Jogos de videogame ajudam pacientes com esclerose múltipla

Jogos de videogame ajudam pacientes com esclerose múltipla

Videogame tem a função de fornecer novas estruturas cerebrais aos portadores da doença

Um estudo publicado na revista Radiology constatou que os jogos de videogame que “treinam o cérebro” podem ajudar a melhorar algumas habilidades cognitivas em pacientes com esclerose múltipla (EM), através do reforço de conexões neurais em uma importante parte do cérebro.

A pesquisa foi coordenada pela médica Laura De Giglio, do Departamento de Neurologia e Psiquiatria na Universidade Sapienza, em Roma, que estudou junto com outros pesquisadores, os efeitos de um programa de reabilitação cognitiva baseado em jogos de videogame no tálamo em pacientes com EM.

Segundo o Ministério da Saúde, no Estado de São Paulo são 15 casos de esclerose múltipla para cada 100 mil habitantes. Ao todo, no Brasil, 24 mil são portadores da doença. A EM é uma enfermidade inflamatória crônica do sistema nervoso central, que provoca danos no revestimento protetor das fibras nervosas. 

De acordo com a psicóloga, especialista em neuropsicologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Carina Tellaroli Spedo, esta doença é neurológica, marcada pelo desenvolvimento de lesões, por todo o cérebro e medula espinhal. “Pode comprometer a substância branca e cinzenta do cérebro, o que causa sequelas permanentes”, explica.

Com uma multiplicidade de sintomas, os mais visíveis são distúrbios visuais, fraqueza, problemas motores, perda de equilíbrio, tremor, perturbações da bexiga, entre outros. “As taxas de prevalência para a ocorrência dos sintomas cognitivos variam de 43 a 70%, mesmo no estágio inicial da doença”, afirma Carina. Ela diz ainda que quanto mais sintomas a pessoa tiver, mais chances de sequelas ela poderá ter.

Videogame

Para esclarecer o estudo publicado pela revista Radiology, a especialista em neuropsicologia comenta que o videogame tem a função de fornecer novas estruturas cerebrais às pessoas com esclerose múltipla. “A literatura aponta a existência de uma relação causal entre o uso do videogame e o aprimoramento das habilidades cognitivas. Favoravelmente, uma das vantagens dos programas de reabilitação cognitiva utilizando jogos é a flexibilidade, pois após uma avaliação neuropsicológica a reabilitação pode ser orientada e supervisionada em consultas semanais pelo neuropsicólogo”, frisa.

Deste modo, o paciente pode treinar em casa, sem a necessidade de supervisão contínua. Ela afirma que esta possibilidade aponta para o papel de reabilitação cognitiva, com o uso de jogos como um agente que pode contribuir com as implicações clínicas, porém não é qualquer jogo que irá resultar em efetividade ou melhora da sintomatologia causada pela disfunção cognitiva.

“O uso do videogame para a reabilitação cognitiva na EM é uma ferramenta atrativa, mas que precisa ser melhor estudada”, completa.

Conectividade neural

As imagens funcionais do cérebro podem fornecer informações sobre a conectividade neural, pois, de acordo com a psicóloga, as pesquisas que foram conduzidas utilizando novas técnicas de neuroimagem funcional permitiram o estudo do cérebro durante a realização das tarefas cognitivas. O resultado mostrou que existe um aumento significativo da atividade cerebral, após reabilitação cognitiva.

“As técnicas de imagens funcionais do cérebro são ferramentas valiosas para identificar as áreas de disfunção e prover evidência da neuroplasticidade, representando visualmente a natureza adaptativa do cérebro em resposta à reabilitação”, aponta.

Agir

Carina explica que, a cada treino, as redes de neurônios são rearranjadas e novas sinapses são reforçadas, sendo que  a neuroplasticidade reforçou o conceito sobre a necessidade de desenvolver ‘jogos’ ou técnicas direcionadas à reabilitação.

“Neste estudo coordenado pela dra. Laura De Giglio, do Departamento de Neurologia e Psiquiatria da Universidade Sapienza, em Roma, os pesquisadores utilizaram o videogame e sugeriram um programa de reabilitação cognitiva intitulado, como "Dr. Kawashima's Brain Training”. Isso promoveu a plasticidade entre o Tálamo e as áreas corticais específicas”, acrescenta.

Carina conclui existem tratamentos alternativos, como a Reabilitação Neuropsicológica, para atuar no alívio dos sintomas cognitivos. E, como coadjuvante tem a terapia medicamentosa, para o manejo da doença. “Isto em si é um sinal de que há esperanças de uma melhor qualidade de vida não somente para os pacientes EM, mas a todos os acometidos por lesões neurológicas”, finaliza.


Foto: Arquivo Revide

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