Precisamos falar sobre o câncer

Precisamos falar sobre o câncer

Iniciativa da União Internacional para Controle do Câncer (UICC) definiu o 4 de fevereiro como o Dia Mundial do Câncer para aumentar a conscientização sobre a doença

Receber o diagnóstico de câncer foi como “estar em outra dimensão”. É assim que define a empresária e administradora de empresas Leandra Deval Paulino, de 48 anos. “Quero dizer que senti a presença de Deus o tempo todo, algo sobrenatural”, complementa. No ano passado, ela soube que estava com câncer de ovário. Foi preciso passar por uma cirurgia para retirar o órgão e também a trompa direita.

 

A biópsia constatou que não era um tumor atípico de ovário, mas vários exames apontavam a presença de outro tumor e que precisava ser encontrado o mais rápido possível para salvar sua vida. Seu médico chegou a dizer que eles tinham apenas sete dias para descobrir onde estava o câncer, para começar a quimioterapia com urgência. Leandra acredita que, nesta consulta, Deus falou com seu marido.

 

“Ele disse ao médico que, em outubro de 2021, eu havia tido úlceras. Na hora, o oncologista solicitou endoscopia e colonoscopia, pois já havia realizado todo tipo de exame e não encontrava o tumor. Quando cheguei na clínica, o médico iniciou pela endoscopia e descobriu. Eu estava com hemorragia no estômago. Foi preciso retirar um pouco de sangue para dar continuidade ao exame. Poderia morrer ali mesmo, com uma hemorragia”, recorda.


A empresária defende que estava viva naquele momento por um milagre, pois se alimentava e fazia suas atividades diárias normalmente. “Após o exame, fiquei 48 horas em observação, aí sim com dieta restrita. A biópsia veio somente para ter a confirmação do que os médicos já tinham certeza”, conta.

 


Leandra Deval Paulino faz tratamento contra o câncer e mantém a fé para lidar com a doença

 

Leandra recebeu uma ligação de seu médico no dia do seu aniversário em 2022, em 17 de agosto. Ela seguia para a fazenda, onde comemoraria a data com a família, quando veio a notícia da gravidade da doença, um câncer de estômago. “Não digo que é fácil, porque não é. Tem que ter muita fé.  A partir daí, comecei a buscar pela presença de Deus mais ainda. Sou evangélica. Todos os dias, peço que Ele me fortaleça e mantenha a alegria que sempre tive. A alegria vem do Senhor. Felicidade é feita de momentos, como a tristeza: vão e vem, mas passam. A alegria permanece”, afirma.

 
Com seis sessões de quimioterapia, o tumor reduziu 90%. Agora, ela aguarda nova consulta médica, mais exames e a evolução do tratamento para saber se será necessário passar pela gastrectomia total (remoção do estômago). Leandra ainda declara que não há necessidade de sair de Ribeirão Preto para o tratamento, pois a cidade possui médicos altamente qualificados.

 

“A gente aprende com esta doença terrível. Tudo muda. Comecei a olhar o mundo, as coisas e a mim mesma com outros olhos. Hoje, o que mais me importa é estar alegre na presença de Deus. Curtir cada dia como se fosse o último. Mas deixo claro que não deixei de sonhar e ter projetos. Simplesmente planejo, projeto e oro a Deus para que meus sonhos sejam os mesmos que os dele para a minha vida. Não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje. Tem que pedir perdão, se desculpar, dizer eu te amo, elogiar, fazer carinho. Que seja hoje, amanhã talvez não haja mais tempo”, aconselha a empresária.

 

Conscientização


Uma iniciativa da União Internacional para Controle do Câncer (UICC) estabeleceu o 4 de fevereiro como o Dia Mundial do Câncer. O objetivo é aumentar a conscientização sobre a doença, mostrando os fatores de risco, as formas de prevenção e a importância do diagnóstico precoce.

 

A doença causa a morte de cerca de 10 milhões de pessoas no mundo todos os anos. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que são esperados 704 mil casos da enfermidade por ano no Brasil durante o triênio 2023-2025, sendo que 70% dos casos estão previstos para as regiões Sul e Sudeste.


De acordo com o radio-oncologista do Centro de Tratamento em Radio-Oncologia – CTR, professor de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), Harley Francisco de Oliveira, a história do Dia Mundial do Câncer inicia-se em 2016.

 

A cada ano, a União Internacional para Controle do Câncer propõe novos temas para serem debatidos e 2023 marca o segundo ano da campanha “Fechar a lacuna de cuidados”, que trata de entender as desigualdades no tratamento da enfermidade e tomar ações para fazer o progresso necessário para resolvê-las, sugerindo o compartilhamento nas redes sociais das hashtags #PorCuidadosMaisJustos e #CloseTheCareGap.

 


Prof. Dr. Harley Francisco de Oliveira explica que o câncer é uma doença complexa caracterizada pelo crescimento anormal e descontrolado de células

 

“Viver em um mundo cada vez mais interconectado, onde o acesso à informação é rápido e fácil, possibilita a mobilização maciça em torno de temas importantes. Neste contexto, o Dia Mundial do Câncer é uma iniciativa que vale a pena ser aplaudida e divulgada. Nós podemos fazer a diferença”, informa. O médico explica que o câncer é uma doença complexa, que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, caracterizada pelo crescimento anormal e descontrolado de células em qualquer parte do organismo.

