Flurona: entenda como ocorre a dupla infecção
Até terça-feira, 4, nenhum caso de "Flurona" foi confirmado em Ribeirão Preto

Flurona: entenda como ocorre a dupla infecção

Especialista da USP esclarece dúvidas sobre a contaminação simultânea por gripe e Covid-19, denominada Flurona

A contaminação pela Covid-19 e pela gripe ao mesmo tempo foi constatada em alguns estados do Brasil no decorrer desta semana. Até essa terça-feira, 4, em Ribeirão Preto, nenhum caso da dupla infecção, denominada Flurona, foi confirmado, segundo dados da Secretaria da Saúde do município. 

O professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, Fernando Bellissimo Rodrigues, explica que essa infecção ocorre já que o meio de transmissão é o mesmo. Além disso, por se tratarem de vírus que têm como alvo o sistema respiratório, os sintomas se assemelham.

Como é possível essa dupla infecção acontecer?

RODRIGUES: A pessoa pode se infectar simultaneamente por ambos os vírus, porque o meio de transmissão é o mesmo. Então, uma pessoa que vá em uma festa com centenas de pessoas, a possibilidade de ela encontrar uma infectada com o coronavírus e outra com a gripe não é pequena. Essa probabilidade é especialmente alta se essa pessoa for um jovem que, muitas vezes, nessas festas, tem o hábito de beijar dezenas de pessoas. É mais ou menos como as doenças sexualmente transmissíveis, em que você pode pegar Aids e Gonorreia em uma mesma relação sexual, já que o mecanismo de transmissão é o mesmo. Se você não usa preservativo, você pode pegar duas ou três ISTs, se você não usa máscara, você pode pegar duas ou três infecções respiratórias ao mesmo tempo.

Existe alguma maneira de diferenciar as doenças pelos sintomas?

RODRIGUES: Em alguns casos, a alteração do paladar e do olfato sugerem mais a possibilidade de Covid do que de gripe. Porém, nem todos os casos de Covid tem alteração do olfato e do paladar. Então, na maioria dos casos, não é possível diferenciar essas doenças apenas pelos sintomas, mas sim, por exames de biologia molecular.

Existe alguma explicação para os sintomas da gripe e da Covid-19 serem parecidos?

RODRIGUES: Os sintomas das gripes e da Covid são parecidos, porque ambos os vírus causadores dessas doenças têm como alvo principal as células do epitélio respiratório, assim como outros vírus respiratórios que tem essas células como alvo. Por isso, a reação do organismo é muito parecida e os sintomas iniciais também. Embora, mas adiante no curso da doença, isso possa se diferenciar, no qual acontece nos casos graves de Covid.

 Qual a maior preocupação em relação ao "Flurona". O senhor acredita que terão altos números de casos?

RODRIGUES: A preocupação em relação a essa combinação de gripe com Covid é em relação a possibilidade de agravamento no quadro clínico. Existe a possibilidade de uma pessoa idosa ou com uma doença crônica pegar as duas doenças ao mesmo tempo e ter um curso clínico pior do que se pegasse apenas uma. Porém, isso ainda não foi demonstrado, é uma preocupação teórica. Até o momento, a gente não sabe muito bem qual é o feitio, vamos dizer assim, dessa combinação de infecções.

A gripe pode agravar o caso do paciente da mesma forma que a Covid-19?

RODRIGUES: A gripe também pode se agravar da mesma forma que a Covid. Isso, é menos comum nos casos de infecção pelo vírus Influenza, mas é sempre bom lembrar que ela também mata pessoas idosas, muitas vezes desencadeando uma pneumonia bacteriana, pessoas com doença coronariana, desencadeando um infarto, pessoas com diabetes, descontrolando a doença e desencadeando um derrame ou um AVC. Então, a gripe pode matar e mata, especialmente as pessoas mais idosas e com doenças crônicas, muitas vezes, descompensando, descontrolando a doença.

Por que os casos de gripe vêm aumentando neste período?

RODRIGUES: De fato, não é habitual ter surto de gripe no verão. É uma doença que tem tipicamente uma característica sazonal, afetando mais as pessoas no outono e no inverno, e a gente não sabe muito bem o porquê de estar acontecendo isso neste momento. Uma possível explicação é que a gente tem abortado o surto de gripe durante o inverno, porque nesse período, no hemisfério sul, a pandemia de Covid estava no seu auge e as pessoas estavam usando mais máscaras, lavando mais as mãos e usando mais álcool em gel. Nós evitamos esse surto de gripe naquela ocasião e, agora, com o arrefecimento da pandemia de Covid, as pessoas passaram a ter uma vida mais próxima do normal, relaxaram o uso de máscaras, voltaram a fazer festas e aglomerações. Então, nós temos um grande contingente de pessoas suscetíveis que não pegaram gripe no inverno e, portanto, não se imunizaram, que estão pegando agora. É uma possibilidade que o relaxamento nas medidas de contensão da Covid tenha impulsionado também a disseminação do vírus influenza.

 


Foto: Pixabay

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