Não foi nada, meu filho

Não foi nada, meu filho

É fim de tarde. A criança desce do carro acompanhada, poucos segundos depois, pelos pais. É domingo. Os pais parecem atarefados. Nas mãos, tantas coisas, compras de supermercado, coisas que ficaram no carro, talvez?

A criança, serelepe, segue caminhando, parece leve. Até que cai no chão. Tão logo cai, começa a chorar. Os pais não sabem o que fazer com as coisas que estão nas mãos. Tentam acudir a criança, que continua chorando. Conseguem dizer que não foi nada. 

A criança olha o joelho que bateu no chão, parece vermelho. Não foi nada para quem? Para os pais? Talvez querendo acalmar a criança, “não foi nada, meu filho.”. A criança parece não entender o que os pais dizem. Ela continua no chão, joelho vermelho. Estaria doendo? O que estaria pensando a criança? Como não foi nada? Caiu. Machucou. Sangrou? 

A criança é concreta, isto é, seu pensamento é concreto. Nada errado. É do período de desenvolvimento cognitivo dela. Ao dizer que não foi nada, talvez os pais queiram dizer que foi de leve. Não há com o que se preocupar. Nem machucou muito. Mas que foi, foi. Caiu. Deve ter doído. Fez um machucadinho. Que a criança não vai acreditar agora, mas vai passar. Que ela caiu, mas pode levantar. Afinal, muitos são os tombos que ocorrem na vida, sejam eles concretos ou não. E mais do que não poder cair, que a criança possa confiar que pode cair sim e se levantar. Que o adulto possa acreditar que a criança possa sentir a dor. E suportar a dor. Confiar que pode aguentar, que dá conta. Para então se levantar, andar serelepe, com joelho vermelho e confiança na mente e no coração.

Compartilhar: