Fevereiro roxo: Alzheimer

Fevereiro roxo: Alzheimer

Doença caracterizada por perdas cognitivas progressivas é a primeira abordada em série sobre a campanha Fevereiro Roxo, que iniciamos nesta edição

Fevereiro é mês de Carnaval, mas também de campanhas preventivas de saúde nos moldes do Outubro Rosa, que objetivam conscientizar a população sobre a importância de diagnósticos precoces. No caso do Fevereiro Roxo e Laranja, a primeira cor refere-se às campanhas sobre as doenças de Alzheimer, Fibromialgia e Lúpus, e a segunda à Leucemia. Por isso, a Revide inicia nesta edição uma série que discorrerá, a cada semana, sobre uma das três doenças representadas pela cor roxa, já que leucemia – à qual a laranja se refere – foi tema de reportagens na revista em três edições recentes. 


O Fevereiro Roxo tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce de três doenças distintas entre si, mas que têm em comum o fato de serem crônicas e não terem cura. A de Alzheimer é a forma mais comum de demência neurodegenerativa, com 50 milhões de pessoas diagnosticadas em todo o planeta, de acordo com a Alzheimer’s Disease International, e 1,2 milhão só no Brasil, que registra 100 mil novos casos por ano, segundo dados do Ministério da Saúde. É consenso que esses números tendem a crescer com o envelhecimento e longevidade da população.


Não há dados regionais oficiais sobre a doença, mas a tese de doutorado “Reavaliação da Incidência de Demência e a Evolução Clínica, Cognitiva e Estrutural encefálica durante 12 anos em Idosos de Ribeirão Preto”, defendida em 2019 pela pós-graduanda da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP (Universidade de São Paulo) Rívia Siqueira Amorim, anotou o percentual de 0,8% de casos entre a população a partir de 65 anos, ao ano – resulta em 680 pacientes em um universo de 85.017 idosos, segundo dados populacionais de 2023 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 


Para o orientador de Rívia, geriatra Julio Cesar Moriguti, esse número mudaria bastante se a pesquisa considerasse apenas pessoas acima de 85 anos. “A incidência seria de uns 15%”, estima. “Quanto mais idosa é a pessoa, maior é a chance de ter demência, ou seja, o principal fator de risco é envelhecer. E cerca de 60% dos quadros de demência são causados pela doença de Alzheimer”, acrescenta. Outro fator, segundo ele, é o histórico familiar, embora não seja a principal causa. “A questão principal a considerar é com que idade começou o processo no diagnosticado. Se foi com menos de 60 anos, a chance de ser familiar é grande. Se foi com 80, é mínima”, esclarece.
 

Diagnóstico, tratamento e prevenção


O diagnóstico de Alzheimer é principalmente clínico, ou seja, feito a partir de coleta de informações e avaliação do estado mental do paciente, que devem ser feitas por um geriatra ou neurologista especializado no tratamento da doença. Mas exames físicos e neurológicos dão suporte. “É necessário que o quadro clínico da pessoa atenda a alguns critérios. Um deles é o idoso ter pelo menos duas perdas cognitivas importantes, como alteração de linguagem e de funções visuoconstrutivas [capacidade de planejar e realizar movimentos necessários para organização de elementos no espaço ou formar um desenho]”, explica o médico. Outros sinais podem ser falta de memória recente, repetição da mesma pergunta várias vezes, dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos, de dirigir ou encontrar caminhos conhecidos, por exemplo. A partir desse estágio inicial, a doença progride por mais três, que vão da forma moderada (estágio 2), passando pela grave (3) ao terminal (4).


O tratamento medicamentoso à disposição para o Alzheimer não reverte o quadro instalado, apenas alivia os sintomas e estabiliza ou retarda sua progressão. Por isso a demora no diagnóstico é um problema. Moriguti garante, porém, que dá para prevenir a doença. Manter a cabeça ativa e uma boa vida social, regada a bons hábitos e estilo de vida, pode retardar ou até mesmo inibir a manifestação da doença. “Cerca de 50 minutos de atividade física por dia, pelo menos três vezes por semana, são suficientes. Outras iniciativas são fazer treinamentos cognitivos, como aqueles testes de raciocínio lógico dados em provas de concursos (melhoram a memória) e controlar fatores de risco, como diabetes, hipertensão, fumo, álcool, depressão, colesterol elevado e trauma craniano”, enumera o médico.

 

FAMÍLIA  AFETADA


Um diagnóstico de demência por doença de Alzheimer pode afetar muito e de diferentes formas a dinâmica de uma família. O pai da profissional da área de saúde Adriana (nome fictício) foi diagnosticado há cinco anos com a doença. Desde então, vários ajustes familiares foram necessários.  Ela conta que, até os 75 anos, o aposentado tinha muita autonomia. Era quem cuidava das finanças da casa e conduzia reparos em sua casa e nas das três filhas, mas começou a se distanciar dessas atividades. “No começo, achamos que era uma dificuldade intrínseca à casa ou que ele não estava mais a fim de fazer. Depois de um tempo notamos que era um afastamento por dificuldade e não por desejo”, lembra Adriana. 


De acordo com ela, a família primeiro ficou em dúvida se aquelas alterações de comportamento eram normais da idade ou mereciam uma investigação mais aprofundada, mas acabou levando-o a um geriatra. O diagnóstico não foi fechado de pronto. Entre a primeira consulta e sua confirmação passou-se cerca de um ano entre consultas e exames.


Confirmado o diagnóstico, a família iniciou adaptações na rotina do idoso visando a garantir seu bem-estar, segurança e saúde, com a esposa assumindo o papel de cuidadora. Atualmente com 81 anos, o aposentado convive com a doença no estágio 2. “Ou seja, ele ainda pode piorar, mas a gente tem esperança de que a progressão seja lenta”, comenta Adriana. Segundo ela, o pai mantém uma convivência familiar saudável, reconhece as pessoas, mas não consegue mais resolver problemas domésticos e por vezes tem dificuldade em acertar um caminho.


O processo de adaptação foi difícil para toda a família. “Qualquer doença é difícil de aceitar. Mas, apesar de toda a tristeza envolvida, junto vem também uma busca por consolo e aceitação. Não tem outra opção, até porque não aceitar só dificultaria, porque deixaríamos de tomar condutas necessárias ao paciente”, diz Adriana.


Entre as muitas coisas que ela diz ter aprendido no processo, destaca a importância do médico e outros profissionais de saúde, tanto para orientar a família quanto para controlar o humor do paciente. “A gente [trabalhador na saúde] não tem noção da ajuda que pode dar em cada caso... Até me emociona falar”, conclui, com voz embargada.


 

DÁ PARA PREVENIR


As melhores formas de prevenir o alzheimer são muito semelhantes às de outras doenças crônicas, como diabetes, câncer e hipertensão, e são:


• Estudar, ler, pensar, mantendo a mente sempre ativa;

• Fazer exercícios de aritmética;

• Fazer jogos inteligentes;

• Participar de atividades em grupo;

• Não fumar;

• Não consumir bebida alcoólica;

• Ter alimentação saudável e regrada;
 
• Praticar atividades físicas regulares.


Foto: Freepik

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