Abacaxi e laranja têm forte presença de agrotóxicos, aponta pesquisa

Abacaxi e laranja têm forte presença de agrotóxicos, aponta pesquisa

Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Anvisa divulgou os resultados de levantamento que analisou amostras coletadas em supermercados

O abacaxi e a laranja foram as culturas com maior número de amostras com potencial de risco agudo segundo os resultados do 'Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para)' no ano de 2023 realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e divulgado no final do ano passado.

 

O programa avalia a presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos e o seu potencial de risco para a saúde humana. As amostras são coletadas nas prateleiras dos supermercados de todas as regiões do país e analisadas em laboratórios especializados, que utilizam métodos científicos reconhecidos internacionalmente.

 

O relatório aponta potencial de risco agudo e de risco crônico, ou seja, o quanto os resíduos de agrotóxicos identificados podem ser perigosos para a saúde humana. O risco agudo é o risco de danos à saúde pelo consumo do alimento em curto espaço de tempo, como uma refeição ou um dia de consumo do alimento; o risco crônico avalia o consumo diário, por toda a vida, de diversos alimentos com resíduos de agrotóxicos e considerando o perfil de consumo no Brasil.

 

Em 2024, a dissertação de mestrado da técnica especializada Kelly Cristina Magnani, do Laboratório de Processos Químicos e Tecnologia de Partículas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), apontou a presença de dois agrotóxicos em amostras de laranjas e de sucos de laranja submetidos a ensaios.

 

O estudo analisou a presença de multirresíduos de pesticidas em alimentos cítricos por meio de técnicas cromatográficas – um dos compostos encontrados, o Dicofol, se destaca por ser um produto organoclorado utilizado no controle de ácaros e insetos que, recentemente, foi proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e adicionado à Convenção de Estocolmo devido à sua classificação como Poluente Orgânico Persistente (POP).

 

O Brasil é o maior produtor de laranja do mundo, responsável por mais de um quarto da exportação in natura e três quartos da exportação mundial de suco de laranja. Em 2021, o país produziu 16.214.982 toneladas de laranja, das quais São Paulo é o principal estado citricultor.  "Por conta de sua posição de destaque na cadeia agroindustrial, a segurança alimentar é item fundamental para o Brasil garantir a sustentabilidade produtiva, a competitividade de mercado e a qualidade na produção", afirma Manhani, que defendeu a dissertação de mestrado no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).

 

Para a realização da pesquisa, que teve como objetivo o estudo de uma metodologia para determinação de multirresíduos de agrotóxicos em alimentos cítricos, doze amostras de laranja pera (também conhecida como pera Rio, pera coroa ou simplesmente pera) foram coletadas em feiras livres, sítios e supermercados do Estado de São Paulo e nove amostras de suco de laranja integral produzidas no Brasil foram adquiridas em supermercados.

 

Os ensaios foram feitos no Laboratório de Processos Químicos e Tecnologia de Partículas, no Laboratório de Biotecnologia Industrial e no Laboratório de Química e Manufaturados do IPT. No preparo de amostras foram realizados estudos para comparar os métodos e verificar a eficiência de extração dos agrotóxicos da matriz e qual o mais adequado em relação à detecção do ingrediente ativo e o efeito matriz sobre o sinal do equipamento.

 

Em suas análises, Manhani detectou a presença do Dicofol em cinco amostras de suco de laranja, dentre elas um suco orgânico certificado; outro dos pesticidas encontrados, o Clorpirifós, está atualmente sob reavaliação da Anvisa e de outros órgãos internacionais do Canadá e Austrália, sendo que nos EUA foi proibido em 2022. O motivo da nova avaliação são aspectos toxicológicos como mutagenicidade e toxicidade para o desenvolvimento, especialmente a neurotoxicidade, encontrados em estudos recentes.
 


Foto: Freepik (imagem ilustrativa)

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