 

“Estas células se dividem rapidamente e tendem a ser agressivas, determinando a formação de tumores, além de invadir outros tecidos e órgãos, ameaçando a saúde geral. O câncer pode ser causado por uma combinação de fatores, incluindo fatores genéticos, ambientais e comportamentais”, afirma. Ele completa que o tratamento do câncer varia, dependendo do tipo e do estágio da doença. “Prevenção e detecção precoce são fundamentais para o sucesso do tratamento e para a recuperação”, reforça.
Tumores


A oncologista Priscila Jacob Pavaneli, do Centro de Tratamento Oncológico – CTO, salienta que, ao contrário do que se pensa, nem todo tumor é um câncer. “Existem tumores benignos e malignos, sendo estes últimos representados como neoplasia maligna, visto sua capacidade de se infiltrar em estruturas adjacentes e se desenvolverem em outros órgãos, as denominadas metástases. Tumores benignos têm a capacidade de se desenvolver e crescer progressivamente, entretanto, não levam à invasão celular ou podem se disseminar a outros órgãos”, descreve.

 

Segundo ela, cerca de 80% dos fatores que aumentam o risco de desenvolvimento de uma neoplasia maligna são ocasionados por fatores externos, modificáveis. “Os mais frequentes são tabagismo, etilismo, consumo excessivo de alimentos industrializados, exposição solar excessiva ou radiação ionizante. Fatores de risco não modificáveis estão relacionados, principalmente, à idade avançada e, em menor proporção, a alterações genéticas”, esclarece.

 


Prof. Dr. Harley Francisco de Oliveira explica que o câncer é uma doença complexa caracterizada pelo crescimento anormal e descontrolado de células

 

A hereditariedade corresponde de 5 a 10% de todos os casos de câncer, de acordo com o Inca, e são caracterizados por mutações e síndromes genéticas, sendo necessária a avaliação individual por um médico geneticista para a confirmação diagnóstica. “Caso seja positivo, a avaliação dos familiares é primordial para se adotar medidas preventivas e reduzir o risco do desenvolvimento desta doença”, justifica. 


Para Priscila, a prevenção torna-se essencial para a redução dos altos números da doença no Brasil e no mundo. Com o aumento da expectativa de vida, maior é o risco populacional no desenvolvimento de tumores malignos.

 

“A adesão a um estilo de vida saudável é prioridade neste cenário. Devemos adotar a prática regular de atividade física, recomendamos três horas semanais para mulheres e cinco horas para os homens. Alimentar-se de forma saudável, preferindo alimentos naturais e vegetais, cessar o tabagismo, reduzir a ingestão de bebida alcoólica e evitar exposição prolongada ao sol são essenciais. Além disso, aderir à vacinação contra HPV, conforme calendário vacinal, e realizar o rastreamento de neoplasias, segundo o Ministério da Saúde, realizando exames como colonoscopia e exame preventivo de colo uterino, têm grande impacto na redução da incidência das neoplasias mais comuns em nosso meio”, orienta a médica.


O oncologista clínico Diocésio Andrade, da Oncoclínicas Ribeirão Preto, aponta que os tumores mais comuns no Brasil são os cânceres de pele não-melanoma, responsáveis por, aproximadamente, 220 mil novos casos por ano no país.

 

“Excetuando-se estes tumores de pele, o tumor mais prevalente no sexo feminino é o câncer de mama e, no sexo masculino, o câncer de próstata. Em seguida, aparece o câncer de intestino em ambos os sexos, seguido do câncer de colo de útero nas mulheres e câncer de pulmão nos homens”, declara.

 

De acordo com ele, o tratamento tradicional para qualquer câncer passa por três grandes áreas: cirurgia, radioterapia e oncologia clínica. Na oncologia clínica, são utilizadas várias modalidades de tratamento, como a quimioterapia e a hormonioterapia.

 

“Na última década, inúmeras novidades têm sido desenvolvidas, como a imunoterapia e a terapia-alvo (desenvolvimento de medicamentos que atuarão especificamente em uma mutação de um determinado tumor). Na cirurgia, também temos novidades, como as cirurgias minimamente invasivas ou a cirurgia robótica. Já as radioterapias técnicas modernas, como a IMRT, foram desenvolvidas nos últimos anos, diminuindo os efeitos colaterais deste tratamento”, conclui o oncologista. 

 


Dr. Diocésio Andrade comenta que o tratamento tradicional para qualquer câncer passa por três grandes áreas: cirurgia, radioterapia e oncologia clínica

 

O câncer no Brasil
Fontes: Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Instituto Nacional do Câncer e Prof. Dr. Harley Francisco de Oliveira

 

• O câncer de pele não melanoma é o mais comum no país, com estimativa de 220 mil novos casos.

 

• Entre os demais tipos de câncer, os mais frequentes são mama (73.610 casos), próstata (71.730 casos), cólon e reto (45.630 casos), pulmão (32.560 casos) e estômago (21.480 casos).

 

• Apenas 57% dos pacientes diagnosticados com a doença conseguiram ter atendimento em até 60 dias, enquanto 17% aguardaram até 90 dias e 25% tiveram mais de três meses de espera. Esses tempos de espera são desrespeitosos à Lei 12.732/12, conhecida como Lei dos 60 dias, que determina que o tratamento de pacientes com câncer deve começar, no máximo, dois meses após o diagnóstico.

 

• A falta de acesso rápido ao tratamento adequado é um problema sério que afeta negativamente a qualidade de vida dos pacientes e suas chances de recuperação.

 

O que você pode fazer para reduzir o risco de câncer
Fonte: União Internacional para Controle do Câncer (UICC)

 

– Escolha alimentos saudáveis
– Exercite-se mais
– Pare de fumar. Inclusive o cigarro eletrônico
– Cuidado com a exposição aos raios solares. Não use câmaras de bronzeamento
Evite poluentes e produtos químicos, incluindo amianto, pesticidas e recipientes que contêm BPA
Vacine-se contra o HPV
 Conheça os sinais e os sintomas


Foto: Pixabay - imagem Ilustrativa / Fotos: Revide

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