Aceitar o incerto

Aceitar o incerto

Individuais ou coletivos, os acontecimentos inesperados mexem com a vida de todos. Talvez esses dois formatos estejam presentes nos tempos atuais, na maioria das casas dos brasileiros. Vivemos, juntos, um momento tormentoso com a pandemia de Covid-19 e cada um de nós enfrenta consequências pessoais de tudo isso.

Pode ser um parente infectado ou que perdeu a vida para a doença. Pode ser uma família distanciada para evitar a propagação do vírus. Pode ser o desemprego ou a falta de dinheiro. Pode ser uma empresa fechando ou a depressão.

Fato é que todos nós estamos sujeitos ao inesperado, que causa surpresa e que, portanto, nos tira de um lugar confortável onde estaríamos acomodados na pasmaceira de uma vida sem tantas emoções. E não há como emoções serem sempre positivas quando somos surpreendidos: algumas delas vão ferir e deixar marcas de angústia ou tristeza, mas todas elas, sem dúvidas, trarão algum movimento que nos faça refletir.

Encontrei algumas colocações do sociólogo e filósofo francês Edgar Morin que explicitam esse pensamento. "O acontecimento inesperado provoca surpresa. A surpresa, se não a anestesiamos, o que é mais frequente, nos obriga a nos reinterrogar, a reexaminar nossa concepção, a reconhecer as revelações que o acontecimento traz, que eram invisíveis antes de sua emergência, a encarar a novidade que, eventualmente, ele poderia introduzir".

Acredito que esse seja um momento pelo qual todos estamos passando: enfrentar um acontecimento que nos provocou surpresa e, para muitos, foi o estopim de mudanças drásticas de vida, sejam voluntárias ou imperativas.

O filósofo complementa: "É preciso estar aberto para o incerto, para o inesperado. É preciso ser sensível ao fraco, ao acontecimento que nos surpreende. É preciso estar pronto para repensar incansavelmente ao estado do mundo".

Não é fácil estar aberto ao incerto quando ele nos preocupa, desagrada, prejudica. No entanto, viver é sinônimo de encarar e não resistir às transformações. É sinônimo de experimentar sentimentos, sofrer com perdas e aceitar mudanças.

Viver é receber o incerto e relacionar-se com ele.

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