Resultados do Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida

Resultados do Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida

     Estivemos recentemente, eu, minha irmã Ana Cristina Bartmann, sócia e diretora administrativa do Centro de Reprodução da clínica ana bartmann e Victor Nascimento, nosso embriologista, no Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida, ocorrido entre os dia 05 e 08 de agosto em Búzios, Rio de Janeiro. Apresentamos um trabalho sobre o uso de uma ferramenta estatística (chamada curva roc) para avaliação de dados clínicos de pacientes que buscam tratamentos de infertilidade.

     O trabalho, no entanto, foi apenas um pretexto para a troca de experiências e aquisição de novos conhecimentos. Debatemos casos, recebemos sugestões de novos protocolos, conhecemos novos parceiros. A partir de agora, passamos a oferecer para nossas pacientes o screening pré-implantacional e o diagnóstico pré-implantacional, por exemplo. Desenvolvemos também método para o transporte de fragmento de ovário e outros tecidos que facilitará o acesso de pacientes com câncer à preservação da fertilidade.

     Vou explicar. No primeiro caso, podemos hoje oferecer aos casais a possibilidade de se realizar uma biópsia dos embriões provenientes da fertilização in vitro. No terceiro dia de cultivo e, em alguns casos, no quinto dia de cultivo, podemos retirar uma única célula do embrião que é então analisada. Essa análise pode ser cromossômica para afastar a possibilidade de doenças relacionadas à idade materna avançada por exemplo, tais como a síndrome de Down, ou gênica para afastar a presença de doenças familiares e alguns casos de câncer hereditário. Assim, é possível selecionar os embriões saudáveis e transferi-los para o útero da mãe, e desta forma, minimizar enormemente os riscos de um bebê doente. Trata-se de uma excelente maneira de se realizar a escolha dos embriões a serem transferidos, já que essa escolha precisa ser feita inexoravelmente. O problema que se impõe, no entanto, é o que fazer com os embriões com anomalias. Até o momento, o consenso é de que embriões “doentes” sejam mantidos congelados por tempo indeterminado.

     No segundo caso, temos um gargalo na questão da preservação da fertilidade de pacientes com câncer. Primeiramente porque não há a cultura de se pensar na preservação da fertilidade no momento de um diagnóstico de uma doença tão grave e potencialmente fatal como o câncer e isso faz com que muitas pacientes sequer cheguem ao serviço de Reprodução Assistida. Secundariamente existe a questão logística. As famílias são pegas de surpresa no momento do diagnóstico de câncer e estão, muitas vezes, despreparadas financeiramente para arcar com os custos dos processos da preservação dos gametas. Há também o medo do gasto frente à doença. “Será que não terei gastos com meu tratamento contra o câncer?” “O tratamento contra o câncer é minha prioridade, afinal, nem sei se estarei viva daqui a 5 anos.” Estas são frases que ouço com muita frequência quando, finalmente, uma paciente chega até nosso serviço com a intenção de preservar óvulos.

     É fundamental esclarecer alguns detalhes: fazer quimioterapia não quer dizer obrigatoriamente que a paciente ficará infértil. Dependendo do esquema de quimioterapia prescrito temos uma maior ou menor chance de infertilidade. Minha modesta opinião a respeito é que devemos tentar congelar gametas sempre ou, minimamente, fazer uso de protetores do ovário, ainda que a quimioterapia prescrita seja, digamos, leve.

     Em nosso serviço oferecemos uma preservação dupla: o congelamento de oócitos (com estimulação ou não, dependendo do caso) e o congelamento de fragmento de ovário. A novidade é que, em nossas últimas reuniões, estabelecemos um método para realizar a retirada do fragmento do ovário em qualquer hospital. Somos capazes de transportar o tecido até o Centro de Reprodução, onde ele será congelado e armazenado até que a paciente esteja apta a engravidar. No futuro, o tecido pode ser reimplantado e passar a produzir óvulos novamente. Se de qualquer jeito, o enxerto não “pegar”, temos também oócitos congelados que podem ser fertilizados. Trata-se de uma real chance de retomada de uma vida plena com filhos.

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