Por quê tanta dificuldade para engravidar?

Por quê tanta dificuldade para engravidar?

No ano passado, publiquei em outro veículo de comunicação um texto discutindo o porquê de tantos casais terem dificuldades para gerar um bebê. Foi uma explosão. Recebi cartas, e-mails, mensagens de todos os tipos. Até hoje sou inquerida a respeito do tema. Causa estranhamento às pessoas em geral o fato de algumas pessoas não desejarem a gestação e engravidarem “como num passe de mágica”, enquanto outras simplesmente não conseguem realizar o sonho, apesar de todos os tratamentos disponíveis.

É fato que existe esse disparate. É fato que a infertilidade na população mundial vem aumentando. Nós é que não sabemos por quê. Chega a ser engraçado pensar que a população mundial já ultrapassou os 7 bilhões de habitantes, mas ao mesmo tempo a taxa de infertilidade conjugal só faz crescer. Antes mesmo de me especializar em Reprodução Assistida, ainda como ginecologista geral, eu ouvia essa discussão com alguma frequência; agora cada vez mais.

É verdade que o estilo de vida do ser humano mudou e que agora planejamos gerar um filho mais tarde, talvez tarde demais. Mas o que aconteceu com a espécie humana? Ninguém sabe. Talvez sejam os bisfenóis os responsáveis – tem gente que baniu de vez o uso de plásticos de suas vidas -, ou talvez a poluição. Tem quem acredite ser o uso indiscriminado de hormônios pelo ser humano ou a administração deles aos animais cuja carne ingerimos – e mais uma vez vemos aqueles que se tornam vegetarianos ou que se mudam para colônias que primam pela paz e respeito aos animais e ao verde procurando uma alternativa para a loucura que virou viver na sociedade moderna.

A loucura é outro ponto importante. Ser uma mulher moderna hoje significa correr de um lado para o outro, atrasada o tempo todo, estressada até o último fio de cabelo. Na frente das escolas de nossos filhos, vemos o retrato do caos. Enquanto projetamos uma imagem de filhos bem educados e respeitadores, pagando para isso mensalidades caríssimas em escolas de elite, damos a eles um exemplo tétrico de mal-educação, parando em filas duplas ou na faixa de pedestre, buzinando e atrapalhando a passagem de outros cidadãos. A vida moderna gerou pessoas cada vez mais desequilibradas e estressadas. Esse desequilíbrio todo tem, em última análise, como resultado mulheres que não ovulam ou que desenvolvem doenças como a endometriose e homens com baixa produção de espermatozóides. É o preço que pagamos.

Alguém me disse uma vez que as taxas de mortalidade infantil, mas também de infertilidade conjugal podiam retratar precisamente uma população. Na época eu não acreditei. Hoje, porém, concordo com essa afirmação. Uma coisa é não querer ter filhos, outra bem diferente é não poder tê-los. Do que adianta a prosperidade financeira, se o casal não pode realizar seu maior projeto? Mais do que isso, a pressão sobre o casal durante o percurso de um tratamento de infertilidade é tamanha que muitas vezes vemos o fim da relação conjugal. É por isso que considero a infertilidade conjugal uma doença séria com conseqüências importantes do ponto de vista social – culminando em alguns casos com a desestruturação do binômio marido-mulher ou das relações familiares como um todo -, do ponto de vista econômico – já que os tratamentos ainda são caros -, e do ponto de vista psicológico. Tratar o casal com dificuldades procriativas torna-se um ato de amor no sentido em que se fundamenta no que há de mais importante para a sociedade: a construção da família. Mas para isso, precisamos repensar nossas escolhas, nosso estilo de vida.

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