A dor é passageira?

A dor é passageira?

Machucar dói. Virar o pé dói. Cair da bike dói. Da mesma forma que sentir saudade de alguém muito especial que já partiu dói, um amor que se foi, da falta de um amigo ou irmão que mora longe, saber de algumas verdades ou até mesmo daquela época da faculdade que a gente tanto torcia para acabar logo também dói. São dores que fazem parte da vida da gente e que estão ali – seja qual for a idade, sexo ou classe social – e que em algum momento (notícia boa ou não) elas vão dar um sinal. 

Algumas destas dores insistem em permanecer seja qual for a fase da vida, porém de um jeito mais controlado, menos visível e ofensivo – e com o tempo, até com menos intensidade. Outras somem rapidinho, questão de dias ou horas. E essa  mesma relação de dor x saudade quem pratica algum tipo de esporte também sente.

Na corrida, por exemplo, a primeira vez, parece assustador: dói tudo e a vontade de parar é imensa. A impressão é que aqueles primeiros 10 minutos são eternos – segundos se transformam em horas, o coração parece que vai explodir e as dores – ah aí estão elas – começam a dar seu sinal de vida em toda a parte do corpo: pés, dedos, panturrilhas,  quadril,  ombros, pescoço e por aí vai. Cada pedacinho dói... É o corpo dando um sinal de que alguma coisa está fora do lugar. Em alguns casos sim e o importante é buscar a ajuda de um profissional para detectar qual o problema. Aqui, nesse caso, a melhor coisa é não forçar, evitando que problema se torne crônico e evolua para um quadro mais sério.

Porém, em outros, é somente aquela dor da passagem do ponto neutro para o ponto de tortura (isso na visão do seu cérebro que ainda não está acostumado aos estímulos que você está depositando no seu corpo). Funciona mais ou menos assim: seu corpo estava ali, sossegado, na inércia, paradinho, fazendo uma caminhadinha vez ou outra com um pouquinho de suor... Mas, de repente, de uma hora para a outra, ele teve que se movimentar e começar o trabalho em um ritmo frenético e alucinante. Normal. Tudo é questão de costume. Com o tempo, ele vai começar a reagir com esses estímulos ‘malucos’ e as dores, não que elas nunca mais vão desaparecer, mas de uma certa forma, serão menos sofridas e aprenderá a conviver com elas. Claro, desde que sejam dores musculares inofensivas – apenas decorrentes de estímulos mais fortes.

E voltando a saudade... Certamente não sentirá saudade do tempo que não corria e, consequentemente, não sentia dor. Dores são sempre assim: da mesma forma que elas aparecem, elas desaparecem e não deixam lembranças – sejam elas do coração, da alma ou do corpo. 

Exatamente como disse Rubem Alves, uma vez em um artigo seu publicado na Folha: “de que comparação vou me valer para explicar a dor a alguém que não a está sentindo? Só sabe o que é a dor aquele que a está sentindo, no presente. Enquanto a dor está doendo, meu corpo - não minha cabeça - sabe o que ela é. Passada a dor, ela fica na memória. Passa a morar no passado. Mas isso que está na memória não é conhecimento da dor porque o passado não dói. A memória da dor, por terrível que tenha sido, não me dá conhecimento da dor, depois que ela se foi".

Viu só... a dor é passageira e a lembrança dela também. Que bom!

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