Avanços e Dificuldades

Avanços e Dificuldades

Desde que comecei a escrever neste blog, tenho recebido várias sugestões de temas. Há uma infinita curiosidade a respeito da saúde reprodutiva e de suas questões éticas e legais. Creio que este canal será excelente para discutirmos cada uma dessas questões.
Em primeiro lugar, gostaria de enfatizar que eu, Ana Karina, não tenho as respostas para várias questões. Na verdade, a própria sociedade ainda debate os limites da reprodução assistida e cada país estabeleceu ou está estabelecendo as regras para sua utilização em humanos.
Avançamos muito no Brasil desde a lei de Bioética e hoje alguns temas polêmicos estão bem claros. Hoje concordamos com a preservação da fertilidade feminina por doença ou por conveniência, algo que muitos países ainda não aceitam. É possível também que casais homoafetivos ou mulheres sem companheiro possam conceber. Na França, por exemplo, não é possível uma mulher solteira recorrer a uma inseminação artificial ou mesmo adotar uma criança, uma vez que a lei determina que somente casais em união estável ou casados sejam candidatos a uma coisa ou outra. Assim, concordando ou não com a posição brasileira, podemos dizer que ela é, de fato, moderna e isenta de preconceitos.
Hoje também estabelecemos limites de idade e procuramos cada vez mais oferecer ao casal uma gestação com menor impacto possível sobre a saúde da mulher.  Isso passa por tratamentos com menos hormônios, transferência de menos embriões e limite de idade para os procedimentos. Imagine que há 10 anos, não existia limite para o número de embriões transferidos e que, em alguns centros, transferiam-se seis, sete, oito embriões de uma só vez! Hoje há consenso que é fundamental evitar gestações de múltiplos bebês, pois isso tem enorme impacto sobre gestação e risco perinatal. Basta dizer que o risco de trigêmeos serem prematuros é de quase 100%.
O mundo vem evoluindo e o Brasil também na questão reprodutiva. No entanto, existem dificuldades ainda muito importantes e que, aos olhos dos casais em tratamento, parecem quase intransponíveis. Uma dessas dificuldades se refere ao envelhecimento ovariano e à doação de óvulos para pacientes com baixa reserva ovariana. A doação de gametas – espermatozoides e óvulos – no Brasil deve ser anônima e gratuita. Funciona como uma doação de sangue: uma pessoa desprendida supostamente sem ser remunerada se apresenta e doa livremente seus gametas para alguém que não conhece. Ora, a doação de gametas envolve questões muito mais profundas do qualquer outro tecido, uma vez que tem o potencial de gerar um novo ser com o material genético do doador. Assim sendo, não há doadores por aí assim disponíveis, principalmente de óvulos. Existem bancos de espermatozoides, mas não de óvulos. Por isso, aqui no Brasil, há uma grande demanda por óvulos remanescentes de tratamentos cujas pacientes optaram pela doação.
Outra dificuldade está no preço e no acesso aos centros que realizam tratamentos de baixo custo. É inegável que os custos dos tratamentos de reprodução humana assistida vêm caindo ao longo dos anos e que o número de clínicas vem aumentando. Houve uma real popularização dos tratamentos de infertilidade e da informação a respeito das doenças ligadas à infertilidade conjugal. Entretanto, ainda recebemos no Ambulatório da UNAERP muitos casais sem diagnóstico, que circulam de médico em médico com tratamentos não adequados, que esperam nas filas dos pouquíssimos hospitais públicos que realizam fertilizações sem custo médico ou que simplesmente não entendem o porquê de o bebê não vir. Precisamos melhorar o acesso aos serviços de reprodução assistida, adequar os tratamentos e informar antes de tudo.

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