A arte do encontro

A arte do encontro

É do genial Vinicius de Moraes que vem uma de minhas frases favoritas. No Samba da Bênção, ele diz: “a vida, amigo, é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Tão verdadeiro quanto belo é reconhecer que nossa trajetória é feita de altos e baixos junto daqueles com quem convivemos diariamente.

Diferente do contexto da música, reflito sobre a frase no mundo corporativo: com quantas pessoas nos relacionamos no mundo profissional e com quantos colegas trabalhamos ao longo da vida? Com quantos deles temos felizes encontros ou apenas convivemos por força do hábito e da necessidade? Com quantos outros temos desavenças, contratempos e discordamos de posições?

É certo que, quando estamos na condução de um processo, temos autonomia para escolher uma equipe e formar um grupo de colaboradores, mas não é fácil estabelecer uma conexão real com todos que estão envolvidos na iniciativa.

Nos últimos dias, reparei que as frases sobre a formação de boas equipes estão em todos os lugares e os ensinamentos estão em diversos livros. Na teoria, parece simples empreender e dar andamento a um projeto que envolva diversas pessoas em torno de um objetivo em comum. Na prática, no entanto, é realmente complicado empreender no país — seja pelas condições externas, como a instabilidade econômica e política, seja pelas condições internas do negócio, como a própria logística empresarial.

Tenho a impressão de que uma das partes mais complicadas é buscar a sobrevivência da empresa no cenário instável e, junto a essa luta cotidiana, manter os profissionais comprometidos com o projeto. Pode parecer simples, mas é difícil montar um grupo coeso que esteja alinhado às perspectivas e aos objetivos da empresa.

Cada vez mais, percebo que aquilo que se diz sobre ter um propósito na vida e deixar uma marca naquilo que se faz não está muito conectado à realidade e se distancia do mundo real. Na prática do dia a dia, noto que fomos moldados na lei da vantagem e das facilidades, burlando o que há de obstáculo pelo caminho, sem se preocupar com o contexto.

Talvez pela dificuldade histórica de o Brasil se impor como economia em desenvolvimento e de nós, brasileiros, nos colocarmos como profissionais que buscam avançar na qualidade, encontramos barreiras para a identificação com projetos aos quais fazemos parte. Passamos a acreditar que é um “ganha pão” e que aquela atividade é suficiente para subsistência. E só. Para poucos existe um significado mais amplo na vida que, de fato, represente todo aquele esforço e que dê prazer de se sentir ligado ao projeto a que se faz parte.

Talvez por tudo isso eu acredite que Vinicius disse acertadamente que a vida é a arte do encontro. Encontrar pessoas com quem valha a pena estar e compartilhar ideias, planos e objetivos não é das tarefas mais fáceis. E essa tal arte do encontro pode fazer toda a diferença dentro daquilo que nos propomos a fazer: é trocando experiências e devaneios com quem se envolve que nos retroalimentamos de esperança e, claro, envolvimento.

Aqui, recorro a outro genial escritor brasileiro, Guimarães Rosa, que já cantou a bola sobre essas tais convivências, em qualquer que seja o contexto: “é junto dos ‘bão’ que a gente fica ‘mió’”. 

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