HC de Ribeirão Preto desmente cirurgia que tem recursos arrecadados on-line
Mãe afirmou que, na verdade, cirurgia seria realizada em Curitiba, mas hospital paranaense disse não ter registros da paciente

HC de Ribeirão Preto desmente cirurgia que tem recursos arrecadados on-line

Segundo o hospital, a menina era atendida pelo SUS e os procedimentos citados na campanha não foram realizados

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-RP) desmentiu, pelas redes sociais, uma campanha que arrecada dinheiro para a realização de uma cirurgia da menina Taylla Cristina Silva, 9 anos. Segundo o centro médico, a garota era atendida pelo SUS e os procedimentos citados na campanha não foram realizados.

O anúncio diz que o hospital tomou conhecimento de uma campanha de arrecadação de dinheiro em prol de uma criança tratada no local pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que precisaria passar por uma cirurgia cardíaca.

Em nome da criança, são solicitadas contribuições financeiras, por meio de depósitos em nome da mãe Taisa Elaine Pagliaroni Almeida Silva, também citada com o sobrenome Borges em algumas ocasiões, e também da outra parente, Sidineia Pagliaroni Almeida.

O HC informa que a paciente em questão não foi submetida a qualquer cirurgia nas datas mencionadas nas mídias sociais. As datas foram, inclusive, apagadas da internet. “Aparentemente, a campanha apresenta informações inverídicas que necessitam ser esclarecidas. A Instituição está tomando as devidas providencias legais cabíveis em relação ao caso e também para evitar propagação de campanhas possivelmente fraudulentas envolvendo este Hospital”, publicou o HC.

O centro médico reitera que não cobra por consultas, exames, cirurgias ou medicamentos. Todos os procedimentos são realizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde. “Sendo assim, o Hospital das Clínicas sugere à população que tenha cautela na hora de fazer doações para campanhas semelhantes, em especial no caso aqui mencionado, diante da suspeita de fraude e até que sejam apurados os fatos pelas autoridades competentes”, esclareceu a nota.

Em pesquisa, o Portal Revide apurou que há várias campanhas que pedem dinheiro em prol da menina. A hashtag “Todos pela Taylla” tem se popularizado desde o ano de 2016, pois vários artistas e programas televisivos têm pedido para que a população doe dinheiro em prol da criança. Nas campanhas é compartilhado que a garota precisa realizar uma cirurgia no coração. 

Pelo menos quatro campanhas de arrecadação de dinheiro para Taylla foram encontradas na internet

Os anúncios da mãe em 2018 eram feitos pela rede social Instagram. No entanto, a página de Taylla está fora do ar atualmente. O Portal Revide encontrou uma página do Facebook que era utilizada para divulgar a campanha até 2017. Encontrada pela redação, a administradora da página optou por não se manifestar. Pouco tempo depois da abordagem, o perfil on-line foi desativado.

O Instagram da campanha foi cancelado  A reportagem manteve contato com uma pessoa que não quis se identificar, mas que chegou a colaborar com a causa. Ela afirmou que deixou de prestar auxílio à família por duvidar dos motivos da arrecadação.

“Conheci a Taisa, mãe da Taylla, mas comecei a desconfiar de algumas irregularidades, por isso parei de ajudar. Ela usa o Instagram para esses fins. Eu desconfiei quando ela disse que o hospital das clínicas estaria cobrando R$ 45 mil por uma cirurgia cardíaca”.

Esclarecimentos

O Portal Revide entrou em contato com a mãe, que informou ter existido um mal entendido. Taisa disse que, na verdade, a cirurgia é para a coluna.

“A cirurgia da coluna custa R$ 180 mil, mas o valor já foi conseguido. O procedimento cirúrgico será realizado no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. Eu vi a manifestação do hospital e já até contatei eles, pois acredito que houve divergências. Ela tem um retorno em agosto na capital paranaense”, afirmou a mulher.

Questionada sobre as arrecadações de dinheiro, ela informa que a vaquinha já está suspensa, pois não é preciso mais dinheiro. “Não está funcionando mais. O Instagram da Taylla foi cancelado, pois o valor já foi conseguido”, disse.

Hospitais

O Portal Revide conversou com a assessoria de imprensa do HC sobre a informação passada por Taisa. O hospital está em contato com a equipe jurídica para confirmar se houve um retorno da mulher perante o centro médico.

Já em contato com o Hospital Pequeno Príncipe, onde a mãe alega uma futura consulta de Taylla, a assessoria de imprensa comunicou que não há registros de consulta para a menina no Hospital. "Ela nunca foi consultada aqui no hospital e também não foi no estado do Paraná. Para passar por um atendimento em qualquer hospital do Estado, após a consulta é criado um cadastro na Central de Regularização de Leitos, no entanto, não existe cadastro com o nome da menina ou da mãe", afirmou a assessoria via telefone.

O hospital paranaense informou, ainda, que o local não possui históricos ou futuras consultas com a garota de Ribeirão Preto, seja no sistema público de saúde, ou particular. "Uma cirurgia desta, de maneira privada, seria realizada com quantias milionárias. No Pequeno Príncipe há uma fila de espera para procedimentos cirúrgicos de mais de cinco anos. Não estamos recebendo demandas de outros estados", explicou.

Diagnóstico

O caso de Taylla não é explicado detalhadamente nas arrecadações on-line. Há petições em que o diagnóstico é apresentado como deformidade na coluna, sendo uma escoliose acentuada grave, e, em outras solicitações, o pedido é para uma cirurgia cardíaca. Na entrevista que concedeu ao Portal Revide, a mãe de Taylla descartou tratamento cardíaco no HC de Ribeirão Preto. 


Foto: Divulgação

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