Montanha adentro

Montanha adentro

“Ah! a mente tem montanhas; precipícios, vias
Terríveis, que ninguém trilhou. 
Se alguém duvida
É que nunca as buscou
Essas regiões sombrias [...]”  (Hopkins).

E quem não as tem? Não tê-las visitado não significa não-existência. Aliás, sua negação mais denuncia a sua presença. E só quem as assume pode cuidar daquilo que tem. Que sente. Que pulsa desde dentro.

Mas são tantas as coisas que se avolumam, adensam-se. Não se podendo dar ganho de causa a coisa alguma ou sequer. É um tanto. É um misto. Uma porção em rebuliço. Que pede guarida em um vínculo. Posto que o afeto alberga, oferecendo, quem sabe, hospitalidade. E companhia para atravessar abismos. Mesmo à beira de precipícios. Estreitando-se em sendas. Enveredando-se por mata virgem, selvagem, lugares não antes visitados. Ou nascidos. Ou já vividos, demandantes de novos sentidos. Parindo trilhas. Nunca antes suspeitadas... A dois, ainda que sem guia, posto que esse só tem o intuito de se fazer perder (Frost).

Pois por mais que sombrias sejam essas regiões, mais montanhosas, íngremes e perigosas ficam quanto mais desconhecidas e inabitadas restam. Embora difícil seja a escalada, nada se compara à paisagem que seu trânsito oportuniza e revela. Não restando ilhado na própria cordilheira. Necessitando-se sair para, sobre ela, talvez lançar outros olhos. Percorrendo insuspeitados sendeiros rumo ao interior. De si.

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Pela memória de Freud, que faleceu nesta data em 1939.

Pelo setembro amarelo. Que diz da prevenção do suicídio, cuja discussão e visibilidade não deve se restringir a um mês, nem a uma área, seja da saúde ou da psicologia. Pois não diz de causa única, remetendo a uma complexa gama que também inclui fatores sociais, culturais, econômicos... Sobre os quais é preciso pensar. E conversar.

 

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