Dia do Alzheimer: novos medicamentos podem mudar tratamento da doença
Dr. Wilson Picco explica como lidar com cada etapa da doença e a revolução que podem trazer as novas medicações na fase inicial

Dia do Alzheimer: novos medicamentos podem mudar tratamento da doença

No Brasil, mais de um milhão de pessoas são diagnosticadas com o transtorno neurodegenerativo, que não vê avanços no tratamento medicamentoso há 20 anos.

Em 21 de setembro, é celebrado o Dia Mundial da Doença de Alzheimer e Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer. Segundo o Ministério da Saúde, a doença atinge cerca de 1,2 milhão de brasileiros. Em todo o mundo, o número chega a 50 milhões de pessoas. Estimativas da Alzheimer’s Disease International mostram que os números poderão chegar a 74,7 milhões em 2030. Cenário preocupante que revela a caracterização de uma futura crise global de saúde a ser enfrentada.

 

 

 

Segundo o geriatra do Grupo São Lucas, Dr. Wilson Picco (CRM 169422), a doença representa 80% das causas de síndromes demenciais, e ocorre devido ao acúmulo da proteína beta-amiloide em regiões que acabam causando a morte de neurônios, resultando nas alterações de memória. A doença, que atinge predominantemente pessoas acima dos 65 anos e tem diagnóstico clínico, pode ser classificada de diversas formas. Entre as mais comuns, estão a escala de FAST, que divide os estágios de 1 a 7 e a CDR (Clinical Dementia Rating) que atribui notas e a nomeação dos estágios como leve (grau 1), moderado (grau 2) e grave (grau 3).

 

 

 

“Inicialmente o paciente tem algumas dificuldades de realizar tarefas que ele fazia antes. Por exemplo, na hora de dirigir ele pode se perder, começa a esquecer o fogo ligado, esquece de tomar as medicações. O estágio moderado está muito mais relacionado a alterações comportamentais. Nesse momento, a parte cognitiva já fica mais comprometida, a pessoa já pode ter quadros de agitação e agressividade. O terceiro é a fase avançada, que o paciente começa a ter dependência para as necessidades básicas como alimentação, banho, troca, onde tende a ficar um pouco mais acamado”, explica o médico. 

 

 

 

O tratamento medicamentoso é voltado para a área comportamental do paciente, e segue sem atualizações há 20 anos. Com isso, a atuação da equipe multiprofissional tem grande importância para trazer melhora na qualidade de vida. Manejo verbal, manutenção de exercícios para manter o paciente móvel, estímulos cognitivos e associações que ele possa fazer para auxiliar na falta da memória são alguns exemplos de atividades necessárias.

 

 

 

NOVAS MEDICAÇÕES

Nos Estados Unidos, a agência regulatória do país FDA (Food and Drug Administration), aprovou em 2021 e 2023 medicações que alegam retardar a evolução da doença. As drogas donanemabe e lecanemabe mostraram nos testes iniciais o potencial de revolucionar o tratamento. Apesar disso, o médico alerta que os resultados são positivos apenas na fase inicial.

 

 

 

“As drogas novas citadas são anticorpos monoclonais, esses anticorpos visam limpar o acúmulo de placas dessa proteína que causa a degradação cerebral. Nos estudos iniciais, as medicações demonstraram retardar a evolução da doença. Porém, os estudos foram realizados na fase inicial do Alzheimer, então mesmo naqueles pacientes que têm a doença estabelecida em um quadro moderado ou avançado, ainda vamos ficar sem nenhum tratamento específico. Mais uma vez reforçando a importância do diagnóstico precoce, porque assim que tivermos a possibilidade dessas medicações no Brasil, nós temos um potencial e uma medicação completamente nova que pode mudar o rumo do tratamento da doença de Alzheimer”, comenta.

 

 

 

No Brasil, não há previsão da chegada dos novos medicamentos, e com isso o tratamento segue com os anticolinesterásicos, sendo os exemplos mais comuns a Donepezila, Rivastigmina e Galantamina, atuantes na fase inicial e moderada para controle de comportamento, e a memantina para a fase moderada e avançada.

 

 

 

Com isso, é importante que exista um acompanhamento geriátrico regular, para realização dos exames clínicos que podem trazer o diagnóstico precoce e estabelecer um tratamento onde a prioridade é o bem-estar do paciente.

 

 

 

“Idealmente o seguimento geriátrico pode se iniciar após os 40 anos e deve seguir uma periodicidade anual em pessoas sem comorbidades importantes, e semestral em pacientes com comorbidades importantes, mesmo sem a doença de Alzheimer. No caso especificamente da doença de Alzheimer, as consultas de rotina visam fazer essa triagem e a detecção mais precoce possível da doença. Depois de triado, é importante estabelecer um vínculo com a família para acolhimento dessa situação e para orientações em cada uma das fases, que tem manejos diferentes. Devemos reforçar sempre o direcionamento para o segmento multiprofissional. Essas dicas com certeza serão decisivas para a qualidade de vida”, conclui o geriatra.


 


Foto: Divulgação

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