Toda ressaca passa..

Toda ressaca passa..

Passada a ressaca pós-maratona de abril (abro ali embaixo um parênteses explicando mais sobre o assunto), começa novamente a temporada de treinos. No último final de semana uma prova de corrida de aventura, simplesmente deliciosa, foi realizada em Claraval (MG), organizada pelos amigos Tiago Morgan e Edson Vital Júnior. A primeira edição do Circuito Acahdre Dual Adventure 2014.


Explicando os parênteses ali de cima, há quase um mês, enfrentei uma decisão difícil para quem sabe o que é treinar para uma maratona. Por algum motivo especial - um dia quem sabe a gente descobre (ou não) – me vi em uma única situação: desistir da minha primeira maratona, que seria em Paris. Durante cinco meses treinei o que tinha que ser feito, segui planilhas, orientações de meu treinador – Elenilton Rangel. Abdiquei de várias coisas, dormi muito cedo, treinei com sol e chuva. Ruim? De forma alguma! Fui para a viagem com o coração aberto e as pernas trêmulas. Um dia antes da prova, tive uma indisposição muito forte, seguida por intensas náuseas e êmeses (explico: vômitos!). Resultado: fraqueza intensa, desidratação, desânimo e a única solução foi abandonar e não correr. 

Claro que no after day deu uma baixa pessoal, seguida de uma sensação de fracasso, mas nada que o lindo e romântico visual de Paris pudessem rapidamente fazer com que a sensação de “nadar, nadar e morrer na praia” fosse deixado de lado, ou então, apagado momentaneamente da memória. O paraíso pode estar perdido, mas ainda é doce. Mesmo com a sensação do “falhar”, a alegria sempre pisca à nossa volta. Os passarinhos continuam cantando, o dia segue e a gente sempre dá um jeito de saltar da bolha que a gente mesmo cria. A presença e o cuidado de gente querida ao lado contribuíram muito. Isso sem falar nas palavras de mensagem de consolo de quem acompanhou de perto a tentativa. Enfim, o domingo da maratona foi um dia bem cinza, quase um luto. Uma tristeza em vários estágios que logo foi se condensado após fechar os olhos, respirar fundo e tocar em frente. Talvez, a mania em ver as coisas um pouco mais coloridas faz com que a vida seja, às vezes, bem menos dura e densa (tá bom vai, não dá para a vida ser tão densa estando em Paris!). 

A maratona não aconteceu, contudo coisas interessantes aconteceram neste meio do caminho: lugares, novas cores, sabores, sensações e muitos outros sentimentos. Algumas resoluções e novas definições. Novas descobertas e, principalmente, a certeza de que não estamos à frente de nada. Não sabemos nunca como será o dia seguinte, mesmo com tantas programações. A certeza nunca vai existir. O fato nunca é concreto. Ele é um quase... E quase é aquilo que a gente nunca sabe como vai ser. E é essa a conexão: o aprendizado em cada situação que a gente passa. A experiência faz com que enxergamos a vida com outros filtros, mesmo sabendo que em algum dia a dor e o afago podem sim se esbarrar novamente. 

Enfim, funciona mais ou menos assim: como um resfriado bem forte, daqueles que te derruba: a gente não quer. Mas quando ele vem, torce para passar logo. E passa. Como tantas outras coisas da vida. Li um dia um texto de um publicitário (André Gomes) e achei incrível: “Chega desse mal estar das esperas inúteis, longas esperas das coisas pequenas. Basta de criar ferrugem nas juntas e bolor no cérebro. Vamos em frente”.

Confesso que a sensação foi como uma água de correnteza de chuva de verão... que arrasta tudo. Porém, foi um treinamento bem profundo, passar por cima de sensações esquisitas. Levantar a cabeça e voltar ao ponto zero. Demorei para escrever... mas precisava desfazer esse “nó” social comigo mesmo. A ressaca pós-maratona passou. O nó foi dissolvido. Novas provas estão chegando e uma nova maratona logo logo surgirá. Pode ser aqui neste continente ou em outro, talvez. Quem sabe? O que eu sei nisso tudo é que evolui. Evolui como atleta amadora, como pessoa, como mulher... A mudança de rotina e dedicação me transformaram. Conheci gente nova e gente antiga. Gente especial. Aceitei situações e compreendi. Me frustrei, mas subi um degrau. Ganhei até a simpatia do "maldito" despertador às 6h da manhã em pleno sábado. Novas experiências são sempre bem vindas.  O truque é ter o bom senso e fazer sempre a escolha certa.

E voltando ao enredo deste texto: de volta às provas de aventura! Um sábado com gente querida e animada. Muita terra, subida, mata-burro, morro, sol... E claro, perrengue. Elemento principal das corridas de aventura. E, é principalmente neste tipo de prova, que faz parte o falhar e o errar, pois um simples erro de navegação te joga do primeiro lugar ao último - sem dó. E é assim a vida. Desistir, às vezes, é sábio. Mas perder a coragem e a vontade não. Porque a vida segue e novas oportunidades aparecem! E como disse um amigo: “não deu? F... e daí?” 


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