Da extensão do amor materno

Da extensão do amor materno

Karnal, muito emocionado, com a voz embargada, fez um convite: pensar na extensão do amor materno. E eu aceitei.

Pensei logo em uma árvore, cujos muitos galhos se transformam em... braços. Não apenas dois, mas vários! Muitos! Braços sem fim! COMPRIDOS!! Teriam eles alcance sem fim também!?!

De e por todos os lados! Braços que buscam abraçar. E que buscam sustentar. E que buscam acalentar. E que buscam afagar, acariciar, acarinhar. Note bem: BUSCAM! Desejam. Às vezes mais, às vezes menos. Às vezes conseguem! Às vezes não. Mas buscam! E tudo bem. É o suficiente! E buscam alimentar, e não só através do alimento concreto. Ser mãe, então, deve ser ter mil e um braços. E mais, e contando. São muitos os braços! Braços sem fim!?

E só posso dizer isso do lugar de filha, de quem sentiu todos os braços. E abraços. Inclusive aqueles que nos ajudam a parar. Pois os braços e abraços não são apenas agradáveis. Eles também têm e impõem um fim, um limite, um fora, um dentro, um eu e outro, voltam a ser dois braços, apenas... Um contorno!

Talvez, aqueles desagradáveis sejam ainda mais essenciais. Segurando-nos não apenas diante dos perigos externos, mas também dos internos, pois estes também podem machucar. E muito! A mim e ao outro também. - Eu sei, já devo ter te machucado também, mãe! Daí a necessidade de fazer parar. Conter! Vá lá entender! Não entendia; hoje, compreendo. E apreendo! Ou tento, ao menos. Vai ter que me satisfazer. Pois nos ajuda a pensar, e é da dor mental que partem os pensamentos - inclusive, para se pensar, tem que parir!

O pensar, então, é uma parteira. Ajuda, mas o nascer do pensamento tem que vir de dentro, de uma força que nem se imaginava, dos recônditos da dupla mãe-bebê. Mais uma função materna: à luz, dar. Caberia, pois ao filho, sob pressões desde dentro, um movimento em direção à vida, tal como o tropismo de uma planta, que, dependendo do seu tipo, para crescer, busca o sol. Busca! Filho, então, busca a mãe, o olhar da mãe, ou os braços e abraços mentais. E, assim, mãe e bebê, ao mutuamente buscarem um ao outro, criam-se e se recriam!

E o pensamento Origina-se da frustração. Do não. Do não, agora. Pois é justamente a possibilidade de um dia ainda poder ser, mesmo que ainda, por enquanto não o seja, o que sustenta o desejo. Que vem da falta. A falta é a condição de existência do desejo? Talvez, então, ser mãe seja ter mil e um braços menos um, ao menos. Pois aquilo que falta também é. É desejo. E uma mãe nasce da mulher que desejou o filho. Pois todo filho é concebido de um desejo, até mesmo insuspeitado...

O amor materno, de tão extenso, inclui até mesmo os seus mais contrários e contraditórios, tão paradoxal que é. E isso também é amor. E também não é. E tudo bem. Pois os braços concretos vão até onde eles alcançam. Mas os sentimentos, ah, estes, mais do que extensos, têm um alcance sem fim.

Compartilhar: