Durante a 'folia', atente-se para o risco da aids

Durante a 'folia', atente-se para o risco da aids

Confira o depoimento sobre a rotina de um jovem portador do vírus HIV; Especialistas indicam quais as saídas antes e depois do contágio da aids

O carnaval é uma festa nacional que espalha alegria para muitos brasileiros. Entretanto tudo que é bom tem de ter um limite. Sócrates, por exemplo, já dizia: “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”.

É nesse conceito que a prevenção a doenças deve ser levada em conta. Especialistas alertam que qualquer tipo de relação ou ato sexual deve ser feito com proteção. É no carnaval que o vírus como o HIV predomina e faz mais vítimas.

De acordo com o Ministério da Saúde, a aids é o estágio mais avançado da doença que ataca o sistema imunológico. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida é causada pelo vírus HIV. Como esse vírus ataca as células de defesa do nosso corpo, o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças, de um simples resfriado a infecções mais graves, como tuberculose, ou câncer. O órgão ainda alerta que o próprio tratamento dessas doenças fica prejudicado.

Ter o HIV não é a mesma coisa que ter a aids. Ainda segundo o Ministério da Saúde há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Mas podem, sim, transmitir o vírus a outros pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação. “Por isso, é sempre importante fazer o teste e se proteger em todas as situações”.

Depoimento

Em entrevista ao Portal Revide, o publicitário Lucas Raniel – portador do vírus HIV, conta como tem sido sua rotina desde a descoberta do vírus da aids. “Então, de inicio é um choque, eu realmente não fazia ideia de como era, onde procurar ajuda. Eu adoeci, e procurei um clínico geral para poder saber o que estava acontecendo comigo, fiz uma bateria de exames, dentre eles, o de HIV, por consequências da vida e da maneira como eu a levava, já me preparei para o resultado positivo, porém só quando se tem certeza é que a ficha cai”.

O jovem exalta que o apoio da família foi essencial em suas escolhas. “Foi chocante. Se eu não tivesse tido o apoio da minha família e dos meus amigos mais próximos não sei o que teria acontecido. Saber que é soropositivo não é algo fácil, confesso. Seria hipocrisia da minha parte dizer que aceitei numa boa, porque não foi. Tentei suicídio algumas vezes, não por conta de ser portador do vírus, e sim por medo do que as pessoas iriam pensar. Por sorte, muita gente me fez enxergar que não, que não deve ser assim, que eu tenho que usar o meu problema, e fazer dele uma solução para diversas pessoas que sofrem com isso, ou que tem medo de fazer o exame, ou pior, que não se cuidam por pensar: "isso nunca vai acontecer comigo", como eu pensava antes do resultado”!

No Brasil, a lei adverte que ninguém é obrigado a expor sua sorologia. “Tive diversos casos de antigos relacionamentos que vieram me cobrar, me ameaçar por eu não ter dito, e repito a frase, não sou obrigado a falar minha sorologia pra ninguém, sou obrigado sim, a me cuidar e a cuidar do próximo. A dica é se abrir com amigos, caso a família seja uma opção meio vaga. Amigos de verdade sempre serão bem vindos para escutar, para te abraçar quando estiver aos prantos, para poder ficar do seu lado. E além disso não é vergonha ser soropositivo, é uma doença crônica, assim como qualquer outra”.

O jovem comenta que as pessoas ignorantes ainda associam o HIV com uma vida promiscua, mas nem sempre é assim. “Já conheci casos em que a esposa contraiu por conta do marido que a traiu, conheci casos em que a pessoa veio ao mundo com o HIV, e ai?! O que dizer de casos como esse? Então realmente não vale a pena se preocupar com o que os outros irão dizer ou pensar, vendo assim, muitos irão dizer: "mas fácil é falar né Lucas?!", e sim, falar é fácil, porém é importante muita força de vontade e ser centrado naquilo em que você acredita. Os outros são apenas outros. O foco é a sua saúde. E se você tiver amigos de verdade, eles irão compreender, sem te julgar”!

Por se tratar de um fato relevante para uma vida social saúdavel, Lucas lembra como foi o momento de falar para as pessoas que o rodiavam. “Então, minha vida pessoal, mudou muito, eu descobri no término da minha graduação, contei para minhas três melhores amigas que nunca me abandonaram, contar a elas foi algo necessário, pois as meninas estavam comigo todos os dias, elas eram meu diário, por mais que não falavam nada, só escutavam, eu precisava colocar aquelas experiências para fora. Elas me ajudaram muito em todos os processos que passei. Não tive ninguém que se afastou de mim, no quesito amizade. Pelo contrário, só reforçou mais ainda o que já existia, e as amizades que viriam com o tempo. Já em relacionamentos passei por alguns maus bocados, porém nada que pudesse ser superado”.

