Método inédito no País detecta tumor cerebral em crianças

Método inédito no País detecta tumor cerebral em crianças

Pesquisa da Unicamp identificou diagnóstico que deve aumentar precisão nas cirurgias e reduzir o risco de mortes e sequelas

Por meio de uma nova técnica é possível identificar tumores cerebrais de crianças e adolescentes, o que permite um diagnóstico em nível molecular, ou seja, mais preciso e em tempo real. Foi o que constataram pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unicamp e do Centro Infantil Boldrini, de Campinas (SP).

A pesquisa conseguiu identificar o tumor cerebral por meio de técnicas de Espectrometria de Massas via Desorção/Ionização em Condições Ambientais (DESI e EASI).

O grande diferencial desta iniciativa é a possibilidade do diagnóstico em nível molecular, que é mais moderno e avançado do que o diagnóstico anatomopatológico, procedimento convencional que utiliza a microscopia óptica e exames complementares para analisar a morfologia dos tecidos e a estrutura das células. Conforme o grupo de cientistas envolvidos, existem trabalhos recentes semelhantes nos Estados Unidos (EUA), mas no Brasil a técnica é inédita.

Segundo os pesquisadores, a expectativa com o trabalho é aumentar a precisão nas cirurgias e reduzir o risco de mortes e sequelas, além de acelerar o processo de recuperação dos pacientes.

O coordenador do estudo, Marcos Nogueira Eberlin, do Laboratório Tho ThoMSon de Espectrometria de Massas, vinculado ao IQ, explica como é feito o procedimento da pesquisa. “Com um pequeno fragmento do tecido sobre uma lâmina, nós fazemos uma espécie de escaneamento químico, sem nenhum preparo na amostra. Este escaneamento detecta os componentes químicos que estão presentes ali, que são lipídios, proteínas e peptídeos. Portanto, quando o scanner passa sobre a superfície de um tecido sadio, o perfil químico será de um tecido sadio”, afirma.

Ele diz ainda que quando o scanner passa sobre um tumor, o perfil muda drasticamente.

Diferencial

Nem sempre é possível identificar a diferença entre os tumores, as células sadias e as malignas pelas análises morfológicas, pois muitas neoplasias têm a morfologia similar.

Eberlin acrescenta que um patologista, pelo método convencional, usa as ferramentas que ele tem disponível há bastante tempo para saber se há tumor e qual o seu tipo.

“Assim, ele faz tingimentos, olha no microscópio e analisa a morfologia, utilizando toda sua experiência. Mas isto nem sempre é preciso. Esta nossa técnica se associa ao diagnóstico morfológico e citológico, permitindo uma análise muito mais precisa”, comenta.

O coordenador da pesquisa fala ainda que o perfil molecular fornece a distribuição do tumor com uma precisão que nunca tinha sido alcançada. Se os marcadores moleculares da doença estão no tecido, a resposta é clara: a pessoa tem câncer. “Se não há marcadores, não tem neoplasia. O impacto disso numa cirurgia de altíssimo risco, envolvendo o cérebro humano, é muito grande”, relata.

A patologista do Centro Infantil Boldrini, Izilda Aparecida Cardinalli, também participou da pesquisa. Para ela, somente com a microscopia óptica é muito difícil fazer o diagnóstico dos tumores. Mesmo para os patologistas mais experientes acaba sendo um desafio. “Agora, com esta técnica, será possível fazer um diagnóstico diferencial, mais exato e completo, no nível molecular, somando ao diagnóstico convencional já existente”, diz.

Exemplo

A médica exemplifica, citando a dificuldade do diagnóstico convencional especificamente em gliomas, tumores comuns em crianças e adolescentes. “É difícil saber o que é tumor e separá-lo do tecido normal. Portanto, o desafio é o cirurgião saber até onde ele pode retirar o tumor. Imagina o risco disso no cérebro humano?”, questiona.

Ela acrescenta que a técnica utilizada permite, assim como o diagnóstico convencional, uma análise em tempo real, no momento em que a cirurgia ocorre. Isso será possível no Centro Boldrini, pois Secretaria Executiva do Ministério da Saúde liberou R$ 1,3 milhão para a compra de um espectrômetro de massas. Por meio deste equipamento e de um software, será possível analisar com nitidez, pela tela do computador, os fragmentos do tecido cerebral, durante o procedimento cirúrgico.

O professor Eberlin ressalta que o Centro Boldrini tem duas peculiaridades que estimularam a parceria para a pesquisa: a assistência às crianças e adolescentes, e o atendimento majoritário a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Os pesquisadores da Unicamp, Pedro Henrique Vendramini, Célio Fernando Figueiredo Angolini e Nicolas Vilczaki Schwab, todos do Laboratório ThoMSon, também participaram dos estudos.

 

Fotos: Arquivo Revide

Compartilhar: