Adolescentes falam de suas técnicas para aumentar curtidas no Facebook

Adolescentes falam de suas técnicas para aumentar curtidas no Facebook

Jovens contam estratégias para receber mais likes nas redes sociais

O Facebook é a rede social mais acessada do Brasil, segundo dados da Pesquisa Brasileira de Mídias 2015, do Governo Federal. Os dados também mostram que 65% dos jovens até 25 anos acessam a internet todos os dias. O levantamento aponta que a exposição média da população na internet é de 4h59 de segunda a da sexta-feira e de 4h24 nos finais de semana.

A psicóloga Ana Flávia de Oliveira Santos afirma que o mundo atual e suas tecnologias possuem uma influência importante no comportamento dos adolescentes. O Portal Revide conversou com duas adolescentes de 15 anos, que buscam popularidade e curtidas na rede social mais usada do Brasil.

Luiza Cico, de 15 anos, tem 3.334 amigos no Facebook e seu objetivo é dobrar suas curtidas atuais. A adolescente afirma que para ter curtidas em suas publicações costuma usar três técnicas: postar durante a semana no período da noite, checar a quantidade de pessoas online e postar fotos aos finais de semanas.

A vontade de ter várias curtidas surgiu no começo de sua adolescência. Ela afirma que quando ganha curtidas nas fotos acaba se sentindo mais bonita. Luiza afirma “que a rede social não a afasta da realidade, pois mantém uma vida equilibrada entre os estudos, amigos, saídas e o Facebook.”

Já a adolescente Rebeca Freitas, 15, tem 1982 amigos na rede social e sempre busca postar suas fotos no período da tarde, pois é a hora que todos conhecidos estão on-line. A adolescente afirma que usar efeitos e Photoshop ajuda na hora de ganhar mais curtidas.

O objetivo da jovem é ficar cada vez mais conhecida através da rede social e ganhar cada vez mais curtidas. Rebeca afirma que não tem  “nenhum objetivo com as curtidas, pois a elas não a fazem melhor que ninguém.” 

Opinião Médica  

A psicóloga Ana Flávia de Oliveira Santos respondeu algumas perguntas relacionadas ao tema e propôs algumas reflexões sobre o assunto. Confira a entrevista abaixo: 

Portal Revide: Você acredita que o comportamento dos adolescentes, em relação às curtidas no Facebook, seja consequência do mundo atual e de suas tecnologias?

Ana Flávia de Oliveira Santos: O mundo atual e suas tecnologias possuem uma influência importante no comportamento do adolescente, ao mesmo tempo em que podemos nos indagar sobre o que contribui para esse cenário atual e para o lugar que a tecnologia ocupa na vida das pessoas de forma geral. Há que se apontar para a superficialidade e fragilidade dos laços afetivos e das relações humanas, que estão ocupando um espaço virtual na tentativa de satisfazer uma necessidade universal de todo mundo: de ser visto, reconhecido e amado.

As postagens excessivas visando curtidas têm os mais diversos temas: narrativa da rotina, exibição da atividade ou localização atual, até mesmo acontecimentos muito particulares, que distorcem o sentido de intimidade, em uma superexposição em tempo real, o que, por outro lado, não indica correspondência a uma vivência de realidade. As pessoas buscam, cada vez mais, sentirem-se reconhecidas e refletidas no olhar do outro.

Portal Revide: Em sua opinião, essa vontade e objetivo de ter várias curtidas são um modo de escapar da realidade?

Ana Flávia de Oliveira Santos: Esse comportamento pode ter diferentes funções, dependendo da particularidade de cada adolescente, uma delas pode ser a de evitar a realidade através da criação de uma realidade paralela, virtual, que se sobrepõe ao real. A preocupação do adolescente quanto às curtidas no Facebook pode estar ligada ao pensamento constante sobre o que o outro pensa dele, da necessidade de ser aprovado, de agradar, adaptar-se e se moldar à opinião e necessidade do outro. Alguns adolescentes se sentem existindo apenas através das redes sociais, espaço no qual podem projetar desejos e outras necessidades, cujo sentido de estar existindo vem pelo olhar do outro. O problema advém quando essa necessidade acentuada de aprovação promove distanciamento da realidade, substituição do real pelo virtual, além de que a não satisfação dessa necessidade pode ser um agravante, podendo gerar sentimentos incômodos e comportamentos inadequados ligados à baixa tolerância à frustração, persecutoriedade e agressividade. Pode ser uma tentativa de se lidar com o esvaziamento das relações humanas e das vivências reais. Essa busca até desesperada pelo olhar do outro revela, na verdade, a falta do próprio olhar para si mesmo.

Portal Revide: Esse tipo de comportamento é prejudicial à vida "não-virtual" do adolescente?

Ana Flávia de Oliveira Santos: A necessidade de se ver refletido no olhar do outro é uma necessidade básica do início da vida de todos, que auxilia no desenvolvimento do indivíduo, de sua confiança e de suas relações afetivas. A tentativa de agradar e de satisfazer o outro e ser aceito e aprovado é comum, posteriormente na vida, principalmente no período da adolescência, momento em que se está construindo a identidade e há uma busca pela aceitação e pertencimento a um grupo. A dificuldade está quando o virtual se sobrepõe ao real, ocupando seu lugar, levando a um isolamento, sentimento de existência atrelada à rede, o que aponta para o empobrecimento das vivências reais. A despeito da busca por inúmeras curtidas, o que se observa é uma vivência de vazio e solidão.

Portal Revide: A busca pelas curtidas se enquadra na questão do adolescente se sentir mais bonito, mais amado e mais querido?

Ana Flávia de Oliveira Santos: Tem a ver com a necessidade de aprovação, aceitação e reconhecimento, com o sentimento de ser visto, valorizado, admirado, desejado.  Possibilita criar uma imagem virtual e satisfazer necessidades que possivelmente não encontraram lugar e acolhida na realidade.

Revide On-line
Gabriela Maulim
Fotos: Arquivo Pessoal

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