Método evita gravidez indesejada em dependentes químicas

Método evita gravidez indesejada em dependentes químicas

Ao todo, 2 mil implantes já foram fornecidos pela USP de Ribeirão Preto; Veja como funciona

Com o objetivo de evitar gestações indesejadas, a médica do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto, Carolina Sales Vieira, desenvolveu um novo contraceptivo para dependentes químicas.

O projeto, que teve início em 2007, já forneceu 2 mil implantes, sendo que 800 foram em usuárias de drogas. O método previne gestações não planejadas por um período de até três anos, e tem eficácia superior a 99%.

A ideia despertou o interesse da comunidade por abrir a possibilidade de atingir diretamente a população de baixa renda, como as adolescentes, usuárias de drogas e portadoras de HIV.

De acordo com a médica, a maior dificuldade é conseguir esse implante, pois ele não é distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Os 17 implantes que recebo por mês são de doações e acabam em menos de duas semanas”, diz.

Ela conta que atualmente existem 300 pessoas na lista de espera para receber o método. O bastão tem quatro centímetros e a vantagem de funcionar dez vezes mais do que a laqueadura, que é um método contraceptivo definitivo que consiste na interrupção da trompa da mulher.

“Ele tem dez vezes menos falha do que a laqueadura, que são cinco falhas a cada dez mil usuários e é parecido com um palito de fósforo de plástico, que solta pílula todos os dias”, explica.

O contraceptivo é aplicado embaixo da pele braço, ficando imperceptível . A composição do implante é de etonogestrel, que possui o hormônio progesterona, que, liberado no organismo, impede a ovulação. A médica ginecologista diz que caso a mulher queira engravidar, é só tirar o implante.

Abordagem

A procura pelas mulheres usuárias de drogas começam pelos pontos mais frequentados por elas, como praças depredadas, viadutos, construções abandonadas e comunidades de baixa renda. 

“Quando fazemos as abordagens nas ruas, questionamos a mulher sobre a gravidez e, caso não seja o desejo dela, encaminhamos para o Hospital das Clínicas ou para o Ambulatório de Especialidades, da Rua Cuiabá, 601”, comenta Vieira.

O início da abordagem é feito no período da manhã, quando a maioria delas se encontra ‘limpa’ das drogas e, assim, estão mais dispostas a um diálogo sobre o uso do contraceptivo.

A médica relata que uma das abordagens também pode acontecer nos hospitais, quando a mulher acaba de ganhar bebê, perguntando a ela o interesse em colocar o implante.

Segundo a auxiliar de pesquisa do Hospital das Clinicas (HC), Océlia de Vasconcelos, este trabalho teve início pela situação de vulnerabilidade em que se encontram as usuárias de crack. “Muitas trocam sexo por drogas, sem nenhuma prevenção e acabam engravidando”, comenta.

Ela diz ainda que a maioria dos bebês que nascem das viciadas correm 15 vezes mais riscos de morrer por prematuridade.

Problemas

A médica Carolina destaca que um grande empecilho para as pessoas de baixa renda é o valor do bastão, que custa em média R$ 700. “Estamos tentando provar que o custo-benefício desse método é vantajoso para o Sistema de Saúde no Brasil e colocá-lo na rede pública. Basta calcular o que se gasta com pré-natal, parto e manutenção dessas crianças”, afirma.

Ela relata que uma gravidez não desejada custa para o governo R$ 2.300 e mais de 95% das gestações em usuárias de drogas não são planejadas. “É muito difícil, porque o governo não disponibiliza o implante e fica mais caro para ele pagar por gravidez indesejada”, completa.


Foto: Divulgação

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