Banco de Leite da USP, em Ribeirão Preto, completa 40 anos

Banco de Leite da USP, em Ribeirão Preto, completa 40 anos

Local é referência para os Bancos de Leite do Interior de São Paulo; Brasil é reconhecido por avanços no aleitamento materno

Completando 40 anos em 2016, o Banco de Leite Humano (BLH) do HCFMRP-USP, criado em maio de 1976, continua firme em seu objetivo, desde sua criação: incentivar e apoiar o aleitamento materno.

O leite materno oferece benefícios importantes para os recém-nascidos. Além de alimentar, protege o bebê contra diarreia, infecções respiratórias, alergias e reduz riscos de doenças degenerativas da fase adulta, como diabetes e doenças ligadas ao colesterol. Para estas situações, foram criados os bancos de leite humano, que recebem, pasteurizam e distribuem leite para as crianças que necessitam.

De acordo com a enfermeira e criadora do BLH do HCFMRP-USP, Anália Ribeiro Heck, o banco foi criado para dar apoio às mulheres e oferecer leite aos bebes prematuros. “Eu estava cansada de ver os pediatras passando de mãe em mãe, nas maternidades tirando leite, para oferecer a um prematuro que estava morrendo”, contou.

Anália disse também que no começo fez um estoque de leite para três meses, o que correspondia a um volume de leite orientado pelo médico. Após os resultados positivos, ela começou a procurar doadoras para o projeto.

No BLH são realizadas atividades de triagem, seleção de doadoras e coleta do excedente lático das nutrizes. Também é feito o controle de qualidade do leite doado, processado e distribuído aos recém-nascidos prematuros e os doentes internados no Hospital das Clínicas.

Segundo a biomédica e diretora técnica de saúde, do BLH do HCFMRP-USP, Larissa Garcia Alves, diariamente, em média, 40 recém-nascidos recebe leite humano do Banco de Leite.

“São 40 bebês beneficiados com cerca de 130 litros de leite por mês”, aponta.

Referência no interior

Por designação da Secretaria de Estado da Saúde e reconhecimento da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, o Banco de Leite Humano de Ribeirão Preto é um Centro de Referência para os Bancos de Leite do Interior de São Paulo.

Ainda de acordo com Larissa, são 30 bancos de leite ligados ao BHL de Ribeirão Preto, sendo que no Estado existem 57, considerada a maior rede estadual de bancos de leites do mundo.

Como Centro de Referência, o banco é responsável pelo treinamento, orientação e capacitação de recursos humanos. Dispondo de laboratório credenciado pelo Ministério da Saúde, desenvolve ainda pesquisas operacionais com prestação de consultoria técnica.

No incentivo ao aleitamento materno, o BLH oferece orientações preventivas e curativas na assistência às intercorrências mamárias do período lactacional, auxiliando as mães nas práticas para os períodos de amamentação.

Uma das orientações é o não uso da mamadeira e chupeta dentro dos hospitais. “Incentivamos o desmame. O uso da mamadeira e chupeta é um agravante para o desamamento”, aconselha a diretora do BLH.

Ela ressalta ainda que, caso a criança tenha dificuldades de pegar no peito, é dado leite materno por meio de um copo apropriado. “Se o bebê for prematuro, ele vai tomar leite pela sonda. Saiu da sonda, vai direto para o peito, assim passa para o ‘copinho’”, relata.

Dentro do Hospital das Clínicas, a mães que estão internadas também recebem orientações. Larissa comenta que elas recebem suporte dos profissionais do BLH, como ordenar o leite, realizar a coleta e armazenamento do líquido e cuidados de higiene. “A orientação pode acontecer após o parto, de quatro a seis horas, para estimular a glândula mamária”, frisa.

Doadoras

A busca por novas doadoras não é fácil. A criadora do banco de leite diz que é difícil encontrar doadores de leite materno, ao contrário da disposição de doadores de sangue.

“O doador de sangue tem um período longo para fazer a doação, pois começa na fase adulta e pode doar até os 70 anos. Já a mulher doadora de leite pode fazer a doação apenas no período de amamentação”, ressalta.

Anália relata que a busca por novas doadoras acontece todos os dias, para substituir aquela mãe que já está em fase final de amamentação.

Outro jeito de conseguir novas mães doadoras é através de campanhas de divulgação, visitas em maternidades e atendimentos particulares.

Como doar?

Para ser doadora, a mulher deve estar amamentando, ter boa saúde e ter excedente de leite, além de não poder possuir nenhuma doença infecto-contagiosa.

Caso a mãe não tenha disponibilidade de levar o leite doado ao BLH, a equipe de profissionais vai até a casa dela para pegar a doação.

São disponibilizados três tamanhos de frascos e a doadora pode escolher quantos litros ela quer doar. A conservação do leite coletado é de até 12 horas, na geladeira, sem pasteurização. No freezer, o leite cru pode ficar armazenado por até dez dias.

Para a auxiliar de escritório Juliana Celestino Targa, a doação de leite já faz parte da sua rotina. Ela começou doando 200 mililitros, em setembro do ano passado, quando seu filho tinha dois meses e já chegou a doar 1 820 mililitros. “Eu acho importante doar leite materno, pois é uma vida. A gente não pode pensar que é só leite, porque não é. É uma vida. Muitos bebês precisam desse leite, desse alimento”, relata.

Juliana comenta ainda que a sua licença-maternidade já acabou e, mesmo assim, continua doando. “Pretendo doar até quando o meu filho estiver mamando, pois o leite materno é um alimento muito rico”, completa.

Aleitamento materno

Uma série da revista britânica The Lancet, do dia 29 de janeiro deste ano, destacou o Brasil por iniciativas no aleitamento materno, como regulamentação da lei de amamentação, licença maternidade, hospitais Amigos da Criança e rede de bancos de leite.

De acordo com a série, em 1974 as crianças brasileiras eram amamentadas por 2,5 meses em média. Em 2006, esse número subiu para 14 meses. Em 1986, apenas 2% das crianças de até 6 meses recebiam exclusivamente leite materno. Em 2006, essa taxa saltou para 39%. Ao contrário do Brasil, a China teve redução de 5%.

A evolução das taxas de amamentação no Brasil se devem às políticas integradas de incentivo à amamentação, pois crianças que são amamentadas por mais tempo têm melhor desenvolvimento intelectual, um aumento médio de três pontos no QI, o que pode melhorar o desempenho escolar e, a longo prazo, aumentar sua renda.

A cada ano que uma mãe amamenta, o risco de desenvolvimento de câncer de mama invasivo é reduzido em 6%, segundo o estudo da Lancet.

A experiência do Brasil na promoção e proteção do aleitamento é destacada na publicação, que compara o progresso brasileiro frente aos EUA, Reino Unido e China. De acordo com o Relatório Estado Mundial da Infância 2015 da UNICEF, no Brasil 68% das crianças são amamentadas dentro da primeira hora após o nascimento;  50% das crianças continuam sendo amamentadas até um ano de idade; e  25% das crianças são amamentadas até os dois anos de idade.

Partilhando dos resultados positivos, a criadora do BHL de Ribeirão Preto conclui que a amamentação é fantástica.

“O leite materno possui muitas substâncias nutritivas, que não se encontram no leite de vaca e em nenhum outro leite, por isso a amamentação favorece o crescimento da criança”, completa Anália.


Foto: Arquivo Revide

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