
“Eu quero ser exemplo de força para as mulheres", disse Débora de Oliveira
A jovem quer aproveitar a repercussão e o sucesso de seu caso para mostrar que é possível ser feliz sem inseguranças impostas pela sociedade
A auxiliar de educação Débora de Oliveira, de 19 anos, que teve o couro cabeludo arrancado em um acidente de kart sonha em “ser um exemplo de força para as mulheres em situação semelhantes a dela, seja sem cabelos, doentes ou inseguras. A jovem conversou com a imprensa, em entrevista coletiva nesta quinta-feira, 10.
Débora receberá alta no próximo sábado, 12. Entretanto, ela permanece em Ribeirão Preto até o final de outubro para conclusões de procedimentos desta primeira fase de tratamento. “Será a chance de conhecer um lugar tão longe de Recife, minha terra natal. Até hoje, eu só conhecia os estados de Pernambuco, a Bahia e a Paraíba. Confesso que tive medo de andar de avião, mas para o meu bem, vale tudo”.
Em Ribeirão Preto, ela pretende ir ao cinema já no sábado, 12, pois são dois meses sem sair do Hospital Especializado. “Eu infelizmente não vou poder viajar ainda para a minha cidade natal, mas quero aproveitar ao máximo os próximos dias. Minha cabeça está fechada e o risco de danos maiores foram amenizados. Agora será um processo de estética que tem média de dois a seis anos. Haverá muito trabalho realizado no rosto, mas já estou aliviada”.
A jovem não terá mais cabelos naturais, pois perdeu todo tecido capilar. “É um dos desafios que eu vou ter que viver, pois para uma mulher é muito complicado perder essa parte da estética. Quanto a ao rosto, eu tenho certeza que vai haver um ótimo resultado. É um processo demorado, mas tenho uma expectativa muito grande com o resultado. Eu não vou ter vergonha. Eu sinto que muitas das vezes nos escondemos com medo de nos sentirmos feias ou desaprovados e eu não quero sentir isso. Meu cabelo original pode ser transformado em prótese, mas eu não pretendo o usar. Já que eu tive repercussão, eu quero incentivar as mulheres a se sentirem bem”, disse a jovem.
A garota sonha sem ser médica cirurgiã e não quer parar de estudar em busca de suas vontades. “Faz três anos que estudo e agora mais do que nunca vou continuar nessa caminhada. Eu aprendi que na vida as pessoas podem tomar muitas coisas de você, mas o conhecimento não e é com ele que você ajuda os outros. Eu até falo par os meus doutores que isso me deu a chance de saber como é estar do lado do paciente. Vou pegar as coisas boas de toda situação”.
Especialistas
A coletiva foi composta pelos médicos responsáveis pela reconstrução. Estiveram presentes Pedro Palocci, Salomão Chade, Daniel Lazo e Alex Fioravanti.
O cirurgião Daniel Lazo explica que até o fim deste mês, Débora vai fazer curativos laboratoriais duas vezes por semana, até ter uma completa epitelização do couro cabeludo novo. Em novembro e dezembro, ela terá férias e retorna no início do próximo ano.
“Nessa fase, a ideia era primeiro preservar a vida. O crânio é responsável por proteger o sistema nervoso central. A ideia inicial era cobrir e posteriormente colocar uma prótese capilar, já que não será possível crescer cabelo. A partir de janeiro vamos enxertar gordura e reconstrução dos supercílios. Em junho de 2020 será possível refazer exames ambulatoriais simples de serem resolvidos”, explicou o especialista.
Já Pedro Palocci, responsável pelo Hospital Especializado, falou que casos de grande gravidade são comuns, mas cabe ao centro médico proporcionar o maior conforto possível. “É importante o fato de ser um caso de repercussão nacional, mas ele não é necessariamente algo que chama atenção. É normal no ponto de vista do hospital receber pacientes em casos graves e é nossa função dar cobertura ao tempo que for necessário para que esse trabalho de recuperação da paciente seja feito de maneira adequada”, finaliza.
Fotos: Pedro Gomes