Pesquisa diz que 42% dos médicos não trabalhariam no SUS

Pesquisa diz que 42% dos médicos não trabalhariam no SUS

Em todo o País, apenas dois a cada dez médicos atuam exclusivamente no sistema público de saúde; O perfil desta minoria, segundo os dados, é constituído majoritariamente por mulheres jovens

O número de médicos no Brasil não para de crescer. Em outubro deste ano, a população médica atingiu a marca de aproximadamente 400 mil profissionais. Contudo, mesmo com um aumento de mais de 600% nos últimos 45 anos, não são todos os profissionais que estão dispostos a atender na rede pública de saúde. 

Segundo a pesquisa Demografia Médica no Brasil 2015, divulgada nesta segunda-feira, 30, 41,8% dos médicos afirmaram em entrevista que preferiam trabalhar no setor privado, ainda que, hipoteticamente, o setor público oferecesse as mesmas condições de trabalho e remuneração. O restante, 58,2%, atuaria no sistema público nas condições apresentadas pela pesquisa.

O levantamento foi realizado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) sob a coordenação do professor de Medicina Preventiva da Fmusp, Mário Scheffer, com apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).

Segmento

A realidade do Brasil atualmente, no entanto, é favorável ao setor privado. Em todo o País, dois entre dez médicos (21,6%) atuam exclusivamente no sistema público de saúde. O perfil desta minoria médica, segundo a pesquisa, é constituído majoritariamente por mulheres, jovens e com rendimentos inferiores ao grupo de médicos que atua exclusivamente na rede privada formado por 26,9% dos profissionais.

O restante 51,5% destes profissionais atuam nos dois setores. Somados proporcionalmente, 78,4% dos médicos tem vínculo com o setor privado e 73,1% com o setor público.  

Embora os números pareçam equilibrados, há uma discrepância no atendimento à saúde pública quando o número de habitantes que possuem planos e seguros de saúde é analisado.

Segundo levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em junho de 2015, os clientes de planos de saúde eram 50,5 milhões. Porém, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2014 a população brasileira era de mais de 200 milhões de habitantes. Logo, o número de brasileiros atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é três vezes maior que o número da população atendida pela rede privada – aproximadamente 150 milhões de brasileiros.   

O estudo sugere que a mudança desse cenário depende de decisões políticas capazes de gerar transformações estruturais no sistema de saúde brasileiro, “hoje marcado, de um lado, pela perpetuação do subfinanciamento público, o que ameaça a sustentabilidade do SUS, e, de outro, por políticas que incentivam o crescimento do mercado de planos e seguros de saúde e a ampliação da rede hospitalar privada”.

Mulheres na profissão

A Demografia Médica no Brasil constatou ainda um aumento no número de mulheres na medicina brasileira. Desde 2010, mais da metade de novos médicos é composta por elas. Até 2014 as mulheres médicas representavam 41% da categoria.

No Brasil, embora tenham o número de vínculos e carga horária equivalentes aos homens, as mulheres ainda recebem menor remuneração e são minoria em 38 das 53 especialidades médicas, o que aponta para desigualdades de gênero no exercício da medicina no País.

 

Foto: Arquivo Revide
 

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