Especialista fala sobre a obesidade e tratamentos
Segundo o Ministério da Saúde, em dez anos, a obesidade cresceu 60% no Brasil

Especialista fala sobre a obesidade e tratamentos

Aumento do problema no Brasil pode ter colaborado com o crescimento da diabetes, que passou de 5,5 (2006) para 8,9% (2016), e a hipertensão, que no mesmo período passou de 22,5% para 25,7%

A obesidade é uma doença que cada vez mais ganha espaço no Brasil. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, uma em cada cinco pessoas no país está acima do peso. Nos últimos dez anos, a prevalência da doença passou de 11,8%, em 2006, para 18,9%, em 2016, o que colaborou, também, com o aumento do diagnóstico médico de diabetes, que passou de 5,5% (2006) para 8,9% (2016), e o de hipertensão, que no mesmo período saiu de 22,5% para 25,7%.

Por conta desse aumento e o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, lembrado nesta quarta-feira, 11, o Portal Revide procurou o endocrinologista Dr. Sérgio Luchini Batista, para falar do problema, esclarecer dúvidas frequentes e explicar sobre os tratamentos disponíveis para a doença.

De acordo com Batista, atualmente a obesidade é um problema de saúde pública mundial. Considerada uma doença crônica muito predominante, tanto em países desenvolvidos quanto nos que estão em desenvolvimento.

“Para se ter uma ideia, a Organização Mundial de Saúde projeta um número mundial de 2,3 bilhões de adultos com sobrepeso e mais de 700 milhões de adultos obesos para o ano de 2025. Com relação ao sobrepeso e obesidade infantil, este número pode atingir 75 milhões de crianças. No Brasil não é diferente, a obesidade vem aumentando progressivamente, com alguns estudos apontando que mais de 50% da população esteja acima do peso”, conta o especialista.

Segundo o médico, o acúmulo excessivo de gordura no corpo pode aumentar o risco de o indivíduo desenvolver várias doenças como diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, hipertrofia ventricular – cardiopatia caracterizada por aumento do músculo cardíaco –, síndrome da apneia/hipopneia obstrutiva do sono – em que o excesso de gordura nas áreas do pescoço e do tronco dificulta a respiração durante o sono –, entre outras.

“Além disso, existem outras doenças que podem estar associadas à obesidade como doença do refluxo gastresofágico, asma brônquica, insuficiência renal crônica, infertilidade masculina e feminina, disfunção erétil, síndrome dos ovários policísticos, veias varicosas e doença hemorroidária, hipertensão intracraniana idiopática, disfunção cognitiva e demência. Finalmente, a obesidade ainda pode causar incapacidade funcional, redução de qualidade de vida e aumento de mortalidade do indivíduo”, diz o especialista.

Com toda doença, a obesidade também tem tratamentos disponíveis para o emagrecimento do indivíduo. O especialista explica que há duas alternativas para isso acontecer, o não farmacológico, que realiza modificações no estilo de vida, e o uso de medicamentos, que ajudam na perda de peso.

“A abordagem com tratamento não farmacológico é muito importante e engloba modificações no estilo de vida, dieta adequada e atividade física regular, sempre com orientação médica e idealmente com acompanhamento multidisciplinar com enfermeiro, nutricionista, educador físico, fisioterapeuta, psicólogo, conforme a necessidade de cada indivíduo. Além disso, existem diversos medicamentos que podem ser utilizados para promover e otimizar a perda de peso de um indivíduo que já esteja inserido num programa de dieta e atividade física, sendo que cada medicação deverá ser prescrita de maneira individualizada pelo médico que acompanha o paciente”, explica o médico.

Após o processo de tratamento, para começar a notar uma melhora na saúde e obter uma redução de risco cardiovascular, o indivíduo deve perder de 5 a 10% do peso. “Certamente, o bem-estar físico, psicológico e estético pode variar de indivíduo para indivíduo e, por isto, é importante que o paciente consulte com frequência seu médico e acompanhe regularmente um nutricionista e educador físico, visando à perda de massa gorda e ganho de massa magra, resultando na melhora de peso de maneira saudável”, diz Batista.

Medicamentos para o emagrecimento

O uso de medicamentos para o emagrecimento é comum para pessoas que estão em busca de melhores resultados na balança, mas o médico ressalta que essas medicações possuem efeitos colaterais que devem ser monitorados por um especialista e são contraindicados em caso de algumas doenças.  

Um exemplo é a sibutramina, que pode aumentar a frequência cardíaca e os níveis pressóricos, aumentando o risco de mortalidade cardiovascular em alguns indivíduos, principalmente nos portadores de diabetes mellitus e doença arterial coronariana, como demonstrado no estudo Sibutramine Cardiovascular OUTcomes, em que foram avaliados 10.744 pacientes com sobrepeso ou obesidade, sendo observado um aumento de 16% no risco de eventos cardiovasculares como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e morte numa população específica tratada com sibutramina”, conta o médico.

Segundo Batista, atualmente há várias medicações que podem ser utilizadas no processo de emagrecimento, mas que cada paciente tem um perfil diferente, por isso, é importante a avaliação médica antes de começar utilizar qualquer tipo de medicamento, sendo ele para emagrecimento ou não.

“Dispomos de diversas medicações, tanto orais quanto injetáveis, para tratamento de obesidade como orlistate, fluoxetina, sertralina, sibutramina, topiramato, bupropiona e liraglutide, por exemplo. Vale ressaltar que cada paciente tem um perfil diferente e que cabe ao médico decidir qual medicação se adequa melhor ao tratamento para perda de peso em cada indivíduo”, afirma o especialista.

Obesidade

Segundo o especialista, a classificação de obesidade se baseia no Índice de Massa Corpórea (IMC), que é uma relação entre o peso e a estatura do indivíduo.

“Quanto o IMC do indivíduo está entre 25,0 a 29,9Kg/m², é considerado como sobrepeso. Se o IMC do indivíduo é igual ou maior que 30,0Kg/m², consideramos obesidade, sendo que entre 30,0 a 34,9Kg/m² seria obesidade grau I, entre 35,0 a 39,9Kg/m² seria obesidade grau II e igual ou maior que 40,0Kg/m² seria obesidade grau III, também conhecida como obesidade mórbida”, explica Batista.

Contudo, de acordo com o especialista, o uso do IMC tem mais utilidade para avaliação populacional do que para classificar apenas um indivíduo, em que outros parâmetros antropométricos também devem ser utilizados na avaliação de gordura corporal como, por exemplo, o perímetro ou circunferência abdominal, a relação cintura-quadril, avaliação de dobras cutâneas, entre outros, bem como possíveis avaliações específicas da gordura corporal com exames de bioimpedância ou de composição corporal por DXA (Dual X-ray Absorciometry).

Outras doenças que podem ser causadas pela obesidade

Transtornos depressivos, dislipidemia – elevação dos níveis do colesterol ruim e triglicérides –, aterosclerose das coronárias, diversos tipo de câncer, osteoartrose – que pode se manifestar como dores lombares e articulares -, infecções de pele – principalmente em regiões de dobras –, úlceras gástricas, doença hepática gordurosa, colelitíase e pancreatite aguda.


Foto: Pixabay e Arquivo Pessoal

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