Separação de siamesas prova que Brasil pode realizar procedimento, diz médico
Especialista conta detalhes das cirurgias, que começaram há quase um ano

Separação de siamesas prova que Brasil pode realizar procedimento, diz médico

O neurocirurgião pediátrico Ricardo Santos de Oliveira, responsável por fazer a cirurgia manualmente, conversou com o Portal Revide

Os procedimentos cirúrgicos de separação entre as irmãs siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, realizados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, têm revolucionado a medicina brasileira desde o início da preparação, há pouco mais de um ano. Para o neurocirurgião pediátrico Ricardo Santos de Oliveira, responsável por realizar as cirurgias manualmente, o caso prova que o Brasil tem condições de mediar uma cirurgia desse nível. Com auxílio dos colegas, é Oliveira quem faz os cortes precisos dos vasos sanguíneos e dos demais componentes corporais que ligam as crianças cearenses.

“A cirurgia tem despertado interesse da população, da mídia e também de colegas da profissão. É a primeira vez que se faz um procedimento desta forma no País”, diz. Questionado sobre a pressão de lidar com um caso inédito como esse, o médico explica que exerce a profissão da maneira como foi treinado. “Nós somos treinados para realizar esses procedimentos da melhor maneira possível. Na hora que a cabeça está aberta é importante ter foco e saber o que está fazendo. Os estudos são realizados para isso”, afirma.

A equipe organizada pelo professor Hélio Rubens Machado, do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, conta com auxílio do médico norte-americano, especialista em gêmeos siameses, James Tait Goodrich.

Ricardo em ação na separação das irmãs siamesas

“A base destes procedimentos foi realizada através de um estudo compartilhado pelo doutor Goodrich há alguns. Outro ponto é que a idade que as meninas estão realizando essa separação é a ideal, pois, conforme os siameses ficam mais velhos, os cérebros vão trabalhando em conjunto e se tornando um só. Tanto que temos casos de tentativas de separação de siameses que não deram certo e terminaram em óbito”, explica Oliveira.

As siamesas já passaram por quatro procedimentos cirúrgicos até o momento - o último realizado na sexta-feira, 24. Desde a primeira etapa, em fevereiro, as crianças apresentam uma evolução no comportamento.

“Decidimos adiantar o procedimento da implantação dos expansores, uma espécie de bolsa, no couro cabeludo das meninas, pois elas apresentavam um quadro muito positivo. Os expansores serão preenchidos com o soro três vezes na semana para que consigamos ganhar um tempo maior no crescimento da pele, que será utiliza no procedimento estético após a última etapa”, conta o neurocirugião.

Oliveira diz que antes de qualquer procedimento com as siamesas, ele opta por reavaliar todo o quadro. “Antes de realizar os procedimentos cirúrgicos, gosto de sentar e estudar tudo novamente. Focar no que foi feito, no que será realizado e por daí em diante. É importante me preparar ainda mais naquele momento para que todo o processo saia como o esperado”, explica.

Ainda sobre a preparação, o neurocirurgião fala sobre possíveis sequelas. “Todo o estudo é feito para reduzir ao máximo a chance de sequelas futuras. Após a realização da última etapa da cirurgia, é possível que o crânio tenha pequenas deformações, mas o esperado é que, com o tempo, o próprio organismo vá transformando a simetria da cabeça das meninas. Vamos fazer o possível para moldar o crânio com os pedaços de ossos que serão cortados na separação final”.

O neurocirurgião tem trabalhado para que tudo saia como o planejado

Futuro pós separação

Após o término dos procedimentos, as irmãs serão acompanhadas conforme a necessidade. “Assim que estiverem recuperadas, elas passarão por um acompanhamento de vários especialistas, como fisioterapeutas, que auxiliarão as crianças em uma adaptação. Elas precisam aprender a andar e criar hábitos naturais de qualquer pessoa. Por conta dos corpos juntos, hoje elas têm uma restrição nas atividades. Ficam deitadas o tempo todo, mas são espertas e têm se mostrado capazes de se recuperarem rápido”, diz Oliveira.

Maria Ysabelle e Maria Ysadora possuem pouco mais de dois anos

As crianças já receberam alta da UTI e estão na enfermaria. A quinta e última etapa será realizada entre o final de outubro e o início de novembro.
 


Fotos: Pedro Gomes e Divulgação/HCFMRP

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