Rejuvenescimento de Óvulos?

Rejuvenescimento de Óvulos?

     Recentemente foi divulgada nos meios de comunicação a informação da aprovação pelo Parlamento Britânico da técnica de transferência de citoplasma de óvulos. Vamos por partes. Os óvulos, como outras células, possuem um núcleo e um citoplasma onde estão contidas organelas com funções específicas. Dentre as organelas, a mais importante, no caso dos óvulos, é a mitocôndria que fornece a energia necessária para o desenvolvimento inicial do embrião logo após a fecundação.
Pois bem, as mitocôndrias possuem um DNA próprio, acreditem. Assim como o núcleo das células, porém sem a capacidade de transmitir as características dos pais. Em resumo: as células do corpo possuem núcleo com a carga genética de ambos os pais, os gametas – óvulos e espermatozoides – possuem apenas a metade desta carga genética, uma vez que vão se unir ao gameta do outro progenitor para gerar um novo ser e as mitocôndrias possuem material genético relacionado à sua atividade energética na célula.
     Apesar do DNA mitocondrial não possuir grande importância do ponto de vista genético, existem doenças relacionadas às suas mutações. A maioria delas é de doenças degenerativas graves e por isso sempre se questionou a possibilidade de “substituir” as mitocôndrias, digamos, doentes por outras saudáveis. Assim surgiu a transferência de citoplasma nas técnicas de Reprodução Assistida. Para casais com história familiar de doenças relacionadas a mutações do DNA mitocondrial, seria então possível retirar o núcleo do óvulo doente e transferir para outro saudável já sem o núcleo (neste caso um óvulo contendo apenas seu citoplasma) ou apenas retirar uma parte considerável do citoplasma do óvulo doente para receber o mesmo tanto de citoplasma saudável de uma doadora.
     A técnica é uma grande esperança para casais acometidos por doenças mitocondriais e foi para esse fim que o Parlamento Britânico aprovou sua utilização. No Brasil a técnica ainda não foi aprovada. Há, no entanto, a expectativa de que sigamos o exemplo da Inglaterra. Isso permitirá não só a realização de gestações saudáveis para casais com doenças mitocondriais, mas também abrirá um enorme precedente para a realização de experimentos para o rejuvenescimento de óvulos. Vou explicar.
     Os óvulos de pessoas com mais de 38 anos têm capacidade de gerar embriões aparentemente normais. Sabe-se que nem sempre esses embriões são saudáveis do ponto de vista genético, por isso, mulheres mais velhas têm maior risco de terem bebês com síndrome de Down e outras anomalias. Há também uma chance bastante menor de os embriões implantarem no útero e isso pode estar relacionado a problemas no DNA mitocondrial que é um dos principais responsáveis por esse processo. Com a possibilidade de se transferir citoplasma de doadora jovem será possível testar essa hipótese e quem sabe no futuro oferecer uma real possibilidade de gestação para mulheres mais velhas. Uma verdadeira revolução!

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