A profissionalização do digital

A profissionalização do digital

Referência nesse universo, especialmente na área de vendas, Stellinha Santini compartilha algumas dicas para utilizar as plataformas a seu favor

Stellinha Santini se formou em Educação Física. Atuou por um tempo na área, até migrar para o ramo de vendas e gestão, chegando a ser responsável pela parte de consultoria e treinamento de 17 unidades de uma rede de academias.

 

O interesse pelo universo digital surgiu, em um primeiro momento, como uma curiosidade. As redes sociais serviam para compartilhar registros pessoais e acompanhar a vida dos familiares e amigos, mas, logo, ela identificou, ali, uma oportunidade de fazer negócio. Criou, ao lado de três amigas, um Instagram para falar sobre temas relacionados à maternidade, que tinha uma boa aceitação entre o público, porém, não gerava nenhum retorno financeiro. 


Em 2017, a página passou por uma transformação quando Stellinha decidiu curtir o Carnaval desfilando por uma escola de samba no Rio de Janeiro. Com um bebê de seis meses, ela queria se sentir à vontade com o corpo para vestir a fantasia e subir no carro alegórico. Ao postar sobre a rotina de exercícios e as orientações nutricionais, acabou engajando um número expressivo de pessoas. Percebendo esse movimento, conversou com as amigas e mudou o foco do Instagram para a divulgação de dicas e desafios para se construir um estilo de vida mais saudável. 

 

A partir dessa experiência positiva, a afinidade com o universo digital só cresceu. Entendendo as nuances dessa poderosa ferramenta – e como o domínio de técnicas específicas fazia toda a diferença nos resultados –, ela investiu em cursos e se especializou no segmento. Hoje, trabalha como estrategista digital com foco em venda e divide seus conhecimentos com quem quer se aprofundar no assunto. Na entrevista a seguir, ela compartilha um pouco dessa trajetória.

 

A presença no mundo digital, hoje, é inevitável?

 

Não gosto de dizer que é uma obrigação. Você precisa entender os benefícios de estar lá. Então, mostro o lado do que a pessoa perde por não estar. Por exemplo, hoje, um perfil no Instagram, com os meus dados e o meu contato, muitas vezes, é mais eficiente do que um cartão de visitas. Isso é por conta da movimentação habitual de quem se interessa por um serviço falado. Se eu cito um dentista, por exemplo, na sequência, a pessoa busca o nome dele no Instagram.

 

A pessoa consegue encontrar de uma maneira mais rápida e prática. Além disso, as redes sociais nos trazem pluralidade de opções. Eu posso vender meu produto, posso ministrar um curso ou posso criar um desafio e mobilizar as pessoas em torno dele. Se eu faço uma live, posso falar com um número de pessoas que, presencialmente, seria impossível. Então, você pode escolher não estar no digital? Pode, mas vai perder grandes oportunidades.

 


Especialmente para quem trabalha com a venda produtos e serviços, estar conectado e manter-se ativo nas redes sociais é essencial?

 

Sem sombra de dúvidas. As pessoas estão escolhendo por lá. Se eu preciso de um médico, eu vou agendar uma consulta com aquele especialista que eu ouvi falar, comecei a acompanhar nas redes sociais e passei a confiar nas orientações que ele compartilha. Ele se tornou a minha referência. Antes, se você precisava comprar uma roupa, descia a rua inteira entrando de loja em loja. Agora, você só vai até a loja se alguma peça legal, divulgada no digital, chamou a sua atenção.

 

Muitas vezes, é a influenciadora que vai te motivar a comprar uma saia, não a vitrine. A tomada de decisão é com o celular na mão. Você pode até não comprar, mas escolhe. Portanto, se você tem um produto ou serviço e não está no digital, nem entra nas possibilidades de escolha. E não é só o Instagram. Todas as plataformas são importantes para se aproximar de quem as usa. O WhatsApp é uma forma de você estar conectado, enviando vídeos, atualizando o status. Então, sim, estar conectado no digital e ativo nas redes sociais é fundamental.

 

Esse é um mercado que tem se profissionalizado cada vez mais?  

Cada vez mais, a forma de comunicação vai ficando mais assertiva e novas opções de ferramentas ficam disponíveis para nós. Se pensarmos no Instagram, antigamente, ele era um álbum de fotos. Aí veio o Snapchat, que você falava o tempo inteiro com as pessoas. O Instagram, pouco tempo depois, lançou os stories. Quando o Tiktok veio, trouxe vídeos curtos. O que aconteceu? O Instagram começou a perder tempo de tela para outros apps. Aí, ele disponibilizou o reels, que tem a mesma ideia. Por quê? Porque todo mundo está vivendo no 2x, na velocidade. Você quer aprender tudo, de forma rápida.

 

Porém, hoje, que o Tiktok começou a ter vídeos mais longos, porque uma vida muito rasa, só de coisas curtinhas, não educa ninguém. Os vídeos do Youtube, você liga e senta para assistir. As plataformas vão se moldando de acordo com a necessidade do cliente. Isso não é diferente do que a gente precisa fazer com o nosso serviço. Você vai se moldando junto. Ter conhecimento sobre a ferramenta utilizada, especializar-se e seguir a dinâmica do digital muda o jogo do seu negócio. A constância também é essencial. Se eu entro, faço um vídeo e desapareço, sou engolida, esquecida, substituída pelo próximo que já está fazendo um conteúdo novo amanhã.

