FUI E GOSTEI || Bianca Mori pedalando em grande estilo

FUI E GOSTEI || Bianca Mori pedalando em grande estilo

Me bateu uma ideia dia desses em abrir uma editoria especial aqui no blog para os que viajam, competem ou simplesmente dão apoio aos que estão suando a camisa, para que possam mostrar um pouco a sensação em participar e vivenciar o esporte – amador ou profissional – na sua melhor forma. Fica aberto o espaço!  Inaugurado hoje a editoria: FUI E GOSTEI.  

E quem inaugura esse cantinho é minha amiga – “speedeira” – Bianca Mori, que participou neste mês do Granfondo de Ubatuba, uma prova de speed no litoral paulista. Confiram! 


Pedalando em grande estilo no Granfondo de Ubatuba 2012

Por Bianca Mori

Até o ano passado se alguém me falasse em fondo eu pensaria em um tipo de doce banhado em creme a base de glaçúcar: fondo de nozes pecan, torta de avelãs com creme fondo, bolo de pera com cobertura fondo e por aí vai. Hoje sei que o termo fondo é de origem italiana, utilizado para designar estilos de provas principalmente de ciclismo, como, por exemplo Granfondo, que significa grande distância ou grande resistência - em geral o percurso é de no mínimo 160 km, com muitas subidas. Assim, quando alguém fala em fondo, atualmente, Treinofondo, Mediofondo, Granfondo, eu automaticamente visualizo dezenas de ciclistas pedalando lindos trajetos em serras e vales, ao invés de imaginar um crepe de nutella regado ao molho fondo.

Entretanto, um Granfondo é muito mais do que um bando de ciclistas pedalando feito loucos para completar uma prova de alta resistência, como pude constatar nessa minha primeira incursão em uma competição desse porte. Além do prazer de pedalar, de ultrapassar limites físicos e psicológicos, é também uma espécie de reduto ciclístico onde atletas e “atretas” de diversas tribos compartilham uma mesma paixão: a bicicleta, popularmente conhecida como magrela, ciclisticamente chamada de bike, apelido carinhoso derivado do “gringolês” norte-americano. Sendo assim, pra quem gosta de antropologia, geografia e muvuca, é um prato cheio e suculento esse tal do Grandfondo, mesmo sem ser calda de glaçúcar. Pois muito bem, eis o relato de minha experiência nesse de Ubatuba:

Para começar, o percurso, apesar de árduo, foi lindo de tirar o fôlego. Um sedentário poderia pensar “mas coitado do pobre atleta, vai perder fôlego ao quadrado desse jeito!” Ledo engano de quem acha que pedalar numa estrada com as praias de águas azuis de Ubatuba como plano de fundo, ainda que sob um sol de fritar o coco, com subidas extenuantes, configura um sacrifício! A gente até vê as bruxas, mas elas até que são engraçadinhas surfando...

Apesar do rasgo no pneu da minha bike logo no km 20 do trajeto, que me impediu de terminar a prova, a frustração não durou mais do que os 5 minutos que esperei até montar na van do apoio. Logo à frente, uma colega estatelada no chão do acostamento, toda ralada, com o cotovelo esquerdo arrebentado... Paramos para acudir e a bravura da moça foi impressionante! Sem dar um pio, um gemido, uma lamúria sequer, ela nos disse pra continuar a corrida porque ela estava bem. Enquanto eu tive que fuzilar com um olhar o magarefe do fotógrafo que tentou clicar aquele momento de dor, fiquei arrasada por não ter a minha câmera em mãos para poder registrar o momento mágico em que o marido da atleta, antes dela entrar na ambulância, segurou sua mão com tamanha ternura que eu quase chorei de emoção feito um ridículo filme de pastelão.

Como não tinha nada mais útil pra fazer depois que a moça foi para o  hospital, fui tomar um sorvete e esperar o pessoal na linha de chegada. Câmera em mãos, sentidos a postos, coração disparado, chegou o campeão da prova, seguido pelo vice, assim, como se tivessem dado uma voltinha na ciclovia: incrível!!! 

Para clicar meus amigos, optei por me sentar numa calçada ali nos arredores, longe do aglomerado. Eita povo ajeitado esse do ciclismo! As fotos ficam até viçosas quando a gente olha na tela do computador; cheias de cores, brilhos, sorrisos e endorfinas! De repente, um par de pernas masculinas desfilando diante dos meus olhos, toda a anatomia dos membros inferiores! Que quadríceps perfeito, minha nossa!!! Bem que quase pedi permissão para clicar aquela escultura, mas, por incrível que pareça, fiquei “vexada”, como dizem lá no nordeste. Azar meu e de todo mundo, quero dizer, de toda mulherada que não vislumbrou o atleta estilo “ô lá em casa” do campeonato, fazer o que, kkkkk?!?! 

Logo a galera de Ribeirão Preto começou a chegar... Uns no meio de pelotões, torcendo o cabo, outros em dupla, alguns sozinhos. As expressões faciais eram das mais diversas possíveis, mas todas traduziam, de alguma forma, a satisfação de missão cumprida, de superação e de vitória pessoal. Isso minhas lentes registraram, como vocês podem ver aqui! 



Após ingestão de muito líquido, frutas e barrinhas, cessadas as eventuais cãibras, arrefecido o cansaço, foi a hora das brincadeiras, das risadas e da premiação. Todo mundo ainda com uniforme de ciclista, exceto o campeão de uma das categorias, nosso colega de Ribeirão Preto, por sinal, Eder Di Giuseppe: vestia uma bermuda e chinelas havaianas, mais para surfista que para ciclista. Todo irreverente, subiu ao local mais alto do pódio. Posteriormente descobrimos que essa vitória foi mais que especial - resultado de muita garra e dedicação pessoal, com ajuda de amigos. Nada de patrocínio, como é bastante comum em nosso Brasil, em que só o futebol é valorizado. 




Menção honrosa aqui à minha amiga, Marisa Castelfranchi que, com sua bike de MTB apelidada de bigorna pelos seus 15 kg, completou os 106 km de prova do Mediofondo. Sim, porque pedalar no asfalto com uma speed de 7 kg é para os fracos! Essa sim foi a verdadeira campeã da prova aos meus olhos!

Faltou eu, que acabei apenas registrando a galera de Ribeirão Preto e saí em uma das fotos de chinelas havaianas, mas ao lado de meus amigos e de minha magrela tão querida, sempre em alto estilo. Afinal, sempre achei mesmo que ser ciclista em alto estilo fosse uma espécie de pleonasmo! Ehehehe



Quem se interessar por mais fotos e detalhes dessa linda e apaixonante prova de ciclismo de estrada pode acessar o site https://fpciclismo.org.br

Lá tem o Eder Di Giuseppe no pódio. Uma figura! 

Foto: Bianca Mori
 

 

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