Falta de profissionais e aumento acentuado de demanda são principais 'buracos' da Saúde de RP
Investimento em tecnologia, estrutura e contratação de novos profissionais é o caminho apontado por médicos para a cidade continuar sendo referência nacional
Reconhecida como um dos principais centros de saúde do Brasil, Ribeirão Preto enfrenta o desafio de equilibrar a alta qualidade e abrangência de seus serviços médicos com a crescente demanda e a necessidade de modernização. Lideranças locais destacam os esforços para fortalecer o sistema de saúde, incluindo novas instalações e o uso de tecnologias emergentes, mas a falta de profissionais capacitados preocupa.
Ricardo de Carvalho Cavalli (foto ao lado), superintendente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP/USP) ressalva que a cidade é um centro de referência nacional e internacional em saúde, com atendimentos de alta complexidade, e que o complexo hospitalar da USP, juntamente com outras faculdades de medicina e cursos na área da saúde, forma um conjunto robusto que fortalece o município. Um dos projetos promissores é a nova Unidade de Emergência próxima ao Anel Viário Sul, que promete trazer significativos benefícios à população. No entanto, Cavalli aponta desafios, como a crescente demanda por serviços médicos, exacerbada pela pandemia, além da necessidade contínua de modernização e formação de recursos humanos altamente capacitados.
Jane Aparecida Cristina, secretária municipal de Saúde, ressalta a importância do Sistema Único de Saúde (SUS), que garante acesso universal e integral aos serviços. “A saúde pública de Ribeirão Preto, por meio do SUS, se destaca na oferta e garantia do acesso universal e integral aos serviços de saúde”, destaca Jane. Com 47 unidades de saúde, quatro de pronto atendimento que funcionam 24 horas, diversos ambulatórios de especialidades, centros de atenção psicossocial, centros de reabilitação e 11 hospitais, o município atende seus 710 mil habitantes e ainda serve como referência para a região.
A secretária enfatiza a necessidade de planejamento contínuo para enfrentar desafios, como o orçamento público limitado e a crescente demanda por serviços, devida ao envelhecimento da população e ao aumento de doenças crônicas. A falta de profissionais qualificados no SUS também é uma preocupação, exigindo investimentos em formação e melhoria das condições de trabalho.
“O financiamento à saúde no município é adequado, com investimento de cerca de 23% da receita corrente líquida no ano”, afirma José Sebastião dos Santos (foto ao lado), médico do HC e ex-secretário municipal de saúde. No entanto, ele aponta a necessidade de melhorar a eficiência do gasto público, especialmente na atenção primária e nos hospitais filantrópicos, que enfrentam desafios como internações prolongadas e baixa capacidade resolutiva.
A Vigilância Epidemiológica também precisa de melhorias, particularmente em termos de estrutura e integração com outros setores. “O fortalecimento da atenção primária e o uso de tecnologia, como inteligência artificial e telessaúde, para melhorar a eficiência e reduzir as filas e a demora nos atendimentos são pontos cruciais para um sistema que atenda a demanda”, afirma o médico.
Apesar dos pontos positivos, Santos acredita que Ribeirão Preto precisa melhorar a cobertura e a capacidade resolutiva da atenção primária, assim como a integração dos serviços de saúde com outros setores. A modernização tecnológica, embora promissora, requer investimentos contínuos para acompanhar os avanços e garantir a acessibilidade para toda a população.
Recentemente, Ribeirão Preto tem se destacado pelo uso de tecnologias emergentes na saúde. A Secretaria Municipal da Saúde implementou um sistema de prontuário eletrônico, que, apesar de necessitar de atualizações, representa um passo importante para a modernização do atendimento. “Temos todo o serviço administrativo informatizado dentro da política do ‘município sem papel’”, diz Jane (foto ao lado).
Além disso, a cidade investiu na criação de um aplicativo de saúde digital com diversas funcionalidades, incluindo teleatendimento e acompanhamento de processos de isenção de impostos e transporte intermunicipal. Esse investimento em tecnologia visa a melhorar a eficiência e a transparência dos serviços prestados à população.
Outro avanço apontado pela secretária é o foco na saúde preventiva. “A imprensa e mídias sociais exercem um papel fundamental na parceria com as informações verdadeiras e principalmente educacionais sobre todas as ações de saúde promovidas no município”, destaca Jane, referindo-se a campanhas de conscientização sobre a importância da vacinação e à promoção de programas de saúde para diferentes grupos populacionais, como mulheres, crianças, adolescentes e idosos. Essas iniciativas têm como objetivo reduzir a sobrecarga dos serviços de urgência e emergência, promovendo um cuidado mais proativo e preventivo.
FALTA DE PROFISSIONAIS PREOCUPA
Um dos pontos críticos que Ribeirão Preto tem enfrentado é a escassez de profissionais de saúde pública. Com o aumento da demanda por serviços de saúde, principalmente durante e depois da pandemia de Covid-19, essa falta de profissionais qualificados se tornou ainda mais evidente. Desde 2020, houve uma redução de 5% no total de médicos na rede de saúde da cidade – de 424 para 401. Em um ponto do ano passado, esse número foi ainda menor: 375 médicos. Essas informações foram compartilhadas pela administração com o Conselho Municipal de Saúde em uma audiência pública na Câmara Municipal, no início de março.
Além disso, o número de agentes de combate às endemias caiu de 296 para 266 no mesmo período. A prefeitura atribui as reduções ao desinteresse dos profissionais em trabalhar no setor público, e menciona a abertura de concursos públicos para contratação de novos médicos e agentes, além de contratações via pessoa jurídica. A queda no número de agentes é justificada por aposentadorias e falecimentos.
UPAS
As Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Ribeirão Preto têm enfrentado uma demanda crescente devido ao agravamento e aumento no número de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, além de situações emergenciais como surtos de dengue. Em 2023, o município fez um aporte financeiro de quase R$ 20 milhões para os prestadores hospitalares no atendimento de média e alta complexidade.
A secretária municipal destaca que, “com o aumento expressivo no número de atendimentos, principalmente nas UPAs, é real que temos uma sobrecarga no nosso sistema de saúde. Para mitigar esse problema, é fundamental que haja maior investimento do Governo Federal e do Estado para a abertura de mais leitos hospitalares”.
HC ABRE CONCURSO
O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto abriu concurso público, recentemente, para médicos contratar em três áreas. Uma nova unidade de emergência do HC também deve começar a ser construída em fevereiro de 2025. A empresa contratada para elaboração do projeto técnico é a MHA Engenharia Ltda, da cidade de Barueri, que colocou como um dos responsáveis pela elaboração o arquiteto Siegbert Zanettini. O novo hospital será construído ao lado do Hospital Estadual, no bairro João Rossi. A obra está estimada em R$ 500 milhões. O prédio onde funciona atualmente a UE-HC, na rua Bernardino de Campos, será revitalizado e atenderá internações clínicas e cirurgias não oncológicas de alta complexidade.