Obesidade interfere na aprendizagem das crianças

Obesidade interfere na aprendizagem das crianças

Foi constatado que o excesso de peso pode causar prejuízos na atenção e na capacidade de alternar respostas e ações nas crianças

A obesidade infantil causa danos no aprendizado das crianças. Foi o que constatou um estudo feito no Hospital da Clinicas (HCRP – USP), o qual mostrou que crianças obesas apresentam dificuldades na flexibilidade cognitiva.

A pesquisa foi realizada pela fonoaudióloga do HCRP, Patricia Zuanetti que teve como objetivo analisar a obesidade e desenvolvimento de respostas e ações das crianças, de acordo com as exigências de estímulos.

Foram avaliadas 41 crianças com idade média de oito a 13 anos, com perfis iguais, com o mesmo nível socioeconômico, histórico de doenças, entre outras intercorrências que podem interferir no desenvolvimento da linguagem.

De acordo com a pesquisadora, a igualdade foi necessária para que somente o fator de obesidade e aprendizado pudessem ser a condição estudada. “O intuito deste estudo foi relacionar duas variáveis de extrema importância em nossa atualidade”, diz.

Patricia afirma ainda que foi preciso analisar se a condição de obesidade influencia negativamente ou positivamente nas habilidades cognitivas envolvidas no aprendizado da leitura e escrita, pois isso se tornou necessária a discussão diante do quadro atual da sociedade.

As crianças foram submetidas à avaliação de leitura, escrita e testes, como identificação de símbolos, separação de sílabas, rimas de palavras, nomeação de cores, números, desenhos e letras, a ligação de números, memorização auditiva e visual de vários estímulos.

Ainda de acordo com a fonoaudióloga, o estudo fez com que compreendesse que a obesidade também pode afetar o desenvolvimento cognitivo, que é o desenvolvimento do cérebro, que intensifica o olhar da sociedade e de agentes de saúde para a condição nutricional.

Após avaliar dois grupos diferentes, um com crianças obesas e outro com crianças não obesas, a pesquisadora constatou que o excesso de peso pode causar prejuízos na atenção e na capacidade de alternar respostas e ações.

“No meu estudo, a atenção esteve prejudicada somente em níveis mais complexos, como na atividade de atenção alternada. Essa habilidade que é a capacidade de alternar entre estímulos diferentes e modificar seus atos a partir de respostas do meio estiveram alterados em grande parte das crianças com obesidade”, aponta a fonoaudióloga.

Já, as crianças do grupo não obesas conseguiram ler de forma mais adequada as palavras apresentadas, independente se eram palavras frequentes, inventadas ou não. “Mostraram uma melhor capacidade de escolher a melhor ‘forma de ler’”, afirma.

Dificuldades

Durante o estudo, foram encontradas algumas dificuldades. Patricia conta que os obstáculos foram relacionados à pouca aderência dos responsáveis aos processos de avaliação, pois alguns pais não aceitaram levar os seus filhos para a avaliação.  “Outra dificuldade foi tentar homogeneizar os grupos em relação a outras variáveis que podem interferir no desenvolvimento e aprendizagem escolar”, relata.

Além disso, a pesquisadora diz que notou por meio dos testes de ligar letras e números de forma alternada e sequencial, dificuldades na flexibilidade cognitiva das crianças obesas. “Compreende a aprendizagem a partir de erros, geração de novas estratégias e processamento de várias informações ao mesmo tempo. Logo, a flexibilidade é importante para o processo de leitura”, explica.

Ela completa que, se a flexibilidade está prejudicada, consequentemente, a alternância e a melhor escolha entre as rotas de leitura, com cada palavra, também estará, pois, a criança não conseguirá mudar a ‘forma de ler’ rapidamente, de acordo com o novo estímulo.

Obesidade

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2025, a taxa de obesidade infantil deve chegar a 75 milhões em todo o mundo, um dos problemas de saúde pública mais graves do século XXI.

Segundo a nutricionista Renata Cavalcante, não existem dúvidas quanto aos efeitos adversos da obesidade para a saúde. Os riscos aumentam com o grau da obesidade, causando consequências na vida e no bem estar.

Os problemas podem ser: metabólicos, como resistência a insulina e diabetes tipo dois, dislipidemias, esteatose hepática, cálculos biliares e síndrome do ovário policístico. Na situação de cardiovasculares, as causas são hipertensão, doença arterial coronariana, veias varicosas e edema periférico. Problemas como câncer de mama, do endométrio, de próstata, dos rins, do pâncreas e do cólon também podem ser causados pela obesidade.

“Apesar da participação de fatores genéticos, a obesidade é parcialmente evitável”, afirma. A nutricionista comenta ainda que durante o tratamento, a primeira conquista é que a pessoa tome consciência de que a obesidade é uma doença que pode causar várias outras.

“A mudança de hábitos e, principalmente, a reeducação alimentar são imprescindíveis para que o tratamento seja eficaz. E não podemos nos esquecer das atividades físicas, pois apesar dos pacientes resistirem é preciso sair da inércia”, destaca.

Ela completa que as escolhas alimentares adequadas precisam estar disponíveis a um preço razoável, bem como as propagandas sobre os alimentos com densidade energética alta e bebidas para as crianças devem ser restritas.


Foto: Arquivo Revide

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