Hospital das Clínicas realiza acompanhamento multidisciplinar para pessoas trans
Os tratamentos são realizados no Ambulatório de Estudos em Sexualidade Humana, que conta com uma equipe especializada no assunto
O Ambulatório de Estudos em Sexualidade Humana (AESH), do Setor de Reprodução Humana do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, é um serviço voltado para o atendimento de mulheres que tem dificuldades sexuais. A partir de 2012, o AESH também passou a oferecer a terapia hormonal para pessoas transexuais.
A assistência às pessoas transexuais no AESH foi oficializada em dezembro de 2012, seguindo um protocolo de assistência clínica e psicológica. O serviço ainda não disponibiliza a cirurgia de redesignação sexual por limitações técnicas. O local conta com uma equipe multidisciplinar composta por ginecologistas, psicólogos, psiquiatra e fonoaudiólogos que trabalham de forma interdisciplinar, o que favorece a assistência integral às pessoas que procuram o serviço.
Segundo pesquisa realizada pela psicóloga e doutoranda do programa de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), Maria Rita Lerri, que atua no AESH, os problemas psíquicos que esta população enfrenta "são imensuráveis, devido ao preconceito e maus tratos que sofrem dentro da família, nos serviços públicos e na sociedade".
No estudo inicial, 72,5% das pessoas trans relataram uma ou mais tentativas de suicídio. Os principais fatores motivadores para verem na morte a solução para o seus sofrimentos foram: a discriminação social devido à transexualidade, a não aceitação familiar e a não aceitação do próprio corpo. Mais de 80% tinha ansiedade e/ou depressão.
“As pessoas trans passam por agressões físicas e verdadeiras torturas psíquicas em virtude da intolerância, preconceito e discriminação social, o que leva a depressão e ansiedade”, comenta Maria. Com isto, o risco de suicídio nesta população é 20 vezes maior do que na população geral.
"Isso mostra a necessidade de implementar políticas públicas de cuidado, que possam resgatar a saúde física e psíquica dessa população, para que a transição possa ocorrer de forma segura e eficaz. Um fator essencial também é que os gestores de políticas públicas de educação, saúde e integração social criem estratégias para reduzir os estigmas e preconceitos relacionados a transexualidade. Isto irá proporcionar às pessoas trans a oportunidade de desenvolverem as suas potencialidades a favor delas mesmas, de suas famílias e da sociedade, em vez de terem que gastar todo este potencial para se protegerem de tudo e de todos", conclui a especialista.
Redesignação sexual
O nome técnico do procedimento cirúrgico é transgenitalização, contudo, o processo é chamado de redesignação sexual. A psicóloga com residência em saúde mental, Ana Beatriz Franceschini, explica o porquê deste termo. “O correto é chamarmos de redesignação ou readequação. Falar ‘mudança de sexo’ dá a entender que a pessoa está mudando para outra coisa. Quando, na verdade, ela está mudando para aquilo que ela é. É uma adequação. Para nós pode até parecer algo sutil, mas, para quem está vivenciado esta situação faz toda a diferença” esclarece a psicóloga.
Já a doutora em ginecologia obstetrícia e especialista em saúde sexual, Lúcia Alves da Silva Lara, uma das responsáveis pelo AESH, explica a necessidade de um acompanhamento sério e cauteloso para estas pessoas. "O tratamento visa reduzir as características masculinas na mulher trans, por meio da redução da testosterona, e reduzir as características femininas no homem trans, por meio da redução do estrogênio. Isto implica em riscos para a saúde como, por exemplo, risco aumentado de problemas cardiovasculares e da osteoporose", explica a doutora.
Contudo, a fila de espera para o procedimento no Brasil é de quase duas décadas. O procedimento que era realizado no Hospital das Clínicas de São Paulo, foi cancelado por tempo indeterminado devido a longa fila. "Estamos com uma demanda reprimida de pessoas que necessitam realizar a cirurgia, que é uma condição essencial para a promoção da saúde psíquica e do bem estar, para aqueles que necessitam deste tipo de cuidado. Lamentavelmente, para conseguir a cirurgia genital atualmente, a pessoa trans precisa aguardar de 15 a 20 anos”, conclui Lúcia.
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