“O fato de as pessoas deixarem o medo e o preconceito de lado é importante, pois não é o fim do mundo ser soropositivo. A dica é que as pessoas cuidem da saúde, antes, durante e após a relação sexual, que é o meio mais fácil de se contrair o HIV. Muitas pessoas são portadoras do vírus, transmitem o vírus, e muita das vezes nem sabem que estão fazendo isso, então também um toque importante é ir até um profissional da saúde e fazer o exame”, finaliza Raniel.

Psicológico

A psicóloga Fernanda Rocha, coordenadora da clínica de psicologia do Centro Universitário Barão de Mauá em Ribeirão Preto, acredita que tem duas coisas importantes diante deste assunto. “Houve uma mudança em relação ao tratamento, já que hoje um paciente soropositivo possui uma qualidade de vida melhor, se comparado com anos atrás, principalmente os que optam por se cuidar e seguem todas as regras à risca. Se a aids não for tratada pode matar e infelizmente os jovens não se preocupam muito com este quesito sendo que o risco de tal fato acontecer é muito alto”.

Fernanda ressalta que sobre o soropositivo, a questão é que no mundo atual ainda existe preconceito sobre estes cidadãos. Existem duas questões: preconceito do grupo – o paciente se sente traído pelas pessoas que o acompanham em sua rotina; preconceito interno – que é quando a própria pessoa contaminada se exclui dos outros por conta de sua doença.

“Hoje existe mais profissionais que podem auxiliar no tratamento de uma pessoa com aids, então o primeiro passo, após descoberta da doença, é a orientação psicológica, que é a aceitação pessoal, antes da aceitação coletiva. Entre as maneiras de enfrentamento estão a aceitação da doença, que com o auxilio de um profissional leva a pessoa a continuar com sua vida da mesma forma que era antes do contágio do vírus. Além de grupos de risco que auxiliam e podem ajudar nas decisões e confiança do paciente”, indica a psicóloga.

Explicação médica

A infectologista Karen Morejon respondeu algumas dúvidas que podem ser frequentes em relação ao vírus do HIV. Confira a entrevista com a especialista.

Portal Revide - Quais são os riscos de se infectar com o vírus do HIV?
Karen Morejon -
A infecção pelo HIV pode ocorrer através do contato com sangue, leite materno, esperma ou secreção vaginal contaminados. Importante lembrar que o vírus pode ser transmitido por relação sexual vaginal, anal e oral.

Portal Revide - Como a pessoa pode se proteger?
Karen Morejon -
A melhor proteção é o uso de preservativo nas relações sexuais, além da redução do número de parceiros (para diminuir o risco de exposição). No caso do leite materno, a mãe infectada por HIV não pode amamentar.

Portal Revide - Quais são os mitos para contágios?
Karen Morejon -
Cito como principais nesse momento:

1. HIV não é transmitido por sexo oral (o HIV, bem como as outras infecções sexualmente transmissíveis, pode ser transmitido por relação sexual oral);
2. HIV não é transmitido no ato sexual insertivo (ou seja, a pessoa sendo a "ativa" na relação não se contaminaria com HIV). Isso é mentira, pois o HIV pode ser adquirido tanto se a pessoa for "ativa" quanto "passiva" na relação sexual.

Portal Revide - A pessoa infectada pode ter uma relação normal com as outras pessoas?
Karen Morejon -
Toda pessoa infectada por HIV deve ter relação sexual com preservativo. Sabe-se que uma pessoa convivendo com HIV/aids e que tenha carga viral do HIV no sangue indetectável tem menor chance de transmitir o vírus, porém essa chance não é nula. Além disso, ao não usar preservativo, a pessoa fica exposta a adquirir outras infeccções sexualmente transmissíveis, como sífilis e hepatite B.

Portal Revide - No caso de infecção, o que a pessoa deve fazer?
Karen Morejon -
Se a pessoa suspeita que está infectada pelo HIV deve procurar uma unidade de saúde para que sejam feitos os exames confirmatórios. Mas o exame que detecta HIV (assim como hepatite B, C e sífilis) deve fazer parte da rotina anual de exames. Ou seja, a pessoa não precisa suspeitar que está doente para fazê-los. Muitos pacientes passam anos infectados e transmitindo o HIV sem apresentar qualquer sinal ou sintoma da doença. O diagnóstico precoce é fundamental para o melhor manejo clínico.

Fotos: Arquivo Pessoal, Arquivo Revide e Divulgação

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