tripulação audaciosa’ são expressões que seriam usadas nessa abertura. Mas o tempo e o prazo apertado – tanto quanto no dia do vestibular – fez o texto ‘ficar pronto’. Ficou perfeito? Nem sempre fica. Então, o aluno tem que pensar que a perfeição textual é o melhor que se pode fazer, usando todo seu conhecimento, dentro do tempo que é oferecido.

 

Qual é o papel da família no apoio ao vestibulando?

 

O apoio da família é a base para o sucesso nos estudos e na vida. Às vezes, os pais tentam ajudar os filhos, mas não conhecem as ferramentas mais adequadas para isso ou não desenvolveram, ao longo da vida, uma linha de comunicabilidade com os filhos. Então, na hora do vestibular, tudo parece cobrança, desespero. E isso acontece porque até o final do Ensino Médio, os pais sabem que podem escolher a escola dos filhos, no sistema público ou particular. A partir do Ensino Superior, são os filhos que devem dar conta de conseguir uma vaga na universidade. Essa falta de poder para resolver a vida dos filhos traz, muitas vezes, frustração, impotência e perda de paciência. Contudo, o carinho da família, o amor dos pais, é um combustível para o vestibulando conseguir alcançar o sucesso.

 

Quais são as principais mudanças e atualizações esperadas para o Enem 2023 e como elas impactarão na preparação dos estudantes?

 

O Exame Nacional do Ensino Médio de 2023 ainda seguirá as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ou seja, será uma avaliação com os mesmos componentes que já foram apresentados em outras edições. A questão está no Enem 2024, pois será o primeiro depois de implantado o Novo Ensino Médio. O Ministério da Educação (MEC) prorrogou a consulta pública para avaliação e reestruturação da política nacional de Ensino Médio. Até 6 de julho, estará disponível para a comunidade escolar e interessados um formulário com 11 perguntas e afirmativas, além de espaço para comentários. Depois das novas diretrizes que o MEC apresentar para o segundo semestre de 2023 e para 2024, poderemos ter melhores diretrizes para os estudos dos alunos. Só então poderemos saber o que e, principalmente, como estudar para o Enem e exames vestibulares.

 


Como o uso de tecnologias e recursos digitais pode auxiliar os estudantes na preparação para o Enem 2023?

 

As novas tecnologias estão presentes para auxiliar os estudantes de forma positiva e, se bem utilizadas, são ferramentas fundamentais para o desempenho dos vestibulandos. Se formos pensar, todos os movimentos para se cadastrar no Enem são executados com recursos digitais: cadastro do portal do governo. O Chat GPT, que é uma das mais famosas Inteligências Artificiais (IAs) – lembrando que Alexa, Siri e outros aplicativos também são IAs –, pode e deve ser utilizado pelos alunos, em casa ou nas salas de aula. Porém, o papel do professor como orientador ficou ainda maior, com a necessidade de não apenas ser um facilitador, mas de ser um tutor do conhecimento. Isto posto, é necessário investimento em tecnologia e em treinamento de pessoal. O investimento em pessoas deve ser tão intensivo quanto em equipamentos, programas e tecnologia.

 

Quais pontos destacaria que diferem a prova do Enem de outros vestibulares?

 

Com a chegada do Enem em 1998, inicia-se um novo ciclo em relação ao acesso à faculdade, ao Ensino Superior. Se não no começo, o Exame Nacional do Ensino Médio acabou se tornando uma grande porta de entrada para a universidade, oferecendo acesso através do Sisu. Em relação às provas, podemos até afirmar que o Enem é uma avaliação mais simples, com pouca intertextualidade, mais interpretativo que conteudista. A Fuvest, por exemplo, na edição passada, apresentou uma questão que envolvia conceitos da Química, da Língua Inglesa e de Linguagens, e a tendência é termos mais interdisciplinaridade com o Inglês nos próximos anos. Além disso, a própria dinâmica, a estrutura da produção textual no Enem é mais básica do que nos exames vestibulares, o que proporciona ao aluno uma redação mais ‘mecanizada’, até mesmo pelos critérios de correção do Inep. 

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