Ultramaratona: “foi surreal”

Ultramaratona: “foi surreal”

 

Tem gente que corre 5 km. Tem gente que corre 10 km. Tem gente que treina para meia maratona e completa feliz da vida os 21 km. Tem a turma também que pega pesado nos treinos para completar uma maratona e marcar no curriculum esportivo os 42,195 km. E essa turma aí, independente da distância, é chamada de louca em muitos casos. Louca porque acorda e dorme cedo para correr. Louca porque adora aquele suor escorrendo, aquele cansaço delicioso e aquela sensação de quero mais. Louca por vive correndo atrás de adrenalina, endorfina ou qualquer outra coisa que faça ter, no mínimo, um pouco de disciplina e foco.

Mas, tem também a turma dos “ultraloucos”, aqueles que encaram um desafio ainda maior: passar alguns dias correndo. Sim, alguns dias e sem espanto! Correr cravadamente 235 km. Loucos? Talvez sim, mas ávidos por adrenalina, emoção e a sensação do “eu consegui essa proeza”. Foi o que aconteceu com o atleta de Araxá, Vitor Rage, que completou no final do mês de junho a prova Ultramaratona dos Anjos Internacional, realizada em Passa Quatro (MG). Ele percorreu 235 km, na categoria solo hard, pela Serra da Mantiqueira, pelas áreas rurais das cidades mineiras de Passa Quatro, Itamonte, Alagoa, Aiuruoca, Caxambu e São Lourenço, totalizando 55 horas e a 8ª colocação na prova. 

Provas longas já eram especialidades de Rage que já havia completado uma prova de 104 km em 12 horas em pista plana. “Ter concluído uma prova de tal grau de dificuldade e distância, sendo essa minha quinta ultra, foi algo surreal para mim”, mostra ele, que sempre procurou grandes desafios e aventuras. Para encarar um tipo de prova assim, os treinos costumam ser mais difíceis ainda e inclui, além da corrida, bike e musculação. A planilha de trilhas semanal incluía quatro dias corridas - divididas em um treino de tiro em subida, um treino de 15 km no plano em intensidade alta, um treino de 12 km de montanha em intensidade alta, um treino longo entre 30 e 50 km em intensidade moderada, além dos dois treinos de mountain bike e dois treinos de musculação. 

Segundo o atleta, a maior dificuldade na prova, foi tolerar a imensa dor causada pelas inúmeras bolhas desde o primeiro dia de prova. “Elas causaram inflamação dos dois pés e me deixou com a sensação de estar pisando sobre navalhas”. Foram quase duas semanas de recuperação das imensas bolhas que ganhou. Além do cansaço físico e do trabalho constante com o emocional, Vitor ainda teve que contar com alguns imprevistos. Um deles foi quando se perdeu do carro de apoio, o que acaba sendo normal neste tipo de prova. “Já estava na segunda noite de prova e fazia muito frio. Fiquei sem água, comida e meus pés doíam demais. Depois de vagar por um bom tempo, encontrei o atleta Renato Márcio e sua equipe de apoio, que me ajudou com tudo que faltava, principalmente força moral para continuar”. Em outro momento, dessa vez, correndo na companhia do outro apoio (Léo Guerra), mais dificuldades no trajeto. "Varamos uma noite gelada e deliravamos de sono até chegar no último posto de controle na manhã seguinte", recorda.

Neste tipo de prova é extremamente necessário o apoio de outras pessoas durante o percurso ou em alguns pontos. São eles que colaboram com a logística, hidratação, cronometragem, alimentação, cuidados com o corpo do atleta, massagem e, claro, o apoio psicológico e equilíbrio emocional – que neste momento conta muito. “Sou eternamente grato ao Leo Guerra e a Cynthya Verzellesi, pois sem eles eu não teria conseguido realizar o sonho de completar esta Ultramaratona”.

A Ultramaratona Internacional dos Anjos é também conhecida como Desafio dos Anjos. Contou neste ano com 35 atletas solo, duas duplas e quatro quartetos nos 235 km. Vitor Rage ainda não está inscrito em outra prova, mas pretende realizar, em breve, outras provas de trail running como a Transcanaria (125 km) e Ultra Trail du Mont Blanc (160 km).

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