Os perigos do cigarro eletônico

Os perigos do cigarro eletônico

Também conhecido como vape, dispositivo é cada vez mais usado no país. No entanto, sua comercialização é proibida pela Anvisa desde 2009 por causar dependência e outros problemas de saúde

Considerado menos nocivo pelos usuários, o cigarro eletrônico, também conhecido como vape – uma abreviação para vaporizador –, está cada vez mais popular no Brasil. No entanto, a venda, a importação e a propaganda do dispositivo (que parece um pendrive) são proibidas no país pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009. Mesmo assim, é possível encontrá-lo à venda com uma rápida pesquisa na internet ou até em lojas físicas, já que o seu uso não é considerado crime. Muitas pessoas recorrem ao vape para substituir o cigarro comum.

Esse é o caso do planejador de produção Bruno Fernandes de Oliveira, de 31 anos. Fumante por quase dez anos, ele conheceu o dispositivo em 2017, por indicação de um amigo. “Eu fumava um maço por dia. Resolvi experimentar o vape e uso até hoje, todo dia, com menos nicotina. A ideia é ir tirando para usar apenas em finais de semana e depois parar de vez”, afirma.

Segundo o infectologista e docente do Instituto de Educação Médica (Idomed), Daniel Messias Martins Alves Neiva, os cigarros eletrônicos são alimentados por bateria de lítio e contêm um refil que armazena um líquido composto por nicotina, solventes, água e outras substâncias, como aromatizantes. “A bateria, ao aquecer o líquido, gera aerossóis que contêm nicotina e outras substâncias que podem ser cancerígenas. Eles entraram no mercado americano em 2007 e têm vários nomes diferentes, que surgiram para amenizar o fato de serem cigarros: vape, e-cigs e pendrive”, detalha.

Ainda de acordo com o especialista, o objetivo do vape é gerar vaporização de nicotina, uma substância que age sobre o sistema nervoso central, causando o vício. “Além da dependência química, a questão comportamental é um agravante. O cigarro eletrônico não exala odores ruins e, por isso, é mais aceito socialmente e utilizado de maneira descontrolada por adolescentes e adultos. Várias entidades médicas já caracterizam o uso como uma epidemia de saúde pública, devido ao seu abuso, aos efeitos ainda não totalmente elucidados e à falta de regulação da sua comercialização”, ressalta.

Pneumologista Daniel Messias Martins e infectologista Pedro Luiz Pompeu da Silva

Sobre o uso do dispositivo por jovens, o infectologista explica que a indústria usa a internet para vendê-lo ilegalmente no país. “O jovem gosta do novo, do arriscado, e o vape representa isso. Ele tem uma infinidade de sabores, dando ao jovem mais motivos para experimentar cada novidade lançada. Mas, este gostinho pode se tornar muito amargo no futuro, por conta das substâncias tóxicas inaladas”, salienta. 

Apesar de muitas pessoas acreditarem que o cigarro eletrônico é uma alternativa para auxiliar um fumante a parar de fumar, o pneumologista do Sistema HapVida, Pedro Luiz Pompeu da Silva, esclarece que não é bem assim. “Essa informação é equivocada, fazendo o fumante acreditar que deu um passo adiante para se livrar dos malefícios do cigarro. Inúmeros estudos já mostraram que a transição para o vape diminui muito as chances de se parar de fumar quando comparado com métodos estabelecidos de cessação de tabagismo, sendo que muitos fumantes acabam fazendo uso das duas formas. Essa cessação se faz com técnicas aprovadas e eficazmente demonstradas por estudos clínicos sérios, sem viés da indústria, praticado por profissionais com experiência. As pessoas não devem se deixar enganar por falsas promessas ou métodos milagrosos”, reforça.

O médico ainda falou sobre os problemas de saúde que podem ser causados pelo uso do dispositivo. “Os malefícios são inúmeros, entre eles: desregulação do batimento ciliar dos brônquios, responsáveis pela eliminação de partículas indesejáveis; toxicidade às células do pulmão; aumento da mucina MUC5AC, substância diretamente responsável pelo aparecimento do enfisema pulmonar; e diminuição das trocas gasosas nos alvéolos. Sabe-se que 15 minutos de vaporização é o suficiente para fazer cair os níveis de oxigênio no sangue”, enfatiza. Silva também informou que não há estudos suficientes para saber os efeitos em curto, médio e longo prazo em quem convive com fumantes de vapes. “O que já sabemos, por exemplo, é que atravessa a barreira placentária, podendo causar danos ao feto”, finaliza. 


Fotos: Revide

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