Profissão doula
Casal Arian e Gabrielle contou com a ajuda de uma doula | Foto: Tássia Garcia

Profissão doula

Doulas auxiliam mães da gestação ao puerpério, fornecendo tranquilidade, segurança e autoconfiança

Após ter uma experiência ruim no primeiro parto, a nutricionista Carolina Ferreira Scatena, de 36 anos, contratou uma doula para fazer seu acompanhamento durante a segunda gestação e, assim, ter um acompanhamento mais humanizado. A profissional tem o papel de orientar a gestante, assistir a mãe no parto e auxiliar nos cuidados com o bebê, trazendo segurança, conforto e tranquilidade à mulher.

“Como a doula que contratei também é fisioterapeuta da saúde da mulher, ela me acompanhou desde o início na preparação do assoalho pélvico, com exercícios ao longo do período que antecedeu o parto, e esteve comigo em minha casa desde as primeiras contrações”, conta Carolina.

De todos os momentos em que teve a companhia da profissional, a nutricionista destaca a hora do parto. “Ela estava focada para que tudo acontecesse o mais próximo do que eu havia idealizado, que minha experiência pudesse ser incrível e que eu pudesse lembrar daquele momento como algo muito especial”, relembra. Carolina é mãe do Henrique, de 5 anos, e da Júlia, de 2 anos.

Mães de primeira viagem, a médica veterinária Gabrielle Bianca Armellino, de 25 anos, e sua esposa, a representante comercial Ariane de Melo Castro, de 33 anos, optaram por contratar os serviços de uma doula desde antes da gravidez, quando fizeram a fertilização in vitro.

“Desde o começo, fui me inteirar sobre o mundo da humanização do parto e do atendimento à gestante. Estava muito no escuro. Então contratei uma doula que foi a pessoa que, além de me dar todo o suporte, me orientou desde o início do pré-natal e me indicou profissionais que eu poderia procurar e que estariam de acordo com os nossos princípios”, detalha Gabrielle.

Para ela, foi valioso contar com essa assistência durante a gestação, com orientações sobre parto e amamentação, além de ter um suporte emocional para lidar com as dores e as dificuldades durante o trabalho de parto. “Ela também auxiliou minha esposa para que soubesse como agir ao me acompanhar durante o nascimento da nossa filha Clarice. Além disso, a bebê estava pélvica, o que faz muitas equipes decidirem pela cesárea. A doula passou exercícios que eu pude fazer e, com 37 semanas, a Clarice virou”, relata a veterinária.

A doula e consultora de amamentação Lidiane Balieiro explica que o principal papel da profissional é informar e empoderar a mulher. “Nós levamos informações com embasamento científico para que, através do conhecimento, ela possa fazer suas escolhas para o nascimento do seu bebê. Além de ajudá-la a entender todo o processo que seu corpo passa na hora do parto, levando à paciente a importância do seu protagonismo nesse momento, e mostrando a perfeição que é o nosso corpo”, esclarece.

Há, ainda, um trabalho emocional para levar a gestante a ter mais confiança. “Algumas doulas também atuam na preparação física dessas mulheres. Durante o parto, auxiliamos com formas não farmacológicas de alívio da dor, como respiração, massagem, bola, chuveiro, banheira e aromaterapia, além de encorajá-la a seguir com o parto e passar por cada contração, até conseguir trazer seu bebê ao seu colo”, completa Lidiane.

De acordo com ela, no pós-parto, a doula pode ajudar na adaptação da família com a chegada do bebê e, principalmente, dar apoio emocional à mãe. “O emocional da mulher no pós-parto depende muito da vivência de parto dela. Quando temos uma mulher violentada dentro desse processo, provavelmente teremos uma mãe depressiva, intolerante, impaciente, o que acaba refletindo na criação do seu bebê. Cuidar do nascimento e das mães é também cuidar do futuro emocional do mundo onde nossos filhos irão viver”, fundamenta a doula.Carolina contratou uma doula para o parto da filha Júlia porque queria ter uma experiência mais humanizada do que quando teve o filho Henrique

É muito comum acreditarem que a doula acompanha apenas no parto normal. No entanto, a profissional também trabalha com mulheres que optam pela cesárea. Segundo a doula, fisioterapeuta especializada em saúde da mulher Cláudia Loureiro, como a humanização respeita as escolhas, há gestantes que optam pela cesariana e seu papel é informar a paciente baseada nas evidências científicas.

“A doula acompanha a mulher no centro cirúrgico, apoia durante a anestesia, fica ao lado dela durante a cirurgia e colabora para uma cesárea mais respeitosa, com luz mais baixa, mais silêncio na sala, uma música de fundo escolhida pela paciente e usa técnicas de relaxamento enquanto o centro cirúrgico é montado. Quando a cesariana é iniciada, orienta para que o bebê nasça e vá direto para o colo da mãe e que seja amamentado nos primeiros momentos de vida enquanto os médicos finalizam a cirurgia. Depois, a doula pode ajudar a mulher na recuperação”, especifica.

Ao contratar a profissional, Cláudia orienta a buscar indicações, encontrar a doula para conversar e entender seu trabalho, pois é preciso ter uma conexão entre ela e a gestante. “Além do mais, é importante entender o que a profissional pode e o que não pode fazer. Por exemplo, a doula não faz exame de toque, não tem responsabilidade técnica sobre o parto, não é advogada da paciente. O trabalho é dar suporte emocional e apoiar a mulher. A gestante fica muito vulnerável durante o trabalho de parto e é preciso ter confiança em seu trabalho”, instrui. 

Evidências

A ginecologista e obstetra Thaís Mantovani Bernardo estimula suas pacientes a terem uma doula durante a gestação, parto e puerpério, pois existem evidências científicas de que esse acompanhamento contínuo traz resultados positivos: mais partos naturais e menos cesáreas, extrator, além de menos analgesia farmacológica.

“Cada uma dessas intervenções pode aumentar riscos para a gestante, algo que quero evitar como médica para minha paciente. Quando trabalho em conjunto com a doula, foco na assistência técnica e ela cuida dos outros aspectos do parto. Não podemos esquecer que o nascimento é o momento de encontro entre o bebê e sua família, uma experiência física, cultural, emocional, familiar, espiritual e sexual. Ter apoio contínuo emocional nesse processo por uma profissional proporciona melhor experiência de parto para gestante, bebê e acompanhante, impactando positivamente no desenvolvimento dessa família”, comenta a médica.

Em março deste ano, foi aprovado no Senado um projeto de lei que regulamenta a profissão de doula. O projeto determina que a doula é a pessoa que oferece apoio psicológico, conforto e suporte emocional à mulher durante todo o período de gravidez, parto e pós-parto. Pelo projeto, essas profissionais deverão ter cursado o ensino médio e o curso técnico em doulagem. Não é necessário ter formação na área da saúde. A proposta vai permitir a atuação daquelas doulas que comprovem a atuação de mais de três anos, até a data da publicação da futura lei. O projeto seguirá para a Câmara dos Deputados. 


Fotos: Revide

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