Transmissão de dengue por transfusão de sangue é de 37,5%
Foram coletadas amostras de 39.134 doadores; Ao todo, seis pessoas foram infectadas
Durante a epidemia de dengue, em média, 0,51% das pessoas que foram a hemocentros para doar sangue estavam infectadas com o vírus causador da dengue. Foi o que constatou um estudo publicado no The Jornal of Infectious Diseases no início deste mês. No total, 37,5% dos pacientes que receberam bolsas de sangue contaminadas e eram suscetíveis ao vírus contraíram dengue, relevou a pesquisa.
O estudo foi realizado no Rio de Janeiro e no Recife, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) sob coordenação da professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e diretora do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, Ester Sabino, que analisou a epidemia de dengue entre os meses de fevereiro e junho de 2012 – época em que ocorreu uma grande circulação do vírus da dengue.
De acordo com a professora, os pacientes que estavam infectados foram comparados a outros. “Quando comparamos os pacientes que se infectaram durante a transfusão com aqueles que não receberam o sangue contaminado (grupo controle), não vimos diferença significativa em relação à mortalidade ou mesmo à gravidade de sintomas, como febre, mal-estar, sangramento ou plaquetopenia, que é a diminuição no número de plaquetas no sangue”, contou.
Ela explicou ainda que estes são sintomas comuns tanto em portadores do vírus da dengue, quanto em pacientes transfusionados de maneira geral.
Receptores
Foram coletadas amostras de 39.134 doadores antes da transfusão para confirmar se o vírus foi adquirido durante o procedimento. Os pacientes foram acompanhados nos 30 dias seguintes à transfusão para observação dos sintomas.
As bolsas de sangue contaminadas com o DENV-4, que é dos sorotipos da dengue, foram transfundidas em 22 receptores. Desses, apenas 16 eram suscetíveis à doença, pois não tinham marcadores de infecção recente por DENV-4. Ao todo, seis pessoas foram infectadas, o que resultou na taxa de transmissão de 37,5%.
“Em Recife, houve semanas em que até 2% dos doadores estavam infectados com o vírus”, comentou.
Segundo a professora, o estudo mostrou que, durante grandes epidemias de dengue, ocorrem muitos casos de transmissão transfusional. “Por que ninguém notava isso? Possivelmente porque o impacto clínico não é importante”, questionou.
Mesmo que o número tenha sido pouco de pacientes contaminados, a professora completa que não descarta a possibilidade de surgirem casos graves ao avaliar uma população maior.
Foto: Cristino Martins/ Ag. Pará
