A arte que nos conecta

A arte que nos conecta

Eu sempre gostei muito de estudar. Se tivesse mais tempo, faria mais uns três cursos de graduação. Quando resolvi cursar a Pós em História da Arte na FAAP, meu objetivo era entender um pouco mais sobre o mundo das artes. Como sempre fui muito pragmática e por muitas vezes não via muita beleza em algumas formas de expressão da cultura, resolvi aprender mais a fundo para ter referências e uma melhor compreensão sobre o que é a arte.

Depois de algum tempo e estudos, descobri que a beleza da arte mora dentro de nós. Você não precisa ser um entendido nos movimentos artísticos da história da humanidade para sentir e ver beleza em quadros ou esculturas que para alguns podem ter um significado e para você podem não dizer absolutamente nada.

Depois de certo tempo, comecei a observar que as obras que mais me chamavam atenção eram aquelas que de alguma maneira retratavam alguma injustiça social. Logo vi que gostava da arte engajada e, quanto mais ia aprendendo sobre as muitas vertentes, comecei a entender que não era só o engajamento que tinha significado para mim: comecei a perceber o porquê de não podermos passar impunemente por todos aqueles artistas do movimento impressionista. Como não gostar do Monet, do Renoir? Como não se compadecer da angústia de um Van Gogh e de outros de tantas outras escolas?

O meu trabalho de conclusão do curso foi sobre a obra e a vida do pintor francês Gustav Courbert. Ele foi um realista. Um anarquista. Tem uma frase dele que é emblemática: “Não posso pintar nenhum anjo, pois nunca vi nenhum”. Este era o espírito que dominava aquele que foi considerado o criador do Realismo. O artista acreditava que o romantismo era uma fuga da realidade.

Há muitas obras dele de que gosto muito, mais existe uma, em particular, que aprecio bastante e que foi destruída na Segunda Guerra Mundial: Homens quebrando pedras. A obra de 1849 possui várias características realistas, como o uso suave das cores e a luz parcial. O objetivo dele era retratar pessoas normais de classe baixa e, mais importante, tentar manter a pintura mais próxima do real possível, distanciando-se da arte idealista, cheia de grandezas e nobres. As figuras estão vestidas de maneira simples e até um pouco desleixadas, em ambientes simplórios como o campo, munidos de ferramentas típicas do trabalho braçal.
 
No caso deste quadro, o pintor viu os dois homens trabalhando em uma estrada e pediu para que eles posassem para ele em seu estúdio, onde os pintou em tamanho natural. A percepção que se tem no quadro é de que são dois homens que não mostram o rosto, mas remetem a um jovem e um homem mais velho, mostrando a temática do trabalho manual, do trabalho pesado, do ciclo da vida. A cor de terra salta aos olhos trazendo a sensação de calor. Juntando tais características ao esforço dos homens para realizar o trabalho, a sensação que fica é de extremo cansaço, de falta de fôlego. Por não mostrar o rosto dos personagens, o que se vê é uma classe social, e não necessariamente o indivíduo. O sujeito pouco interessa — as pessoas dessa classe são anônimos numa multidão. Courbet disse que pintou este quadro porque ficou comovido pela miséria. 

Outra obra marcante foi a “Origem do mundo”, um quadro pequeno de 46 x 55 cm, encomendada por um milionário turco. A pintura ficava em seu banheiro suntuoso, numa mansão em Paris, oculta por uma cortina e era mostrada apenas a amigos próximos. Era uma visão confidencial de algo absolutamente proibido. O quadro mais tarde foi adquirido pelo psicanalista Jacques Lacan e depois foi doado pela família para o Musée D’Orsay.

Esta obra até hoje cria desconforto e embaraços em quem a vê: o quadro mostra uma imagem crua, de um órgão sexual feminino, mas não um sexo feminino que sugere o recato e, sim, propositadamente escancarado, desavergonhado e oferecido, sem um rosto. Naquela época, o nu artístico era velado, mostrado de forma modesta ou sugestiva. A pintura foi a primeira do gênero na arte em pleno século XIX.

Entre tantas expressões ao redor do mundo, enfim, para que servem as obras de arte? Talvez para nos reconciliar com a beleza, o equilíbrio, a harmonia e acredito que para ficar mais perto de Deus. 

Compartilhar: