Pesquisa aponta avanço no controle do Parkinson
Pesquisa aponta avanço no controle do Parkinson

Pesquisa aponta avanço no controle do Parkinson

Por engano, pesquisador da USP de Ribeirão Preto ‘descobre’ antibiótico com efeito neuroprotetor que pode ser utilizado no tratamento da doença

Um estudo publicado em fevereiro deste ano, na revista Scientific Reports, do grupo Nature, sugere que o medicamento antibiótico doxiciclina – um derivado da tetraciclina, antibiótico usado há mais de meio século contra infecções bacterianas – pode ser indicado em doses mais baixas para o tratamento da doença de Parkinson. 

O grupo responsável pela pesquisa é formado por três cientistas brasileiros vinculados à Universidade de São Paulo (USP) Elaine Del-Bel (Faculdade de Odontologia de Ribeirao Preto- Departamento de Morfologia, Fisiologia e Patologia Básica), Rosangela Itri  e Leandro R. S. Barbosa (Instituto de Física-USP, Departamento de Física Aplicada), em colaboração com equipe argentina dirigida por Rosana Chehin (Universidade de Tucuman), e duas pesquisadoras do Instituto do Cérebro e da Medula Espinhal (Paris França), Rita Raisman-Vozari (Diretora de Pesquisa do CNRS, Emérita), e Julia Sepulveda-Diaz.

“Temos dados animadores de experimentos com camundongos e uma grande esperança de que o efeito neuroprotetor também possa ser observado em pacientes humanos. Esse tratamento poderia impedir a evolução da doença de Parkinson”, explica a professora Elaine Del-Bel, pesquisadora da USP Ribeirão Preto. 

A pesquisadora conta ainda que estudos futuros com pacientes poderão investigar se a doxiciclina também poderá ter efeito benéfico em outras condições. “No entanto, até que cheguem a utilização no ser humano, os estudos são caros, necessitam da análise do efeito do tratamento em ao menos 500 pacientes e devem ser realizados por mais de um centro de pesquisa mundial (multicêntricos)”, completa.

Por engano

Há quatro anos, Marcio Lazzarini, ex-aluno de Elaine Del-Bel, estava em estágio de pós-doutorado no Max Planck Institute of Experimental Medicine, Alemanha. Lazzarini deveria induzir Parkinson em 40 camundongos. Ao término do estudo, o pesquisador verificou que nenhum dos camundongos estavam doentes.

O desespero inicial por acreditar na perda de todo o trabalho se transformou em surpresa pela descoberta de que tudo se devia a um “ato falho” na alimentação dos animais. Ao invés de ração normal, os bichos receberam durante todo o pós-operatório alimento especial com adição do antibiótico doxiciclina.

A professora conta que este foi o pontapé para um estudo publicado em 2013, confirmando os achados casualmente pelo erro alimentar. Além do tratamento por via oral, o grupo de pesquisa incluiu doxiciclina injetável. E todos foram suficientes para inibir as lesões neuronais do mal de Parkinson.

Os pesquisadores então descobriram que a doxiciclina é capaz de reduzir, em doses muito baixas, a toxicidade de uma proteína envolvida na doença de Parkinson, a α-sinucleína.

Avanço e teste em humanos

Del-Bel diz que ainda não há dados publicados, mas adianta que a doxiciclina melhora os sintomas da doença no modelo animal. “Resultados preliminares nos sugerem que, além da ação anti-inflamatória, de diminuir a liberação de algumas citocinas, a doxiciclina também altera a expressão de alguns genes-chave para o desenvolvimento da doença de Parkinson. Estamos em contato constante com neurologistas do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto e vamos fazer todo esforço possível para continuar estes estudos”, afirma Del-Bel.

Sobre o teste em humanos, a pesquisadora adianta que não há uma previsão, mas, adianta que devam começar dentro de cinco anos após a equipe conseguir um financiamento.


Foto: Guilherme Lara Campos

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