 

Ainda existe um certo preconceito sobre trabalhar com a internet ou isso ficou no passado? Quando uma pessoa começa a movimentar as redes sociais, os outros falam: ‘olha, tá virando uma blogueirinha’, como se isso fosse uma piada. Na verdade, isso é ótimo para quem está fazendo conteúdo digital. Por muito tempo, a gente via o digital como uma distração, algo que qualquer um podia fazer. Hoje, as pessoas começaram a ver o quão difícil é produzir conteúdo e se destacar nesse universo. Mudou a perspectiva. O trabalho passou a ser mais valorizado, fora o retorno financeiro. Por que uns explodem e outros não? O resultado vem quando a entrega é maior e de qualidade. Hoje você sabe que precisa estudar e se dedicar, que não é qualquer pessoa que consegue fazer.

 

“Você tem que entender o que aquela plataforma tem para oferecer, o formato mais interessante e o que a audiência quer consumir”, explica a entrevistada

 

Que tipo de conteúdo tem sido mais consumido atualmente?

Isso vai depender muito de que plataforma você está. A gente sabe que o Youtube, por exemplo, é uma plataforma mais proativa. Estourou um cano na minha casa. Eu pesquiso: ‘como consertar o cano na minha casa’ no Youtube e sento para ver o vídeo. É diferente de ver um vídeo no Instagram, que eu estou deitada na minha cama e falo: ‘deixa eu dar uma olhada no que o pessoal postou’. Diferente do Tiktok.

 

Essa ferramenta, inclusive, muita gente pensa que é só dancinha. Não. Esses dias, eu viralizei um vídeo no Tiktok que me gerou vendas. Você tem que entender o que aquela plataforma tem para oferecer, o formato mais interessante e o que a audiência quer consumir. Hoje, sabemos que, no Instagram, a maior entrega é do reels. Então, vamos apostar no reels, ensinando ou compartilhando algo que pode ser valioso para o outro que está te assistindo. Sem uma mensagem que agregue, dificilmente você vai gerar engajamento.

 

 

É possível construi uma relação de proximidade, mesmo em uma conexão virtual?

 

Você não conhece a Ivete Sangalo pessoalmente, mas, se ela passar na sua frente, você reage. Porque sabe quem ela é, as músicas que canta e até o nome do filho dela. Você se sente próximo. Nas redes sociais, isso acontece quando temos o efeito celebridade. Não precisa ser uma celebridade, de fato, mas se você, com constância, mostra a sua imagem, a pessoa começa a conhecer um pouco de você, do seu filho, o que você faz.

 

Se você tem um Instagram pessoal e vem trazendo a sua imagem de trabalho nele, aparecendo bastante e com muitos conceitos, você já causa a sensação de intimidade em quem está te assistindo. A pessoa fica à vontade. Isso, muitas vezes, é o que dá o poder da decisão de compra. Você traz a pessoa tão para perto que, quando ela fala ‘preciso disso’ e você tem, ela escolhe você. 

 

A questão da construção da imagem também importa?

 

Claro que sim. E quando eu falo de construção de imagem, não estou falando de nenhum dragão. O que você precisa entender é que a rede social deve trazer o tom que você quer. A foto do perfil, por exemplo. Lembro que tive uma aluna que era nutricionista, mas a foto do perfil era ela de noiva.

 

Questionei e ela me respondeu que era porque a foto estava linda. O raciocínio não é esse. Se você usar essa ferramenta para o lado profissional, a sua imagem tem que ser parecida com a que você atende, algo bem próximo da realidade, fácil de identificar, para que fixe na cabeça da pessoa e, toda vez que ela precisar de uma nutricionista, vai lembrar de você. A questão da imagem é decisiva para que a pessoa clique no botãozinho de seguir.

 

Você reserva um tempo para cuidar da vida off-line?

 

Ser do digital é uma coisa tão natural para mim que eu não separo. Uma vez, eu estava viajando e uma pessoa escreveu na minha rede social: pare de postar e vai curtir. Quem disse que, ao postar, eu deixo de curtir qualquer coisa? É muito automático. Existem momentos, sim, que eu preciso desligar o celular, como quando vamos assistir um filme em família ou conversar com os meus filhos antes deles dormirem, mas é um equilíbrio que exige muita disciplina.

 

Como a gente se habitua, a hora que você vê, está assistindo coisas de outras pessoas fazendo você perder o tempo. Então, ultimamente, tenho colocado como meta produzir conteúdo e não consumir conteúdo, a não ser que seja algo que eu estou precisando. Separo algumas horas para não assistir ninguém. Esse cuidado a gente tem que tomar. Para que as pessoas que estão perto de nós não achem que elas perderam a importância e que a importância está no celular. Consigo ir levando os dois lados de forma leve.

 

Quais dicas você daria para quem está começando?

 

Primeira dica: deixe o seu perfil organizado, arrume a sua casa. Tem muita gente que sai fazendo conteúdo sem um propósito definido e, quando as pessoas chegam no perfil, não querem ficar. Não clicam no botão de seguir. O que é estar arrumado? Ter uma foto que traz autoridade, que mostra uma realidade bem próxima daquilo como você realmente é no dia a dia, uma biografia que fale com o outro e que tenha o seu contato.

 

Coloque nos destaques aquilo que você quer vender para que a pessoa que tem interesse já veja o que você entrega. Saiba a diferença entre feed e reels, entre feed e stories. Entenda qual é o melhor momento de usá-los e para quais conteúdos. Compartilhe informações relevantes e com constância. Invista em conhecimento, pratique. O primeiro vídeo que eu editei levei uma hora e meia. Hoje faço em três minutos. A repetição deixa tudo mais fácil. 


Fotos: Divulgação

Compartilhar: