Mortalidade infantil: em 10 anos, índice apresentou melhora discreta em Ribeirão
Especialista também alerta para o risco dos boatos envolvendo as vacinas

Mortalidade infantil: em 10 anos, índice apresentou melhora discreta em Ribeirão

No Brasil, taxa registrou a primeira elevação em 26 anos

A Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) em Ribeirão Preto não apresentou melhora significativa nos últimos dez anos. Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, o número de crianças mortas antes do primeiro ano de vida, a cada 100 mil nascimentos em Ribeirão Preto, foi de 9,42 em 2017. O índice pouco avançou a partir dos 9,8 registrados em 2006 na cidade.

Contudo, durante este período, a mortalidade subiu a patamares vistos somente no final dos anos 90, com 11,5 mortes a cada 100 mil no município. A causa deste aumento foi o surto do vírus da Zika que se espalhou pela cidade e por todo o País entre 2014 e 2016.

Passado o surto, a cidade voltou ao patamar de dez anos atrás. Atualmente, a Secretaria da Saúde informa que as mesmas medidas tomadas para redução da infestação do mosquito Aedes aegypti valem para a Dengue, Chikungunya e Zika.

Apesar disso, segundo dados da Fundação Seade a TMI de Ribeirão Preto, em 2017, foi segunda menor do Estado de São Paulo e 20,6% menor do que a média estadual, que é de 10, 7 óbitos por mil nascidos vivos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera 10 mortes para cada mil nascidos como o mínimo aceitável.

Mesmo fora dos padrões preconizados pela OMS, os números, todavia, não são vistos apenas em Ribeirão. A taxa de mortalidade em todo o País cresceu em 2016, em parte em razão da epidemia do vírus. Esta foi a primeira elevação da taxa nos últimos 26 anos. 

Avaliação de especialista

Para o professor e médico do departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP(FMRP-USP), Amaury Lelis Dal Fabbro, ainda é precoce afirmar que o aumento da mortalidade infantil se deve exclusivamente ao vírus da Zika. "Será preciso quantificar o número de mortes em crianças menores de um ano por Zika vírus de maneira criteriosa, calculando o real impacto dessa doença na mortalidade infantil", afirma.

Segundo o especialista, existem diversas outras causas que podem impactar neste índice. Por exemplo, a prematuridade, que é o nascimento de crianças antes de a mulher completar a gestação."Para isso, é preciso um bom pré-natal e uma boa condução do parto, além de questões ligadas à esfera social", acrescenta Dal Fabbro. 

Também afetam a TMI todas as formas de anomalias congênitas e não somente as causadas pelo Zika. "Infecções neonatais, que estão relacionadas a uma série de fatores, assim como a vacinação das mães durante o pré-natal. Claro, as doenças diarreicas, desnutrição e outras causas ambientais, todas geralmente relacionadas às condições de vida da população", completa o médico.

Dal Fabbro acrescenta que a mortalidade infantil não tem uma distribuição homogênea no Brasil. Antes disso, as variações regionais são importantes. Regiões mais pobres, com maior desigualdade social, menos saneamento básico, menor renda familiar, menor acesso a uma adequada atenção à saúde das pessoas, maior dificuldade de acesso a hospitais, maior violência, dificuldades de um bom acompanhamento médico da criança, são aquelas regiões que têm a maior índice. "A mortalidade infantil, quando alta, é um indicador de problemas na esfera social", acrescenta.

O perigo dos boatos

Um fator que vem assustando especialistas da área da saúde são os boatos sobre supostos "perigos das vacinas". Comprovadamente boatos, as mensagens falsas dizem que as doses destes medicamentos poderiam trazer outras doenças para os pacientes. A mentira se espalhou pelo País, fazendo com que alguns pais não levassem seus filhos à imunização.

O médico da USP explica que o Brasil conquistou uma invejável posição internacional, justamente pelo fato de ter conseguido altas coberturas vacinais, com grande redução de casos de doenças importantes como a varíola – erradicada pelas vacinas –, a poliomielite, o sarampo, o tétano neonatal, a meningite tuberculosa, a meningite por Haemophilus, as diarreias por rotavírus, a difteria, a coqueluche, a caxumba, a varicela, entre outras. 

Porém, quando essas doenças diminuíram, pessoas que nunca as conheceram começaram a achar que a vacinação seria desnecessária e até prejudicial. "O Brasil não pode perder aquilo que tão duramente conquistou. Algumas das doenças que as vacinas previnem podem causar o óbito, como é o caso do sarampo, da meningite por tuberculose, da meningite por Haemophilus, da difteria, da coqueluche e outras. Por isso e por uma série de problemas, mesmo que não causem a morte, devemos retomar as altas coberturas vacinais", conclui o especialista. 


Sob supervisão de Marina Aranha.


Foto: Pixabay

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