Dois em cada dez médicos já sofreram agressão

Dois em cada dez médicos já sofreram agressão

Segundo estudo do Datafolha, 85% dos profissionais têm a percepção de que os episódios ocorram mais no SUS

Dados apresentados pelo Instituto de Pesquisa Datafolha apontam que 17% dos médicos no Estado de São Paulo já foram vítimas ou têm conhecimento de colegas que viveram algum episódio de violência por parte de pacientes. Sendo que 5% deles sofreram agressão pessoalmente. Os números compõem a pesquisa Percepção da Violência na relação médico-paciente, apresentado nesta quarta-feira, dia 9, na sede do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), em São Paulo, pelo presidente do Cremesp, Bráulio Luna Filho, e pela presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo (Coren), Fabíola Mattozinho.

A pesquisa foi encomendada pelos Conselhos ao Datafolha. O instituto entrevistou 617 médicos e 807 cidadãos entre setembro e outubro deste ano na Capital e Interior do Estado e constatou que, tanto para os médicos como para os pacientes, o principal fator da violência está na sobrecarga do sistema público de saúde, nas más condições de atendimento, com quantidade insuficiente de médicos, medicamentos, aparelhos e leitos, falta de fiscalização dos locais de trabalho, capacitação dos todos os profissionais e campanhas informativas.

No Estado de São Paulo, 47% dos médicos conhecem um colega que viveu algum episódio de violência por parte de pacientes. 

A pesquisa revelou que, dentre os médicos que revelaram ter sofrido agressão – 20% sofreram agressão física – sendo que a maioria (78%) dos médicos vítimas de violência são médicos jovens de 24 a 34 anos. A maioria das vítimas são mulheres.

Percepção

De maio a dezembro deste ano, o Cremesp coletou relatos de médicos através de um canal criado em seu portal. Os profissionais relataram sigilosamente suas experiências com relação ao tema. Foram recebidos mais de 100 depoimentos. Acompanhando a pesquisa Datafolha, a maioria de mulheres médicas.

A conclusão da pesquisa corrobora a percepção do Conselho com a situação de violência vivida pelos profissionais médicos em seus locais de trabalho. 

Em ação conjunta, Cremesp e Coren-SP levaram a discussão do problema ao secretário de Segurança Pública do Estado, Alexandre de Moraes, em busca de soluções.

Pacientes

A entrevista realizada com mais de 800 pacientes revelou a insatisfação com a estrutura e a demora no atendimento do sistema público de saúde. 34% dos cidadãos entrevistados afirmam ter passado por alguma situação de stress no atendimento à Saúde nos últimos doze meses e 10% destes relatam ter tomado alguma atitude, como reclamar da qualidade do atendimento médico (6%) ou reclamar do atendimento na recepção (3%).

Poucos entrevistados afirmaram ter praticado agressão verbal, contudo, 35% afirmaram que presenciaram este tipo de agressão, sendo que 4% relaram ter presenciado agressões físicas a médicos.

Os entrevistados que assumiram ter cometido agressão alegaram que foram levados pelo comportamento do médico (mal educado, irônico ou porque teria demonstrado falta de atenção, insensibilidade para ouvir o problema), pela qualidade dos médicos (prescrição ou medicação errada, despreparo) ou por conta do atendimento demorado.
Confira mais dados da pesquisa

Para os médicos

- 39% dos médicos consideram como principais causas das agressões o comportamento do paciente, que estariam insatisfeitos com a Saúde Pública e descontam nos profissionais;

- 29% disseram que o problema é o atendimento no hospital, com muita demora e que, com isso, o paciente entra no atendimento estressado porque há muitos pacientes e poucos médicos;

- 11% dos entrevistados atribuem o stress à falta de estrutura, com hospitais superlotados e sem suporte para atendimento.

- 5% admitem que os episódios acontecem por conta do comportamento dos colegas que não atendem como deveriam, não examinam, não dão atenção ou erram diagnósticos.

Para a população

- 41% dos cidadãos paulistas acreditam que a principal causa das agressões sofridas por médicos é o atendimento (demora, stress, muitos pacientes para poucos médicos, consultas muito rápidas e superficiais);

- 19% dos entrevistados também relataram que se incomodam com o comportamento/postura dos médicos, alegando que eles não dão atenção, são insensíveis, arrogantes, não tem paciência etc.;

- 18% dizem que o atendimento nos hospitais também leva a situações de agressão e reclamam da falta de estrutura, atendimento precário, superlotação e demora para ser atendido no pronto-socorro, entre outros. Essa percepção não sofre muita oscilação em relação ao tipo de atendimento (SUS, saúde suplementar ou particular).  

Satisfação dos médicos com a profissão

- Quando pensam na profissão três anos atrás, 55% dos médicos entrevistados disseram que estavam satisfeitos com a profissão, consideração que passou a 45% atualmente;

- Médicos de 24 a 34 anos (61%) e com mais de 60 anos (60%) são os mais satisfeitos com a profissão;

- Para 77% dos médicos as condições de trabalho pioraram nos últimos três anos;
e a sensação é maior entre as mulheres médicas (81%) e os médicos jovens (82%); quanto ao local de trabalho, não há muita disparidade: para 78% as condições pioraram no SUS; 77%, no atendimento particular; e 76%, na saúde suplementar.

Satisfação dos pacientes com os serviços de Saúde

- Na percepção dos cidadãos, apesar das queixas e situações que podem gerar stress, os serviços público e privado têm avaliações semelhantes e boas, principalmente em relação a procedimentos específicos (nota média de 9,5), cirurgias (9,4), internações hospitalares (9) e exames de laboratório (8,3), atendimento médico da rede pública em casa (8,3) e remédios gratuitos (8,2);

- O serviço pior avaliado é o pronto-socorro (6,6), seguido pelos postos de saúde (7,0) e consultas com médicos (7,9).

Foto: Reprodução

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