Microcefalia não tem relação com vacina de rubéola

Microcefalia não tem relação com vacina de rubéola

Portal Revide consultou especialista para esclarecer a relação entre a doença e um suposto lote vencido das vacinas

Com a ascendência das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, alguns boatos também começam a aparecer, com justificativas, tratamentos, explicações sobre o Zika vírus, a dengue e a febre chikungunya.

Foi o que aconteceu com a informação equivocada sobre a microcefalia, que estaria sendo causada por um lote vencido de vacina contra a rubéola, que teria sido aplicado em gestantes no Nordeste. O caso levantou questionamentos da população brasileira.

Para explicar os falsos levantamentos do caso, o médico Geraldo Duarte, do setor de gestação de alto risco do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, relata que a afirmação é uma assertiva sem fundamento. “Nenhum dos componentes da vacina apresenta este potencial. Também não há nenhuma prova cientificamente embasada para este tipo de comentário”, aponta.

A indicação da vacina contra rubéola, que aparece na forma de tríplice viral, também protege contra caxumba e sarampo, ou quádrupla viral, que, além dessas doenças, protege contra catapora, é somente para crianças, que tomam a primeira dose aos 12 meses e a segunda aos 15 meses. Adolescentes e adultos não vacinados também devem tomar duas doses.

Para esclarecer o assunto, o Ministério da Saúde divulgou uma nota, ressaltando que a vacinação é um ato preventivo de promoção e proteção da saúde, considerado prioritário pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS).

“As vacinas que a organização recomenda para as gestantes e que são oferecidas no Sistema Único de Saúde (SUS) são seguras e eficazes”, disse a nota.

Ainda de acordo com a OPAS/OMS, a vacinação contra o tétano neonatal é feita há muitas décadas no Brasil e foi decisiva para tornar essa doença rara no País. Desde o ano 2000, mais de 22 milhões de doses já foram administradas em gestantes. Além disso, para reforçar ou complementar o esquema de imunização, foi incluída em 2014 no Calendário Nacional de Vacinação da gestante a vacina contra difteria, tétano e coqueluche (pertussis acelular) – dTPa. O produto é disponibilizado para mulheres grávidas a partir da 27ª semana de gestação e pode ser administrada até 20 dias antes da data provável do parto.

Partilhando do mesmo pensamento da nota, Duarte ressalta que a vacina contra rubéola é contraindicada a gestantes, pois administra vírus vivos.

“O Brasil tem a maior experiência do uso desta vacina em gestantes, o que ocorreu inadvertidamente. Veja a última campanha de vacinação em massa contra a rubéola, na qual várias mulheres que não sabiam que estavam grávidas receberam a vacina. O seguimento destas crianças demonstrou que não houve nenhuma malformação congênita decorrente da vacina”, destaca.

A OPAS/OMS completa que a vacina contra a rubéola não está no calendário da gestante e, conforme vários estudos internacionais, sua aplicação em mulheres que ainda desconheciam a gravidez não resultou em qualquer consequência negativa para o feto. Desde o ano 2000, o Brasil desenvolve estratégias para chegar à população feminina e proteger contra rubéola. Mais de 70 milhões de doses já foram administradas em mulheres em idade fértil no País.

Microcefalia no Brasil

Desde junho de 2015 até 30 de janeiro deste ano, 4.783 casos são suspeitos de microcefalia no Brasil. Desses, apenas 1.103 pacientes passaram por exames completos para identificação da doença. Em 404 casos, ou 36% do total, foi confirmada a relação da doença com o Zika Vírus.

O médico diz que com o aumento do número epidêmico de casos de microcefalia, criou-se a necessidade de buscar um fator causal. “A evolução do conhecimento indicou que o vírus Zika seria o responsável por este agravo da saúde perinatal”, explica.

Sendo um desafio para a saúde pública, a situação da microcefalia no Brasil gerou complicações.

“Além do problema orgânico da criança com microcefalia demandando a criação de novas estruturas de cuidado, existe a demanda psicológica para estas famílias. Se este aspecto do atendimento já era crítico sem os problemas do vírus Zika, com eles criou-se mais um problema de grandes dimensões para a saúde pública do Brasil”, conclui Duarte.


Foto: Venilton Kuchler/ ANPr

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