Até tu, Brutus?

Até tu, Brutus?

Uma das maiores dificuldades no mundo moderno tem sido encontrar o consenso sobre qualquer assunto. As polêmicas nas redes sociais estão aí para ilustrar o quanto é difícil estabelecer uma conversa pacífica quando o assunto é polêmico. E não há como negar que um dos temas que mais tem gerado discórdia é a política.

Tive uma experiência no serviço público entre 2013 e 2015. Assumi o comando de algumas secretarias municipais e pude perceber a dificuldade em se obter uma linha de raciocínio constante, com a convergência de opiniões — dentro e fora da administração pública. Primeiro, é preciso vencer a etapa do consenso entre a equipe de trabalho e, depois, entre os cidadãos, mesmo que, claro, nunca exista unanimidade.

O que temos visto neste governo federal é uma absoluta dificuldade em garantir a coesão entre a equipe, especialmente quando se vê a absurda influência de familiares em algo de tamanha proporção, que são as políticas nacionais e internacionais.

Não raro os filhos de Jair Bolsonaro dão opiniões efusivas acerca de qualquer assunto e são grandes responsáveis por atitudes do pai, como a contratação ou exoneração de agentes públicos. Além disso, o próprio presidente tem dito expressões que mais incendeiam do que apaziguam a opinião pública — o que, tenho convicção, não é o melhor para o país neste momento. 

Fazer política, devemos saber, não é das ações mais simples desta vida. Todas as situações em que milhares, ou milhões, de pessoas estão envolvidas requerem cuidado, afinal estão ali incontáveis opiniões distintas que precisam ser respeitadas dentro de uma democracia. No entanto, é difícil estabelecer a confiança com um grupo para dar andamento a tudo o que precisa ser debatido e realizado. Historicamente, desconfia-se, inclusive, dos mais próximos.

O imperador Julio Cesar, de Roma, foi vítima de uma conspiração de senadores para tirá-lo do cargo. Entre os políticos estava Marcus Brutus, sobrinho de Julio Cesar — mas, há quem diga, seu filho. O conluio resultou no assassinato do imperador a punhaladas. Na hora da morte, Julio Cesar teria reconhecido o suposto filho, proferindo a famosa frase: “até tu, Brutus?”.

A história nos conta sobre a dificuldade em lidar com a política. Eu, no entanto, sempre acreditei no diálogo e na honestidade como peças fundamentais para se estabelecer uma relação produtiva, ainda que digam que a corrupção está enraizada no país.

Para fazer política é necessário entender os momentos e os contextos em que vivemos. É preciso buscar a paz nos discursos e não insistir em colocar lenha nessa fogueira de vaidades. Estar na política é, fundamentalmente, posicionar os interesses públicos acima dos próprios, esquecendo as pequenas vantagens a que tanto fomos acostumados, culturalmente, a cortejar. 

Costumamos “esquecer” (assim, com aspas) que são as próprias pessoas as responsáveis pela condução de qualquer sistema que se estabeleça no país. Insistimos em colocar a culpa no tal sistema. Continuamos a furar filas, avançar no sinal fechado e a não devolver o troco que tenha vindo em excesso. Continuamos a fomentar os discursos de ódio e usar as redes sociais para detratar ao invés de buscar soluções propositivas.

Fazer política é mais do que subir em palanques — ou tuitar, como tem sido praxe do atual presidente. Política se constrói com ações e na busca por consensos, não com discursos de ódio ou aversão às opiniões que diferem das nossas. 

Compartilhar: