6 mitos sobre o câncer desvendados por especialistas

6 mitos sobre o câncer desvendados por especialistas

Para ajudar a esclarecer alguns mitos sobre a doença, médicos respondem às principais dúvidas que surgem nos consultórios

Dados recentes indicam que, ao longo da vida, um a cada cinco homens e uma a cada seis mulheres desenvolverão câncer, de acordo com o GLOBOCAN 2018, estudo liderado pela International Agency for Research on Cancer, que estima a taxa de incidência da doença em diferentes regiões do mundo. Só no Brasil, considerando levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), 600 mil brasileiros deverão receber o diagnóstico da doença este ano.

Diante dessa realidade, os especialistas são taxativos: a informação ainda é a ferramenta essencial para o combate à doença e diagnóstico precoce de tumores malignos entre a população em geral. É frequente, todavia, que graças às facilidades promovidas pela comunicação por meio da tecnologia e do uso de ferramentas de busca na internet que boatos sobre as principais causas de câncer se espalhem rapidamente e passem a ser tidas como verdades absolutas, mesmo que não contem com qualquer tipo de fundamento científico.

Do uso de desodorante e do celular ao açúcar, muitos são os vilões apontados como grandes responsáveis pelos índices de casos da doença na atualidade. Para ajudar a esclarecer alguns desses mitos, seis especialistas respondem às principais dúvidas que surgem nos consultórios:

Desodorante pode causar algum tipo de câncer

Há alguns anos acreditava-se que determinados ativos - como os sais de alumínio usados na formulação de alguns desodorantes, pudessem aumentar o risco de desenvolvimento do câncer de mama. No entanto, nenhum dado da literatura, até o momento, comprovou esta relação.

É de extrema importância o uso de desodorantes, pois o calor, a umidade, o atrito de tecidos e da própria pele podem deixar as axilas mais expostas a lesões locais. Portanto, a utilização diária do produto ajuda a manter as axilas secas, evita a sudorese intensa, previne o mau odor e a formação de doenças de pele, bem como a inflamação do folículos por onde nascem os pelos e até manchas, explica Cristiane Mendes, oncologista do InORP/Grupo Oncoclínicas.

Açúcar alimenta o câncer

O açúcar é fundamental para as células humanas realizarem seus processos metabólicos e o mesmo acontece com as células cancerígenas, mas isso não quer dizer que o açúcar cause ou até mesmo alimente o câncer.

O problema do açúcar é que, se consumido em excesso, pode aumentar a chance de o indivíduo se tornar obeso e a obesidade é um grande fator de risco para o desenvolvimento do câncer. Estima-se que esse fator aumente em 20% o risco da doença, afirma a oncologista clínica Cintia Elaine Nascimento Givigi, do Centro Capixaba de Oncologia (CECON).

A dieta saudável é aquela que todos nós conhecemos, rica em alimentos integrais, verduras, frutas, proteínas de carne branca, em que também se limita o consumo de carne vermelha, álcool e carnes defumadas e processadas.

Vacinas podem causar câncer

Existem diversos boatos que algumas vacinas são capazes de causar o câncer, mas além de não provocar, algumas são capazes até de prevenir a doença. Um exemplo é a vacina contra o HPV, vírus responsável por 90% dos casos de câncer de colo de útero. A vacina contra hepatite B, que pode ser tomada no início da vida, também é capaz de prevenir casos de câncer de fígado.

As vacinas estimulam o sistema imunológico, fazendo com que o corpo humano fique imunizado contra diversas doenças infecciosas. Não há qualquer relação com o desenvolvimento de câncer, explica Silvia Fontan, oncologista da Oncoclínica Recife.

Poluição causa câncer de pulmão

Já existe uma série de estudos que evidenciam uma associação entre conviver com a poluição e o risco aumentado de câncer. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já estimou também que a poluição urbana do ar foi associada com a ocorrência de 227 mil mortes de câncer no mundo em 2012.

É claro que a qualidade do ar é uma questão de saúde pública e que deve ser melhorada, mas a oncologista Mariana Laloni, do Centro Paulista de Oncologia (CPO) afirma que apesar de já ver no consultório pessoas não fumantes com câncer de pulmão, o cigarro continua sendo o maior fator de risco. Em termos de atitudes que as pessoas podem fazer, a melhor indicação é largar o tabaco e manter um peso saudável, complementa.

Protetor solar é tóxico

Depois que algumas pesquisas alegaram que substâncias presentes no protetor solar, como o oxibenzona, podem causar reações alérgicas e até mutações no DNA, difundiu-se a ideia de que não usar protetor poderia ser mais seguro para a pele.

Adriana Scheliga, oncologista da Oncoclínica Centro de Tratamento Oncológico, no Rio de Janeiro, comenta que os resultados desses estudos ainda são controversos e que há outros levantamentos que comprovam o contrário, que o uso diário de protetor solar reduz o risco de câncer de pele. Já sabemos que mais de 70% da população brasileira não aplica o filtro solar diariamente. Parar de recomendar o seu uso sem pesquisas fundamentadas seria imprudente, conta.

A sugestão do especialista é buscar por opções que utilizam fórmulas que tenham certificação de qualidade e evitar a exposição excessiva e constante aos raios solares.

Radiação do Celular, microondas e Wi-fi aumenta o risco de tumores

Não é de hoje que o boato de que a radiação presente em alguns aparelhos tecnológicos pode causar câncer. Até o momento nenhum estudo conseguiu encontrar uma associação entre essa exposição e o aumento do risco de câncer, isso porque esses aparelhos utilizam a radiação não-ionizante, ou seja, possuem uma energia muito fraca.

As evidências atuais não demonstram que utilizar o celular ou qualquer outro desses aparelhos provoque danos ou alterações clinicamente significativas no DNA das células. Assim, é precoce para tentar relacionar essas radiações com o desenvolvimento do câncer, afirma Elge Werneck, oncologista do Instituto de Hematologia e Oncologia de Curitiba (IHOC). O especialista, contudo, explica que deve existir uma preocupação com a exposição excessiva à radiação UV e raios-x, presente em lâmpadas de vapor de mercúrio, lâmpadas de bronzeamento, luzes negras e no sol.


Foto: valelopardo para Pixabay

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