Resultados positivos da vacinação

Resultados positivos da vacinação

Coordenador de projeto sorológico, estudo paralelo ao Projeto S, Gustavo Jardim Volpe avalia a importância das pesquisas que acompanham os efeitos da CoronaVac em Serrana

Após mais de um ano do Projeto S, estudo de vacinação em massa idealizado pelo Instituto Butantan em Serrana, a pesquisa inédita continua contribuindo com o desenvolvimento científico na Região Metropolitana de Ribeirão Preto. O projeto, realizado entre fevereiro e abril do ano passado, vacinou 27 mil pessoas maiores de 18 anos com duas doses da CoronaVac com o objetivo de pesquisar a eficácia do imunizante produzido pelo Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac Biotech. Entre os principais resultados encontrados foram uma redução de 80% nos casos sintomáticos de Covid-19, além da queda de 95% no número de óbitos e recuo de 86% nas hospitalizações na cidade no interior do Estado de São Paulo. O médico Gustavo Jardim Volpe, cardiologista do Hospital Estadual de Serrana, coordenador do projeto de sorologia, estudo paralelo ao Projeto S que acompanha a produção de anticorpos dos imunizados, comenta os resultados observados e a importância dos estudos para a pesquisa científica nacional.

Como funciona o projeto de sorologia e qual o objetivo desta pesquisa?

É uma pesquisa que ocorre em paralelo ao Projeto S, que é o projeto de vacinação em massa onde imunizamos 27 mil pessoas. Neste projeto de sorologia, fazemos um estudo com uma amostra estatística de idosos e jovens adultos, entre 18 e 59 anos, e acompanhamos essas pessoas. São cerca de 3.900 indivíduos, desde agosto do ano passado. Essas coletas seriadas de sorologia acontecem a cada três meses e a quarta e última etapa acontece com doze meses. O interessante deste estudo é acompanharmos o pós-vacinação, e avaliarmos como está a imunidade, a quantidade de anticorpos e depois também a imunidade celular da mesma pessoa em diferentes momentos.

Quais são as principais observações feitas nas primeiras etapas do estudo?

O que nós observamos nas primeiras coletas, quanto aos dados já consolidados da primeira e segunda etapa, é de que a taxa de soroconversão, que é a resposta à vacina, é muito boa, acima de 98% em todas as faixas etárias, e essa conversão não caiu ao longo do tempo. Ao longo da segunda etapa, comparando os resultados de três meses com os de seis meses, quando as pessoas de 18 a 59 anos ainda não tinham tomado a terceira dose, observamos que a quantidade de anticorpos no sangue não caiu de forma significativa, então a imunidade foi mantida. Quanto aos idosos, neste intervalo, eles receberam a terceira dose por volta de quatro ou cinco semanas antes, e houve um aumento muito grande nos anticorpos dessas pessoas. Ou seja, a terceira dose levou realmente a essa produção de anticorpos.

Quais são as próximas etapas para os projetos?

Esse projeto de sorologia vai ser fechado e vamos consolidar os dados. Fazer a revisão dos resultados, checar, fechar o banco de dados e preparar a publicação científica, fazendo a primeira análise que seria a parte dos anticorpos. Depois vamos avaliar também os dados da imunidade celular, que não sofreram análise ainda por uma questão metodológica, elas precisam ser processadas em um espaço curto de tempo então as amostras estão congeladas e quando acabarmos, vamos avaliar todas de uma vez. No âmbito do Projeto S, também continuamos acompanhando a cidade, não os indivíduos, quanto a incidência de casos notificados. Fazemos uma busca ativa por esses casos e registramos no banco de dados para serem avaliados ao longo do tempo. A ideia é fechar essa observação para mostrar o comportamento de longo prazo após a vacinação. Nós avaliamos a chamada imunogenicidade, que contempla tanto a imunidade mediada pelos anticorpos, mas também a imunidade celular, que é um tipo de imunidade um pouco diferente que nós temos.

Foi observada diferença na produção de anticorpos entre as diferentes faixas etárias?

Inicialmente, nas coletas de três meses, como já esperávamos, os mais idosos principalmente acima de 70 anos, tinham uma produção um pouco menor com as duas doses. Depois, na próxima coleta, eles já haviam tomado a terceira dose e tiveram resultados mais iguais aos mais novos. Na primeira coleta, em termos de quantidade de anticorpos, era um pouco menor, mas depois, com a terceira dose, ficou praticamente igual. A princípio, até o momento, não teve diferença significativa com a terceira dose.

Na sua avaliação, qual a importância destes estudos para a produção científica nacional?

É importante por vários motivos. O primeiro, que sempre ressaltamos, é que Serrana anda na frente por volta de seis meses, pois a população foi vacinada dentro do Projeto S cerca de seis meses antes da população geral receber essa vacina. Portanto Serrana é um guia, o que nós observamos ali, logo observamos nos outros lugares também. Nós já mostramos, e vai aparecer em publicação, que a CoronaVac é efetiva e teve um papel importante na prevenção de casos. Mesmo durante a fase da Omicron, quando tivemos um aumento na quantidade de casos, nós não observamos aumento significativo em internações ou óbitos. As pessoas tiveram contato com a doença, mas tiveram quadros mais leves. Outra questão é de que Serrana é importante para mostrar que podemos fazer pesquisa de qualidade no Brasil, como este projeto que é grande, com financiamento do Butantan, e fizemos uma pesquisa com qualidade científica muito boa, que realmente demonstra que podemos não só fazer pesquisa, mas pesquisa no interior do Brasil. 

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