Anti-inflamatório pode salvar da morte vítimas de escorpião

Anti-inflamatório pode salvar da morte vítimas de escorpião

Os experimentos demonstraram que é possível tratar as pessoas envenenadas, por meio da Indometacina

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto descobriram que o edema pulmonar pode ser tratado com anti-inflamatório comum, assim salvando 100% dos animais inoculados por escorpião. Com este estudo, cerca de 3 mil pessoas que morrem envenenadas por escorpião poderão ser salvas.

Principalmente em razão das condições climáticas, de saneamento e pelo desmatamento, o Estado de São Paulo é considerada uma região endêmica de escorpião. No Brasil, a espécie mais comum é o escorpião amarelo o Tityus serrulatus, considerado o mais venenoso de toda a América do Sul. 

Segundo a Secretaria de Saúde de Ribeirão Preto, 147 pessoas foram vítimas de escorpião em 2014. No ano passado foram 267, sem nenhuma morte. As vítimas das picadas deste animal peçonhento apresentam reação local ou sistêmica, que pode evoluir para edema pulmonar, com chance de levar a morte, afetando principalmente crianças e idosos.

Ao identificar que dois mediadores lipídicos, as prostaglandinas e os leucotrienos, são responsáveis pela regulação da ativação do inflamassoma, estrutura essencial para a ativação da resposta inflamatória, os pesquisadores descobriram que esses mediadores têm papéis antagônicos na regulação dessa inflamação.

De acordo com a professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP e orientadora do estudo, Lucia Helena Faccioli, enquanto a prostaglandina E2 (PGE2) aumenta a produção da IL-1, que é a molécula formada pela ativação do inflamassoma, o leucotrieno B4 (LTB4) diminui a produção dessa molécula. “Na verdade, buscando equilíbrio no sistema de defesa”, explica.

Ela afirma ainda que se o envenenamento por escorpião não acontecer à regulação da ativação do inflamassoma pelo LTB4, há um aumento exagerado de PGE2 e de IL-1β.

A ciência conhecia o LTB4, como uma molécula inflamatória, mas a partir da pesquisa foi constatado que o lipídio também tem um papel anti-inflamatório.  “Esses resultados também abrem caminhos para estudos de outras doenças provocadas pela inflamação”, diz Lúcia.

Processo

A conclusão da pesquisa não aconteceu de um dia para o outro. “A comunidade científica já sabia que o envenenamento por picada de escorpião causa edema pulmonar, mas o mecanismo que leva ao edema era desconhecido, assim como a relação com os mediadores e a ativação do inflamassoma”, ressalta a orientadora da pesquisa.

Durante anos, a equipe realizou estudos in vitro e, ao obter resposta positiva para a hipótese do envolvimento dos mediadores, passou à investigação em modelos animais, o que levou os pesquisadores a uma resposta mais próxima do que podem encontrar em humanos. “Foi no modelo animal que conseguimos concluir a eficácia do uso de anti-inflamatórios”, destaca a professora.

Foi criado um protocolo para tratar os animais, mais especificamente os camundongos. Eles recebiam o anti-inflamatório e ao mesmo tempo o veneno.  No primeiro protocolo, 100% dos camundongos sobreviveram. Já no momento dos experimentos, o veneno foi inoculado. Entre 15 minutos e meia hora depois, foram tratados com o remédio.

Desse grupo de animais, entre 70% a 80% sobreviveram. “Isso mostra que o tratamento é efetivo mesmo quando dado terapeuticamente”, avalia Lucia.

Segundo a aluna de pós-doutorado da FCFRP e autora do estudo, Karina Zoccal, a partir das informações apresentadas no estudo, foi possível descobrir que um remédio comum pode salvar da morte vítimas de escorpiões. “Quando isso ficou claro, começamos a tratar os animais com um anti-inflamatório comum, já existente no mercado, que inibe a produção de prostaglandinas. Com isso conseguimos reduzir o edema pulmonar e 100% dos animais sobreviveram”, aponta.

Ainda de acordo com ela, a pesquisa teve duração de dois anos e poderá salvar muitas vidas. "Os experimentos ainda demonstraram, que é possível tratar as pessoas envenenadas, por meio da Indometacina, anti-inflamatório existente no mercado. Esses resultados abrem caminho para salvar cerca de 3 mil pessoas, picadas anualmente por escorpiões”, conclui.

Ser humano

Os testes em humanos devem começar nos próximos meses, assim que o projeto for aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, onde já foi protocolado no ano passado.


Foto: Arquivo Revide

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